quarta-feira, 2 de março de 2016

PF contesta acusações de prefeito de Montes sobre Operação Desiderato - Órgão refuta envolvimento de gestores de hospitais em desvios de dinheiro. Ruy Muniz não apresentou provas que comprovem acusações.

Delegados fizeram declarações na sede da Polícia Federal em Montes Claros (Foto: Juliana Gorayeb/ G1)Delegados fizeram declarações na sede da Polícia Federal em Montes Claros (Foto: Juliana Gorayeb/ G1)

A Polícia Federal de Montes Claros rebateu as acusações feitas pelo prefeito Ruy Muniz de que gestores dos hospitais da cidade estariam envolvidos nos desvios de dinheiro da Máfia das Órteses e Próteses. Em uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (2), os delegados, Marcelo Freitas e Thiago Rezende, apresentaram documentos que demonstraram falta de provas contra os gestores, que levaram ao arquivamento do processo em janeiro deste ano. O inquérito foi aberto em julho de 2015.


Os delegados sugeriram que Ruy Muniz seja acusado de denunciação caluniosa, e que a Procuradoria Regional da República faça análise do caso. “O prefeito, por várias vezes, denunciou os gestores dos hospitais de Montes Claros por envolvimento na Desiderato, nos jornais da cidade. Em contrapartida, não apresentou nada que realmente comprove as acusações”, questiona o delegado Marcelo.



A PF garante que o município, bem como a pessoa do prefeito, tiveram oportunidades de apresentar provas das acusações feitas pelo próprio Ruy, mas que nada foi feito. “O inquérito 136/2015 foi aberto para que fossem analisadas as denúncias do prefeito. Requisitamos que o município entregasse provas. Foi entregue um documento de quase 500 laudas, sem nada de concreto. O prefeito também foi intimado em novembro de 2015. Ele foi ouvido, mas não apontou provas do envolvimento dos gestores nos desvios de dinheiro”, explica o delegado Thiago Rezende, responsável pelo caso.



Marcelo Freitas garante que as investigações sobre a Desiderato objetivam melhorar o cenário da saúde no país. “Queremos que se tornem conhecidos os preços de vendas das órteses e próteses e como este valor é repassado aos pacientes. A atuação da Máfia das Órteses e Próteses no Brasil gera um prejuízo de aproximadamente R$ 10 bilhões por ano”, denuncia.



Um pedido de cooperação jurídica internacional foi feito aos Estados Unidos pela PF, já que a maioria das empresas que distribuem órteses e próteses no Brasil é americana. O órgão aguarda a chegada dos documentos. “Precisamos fazer com que os preços destes produtos médicos em território nacional diminuam, que os desvios não aconteçam ou decresçam, de modo a fazer com que sobrem mais recursos na saúde para atendimento de mais pessoas”, afirma o delegado Marcelo.



O chefe da PF de Montes Claros ainda garantiu que os hospitais foram vítimas de quadrilhas criminosas, e que as investigações não vão ser interrompidas, apesar das acusações do prefeito. “Nós vamos continuar agindo, doa a quem doer. A PF é um órgão sério, republicano, e não vai se envolver em rixas políticas, sejam elas de qualquer ordem. A disputa entre o hospital do prefeito e os demais existentes na cidade não pode atrapalhar as investigações”, conclui.

Em nota, a assessoria do prefeito Ruy Muniz afirmou que em função da entrevista concedida pelo delegado da Polícia Federal Marcelo Freitas, concederá nesta quinta-feira (3) entrevista coletiva para tratar do assunto.
Sobre a Operação
A operação Desiderato tem o objetivo de desarticular uma organização criminosa que desviava verbas do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela foi realizada em MG, SC, SP e RJ. O prejuízo aos cofres públicos chega a R$ 5 milhões. Foram expedidos pela Justiça 72 mandados, sendo que oito eram de prisão. De acordo com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, por meio de laudos médicos falsos, produtos pagos pelo SUS, como stents - próteses implantadas em artérias entupidas - eram desviados por cardiologistas para que fossem utilizados nas clínicas particulares deles. Além disto, os profissionais de saúde beneficiavam empresas fornecedoras de materiais hospitalares e recebiam propina em troca.

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