sábado, 12 de agosto de 2017

Ex-prefeito Arruda é detido pela quarta vez desde que deixou a Prefeitura de Januária, em dezembro de 2012

ASCENSÃO E QUEDA DA 'FÊNIX' JANUARENSE

NO 12 AGOSTO 2017.

 Lembranças dos dias festivos: Arruda foi paparicado por políticos quando estava no auge. Nessas imagens, de mãos dadas com o ex-deputado Jairo Ataíde e durante evento com o ex-governador Antonio Anastasia

[ATUALIZADO] - O ex-prefeito de Januária Maurílio Arruda (2009/2012) enfrentou esta semana mais uma descida ao inferno de Dante que o acompanha desde que deixou o cargo. Arruda foi preso pela quarta vez. Ele estava em Montes Claros e foi detido após comparecer a uma audiência no Ministério Público Federal para prestar depoimento em um dos mais de 20 processos a que responde – todos remanescentes da sua passagem pela Prefeitura de Januária. Desta vez,  a prisão do ex-prefeito foi motivada por mandado de prisão preventiva que havia contra si expedido pela Comarca de Januária.
Advogado de certo renome no Direito administrativo, em carreira duramente construída, diga-se de passagem, Arruda surgiu na cena política regional como se fora um cometa de Harley nas eleições municipais de 2008 em Januária. De candidato azarão, elegeu-se com certa facilidade naquela disputa, a primeira em que se utilizou o recurso da propaganda eleitoral no rádio e televisão em plano local.
Arruda foi do apogeu ao descrédito político total no curto prazo de um mandato. Paparicado por políticos de expressão regional e no âmbito estadual enquanto esteve na cadeira de prefeito de Januária, ele sonhava grande. Pretendia se reeleger para um segundo mandato e alçar novos voos, o mais imediato deles deveria ter sido uma vaga na Assembleia Legislativa mineira. Foi abatido na arremetida por uma série de denúncias e pelas dificuldades administrativas na gestão do município de Januária -- onde uma série de crises financeiras e políticas havia defenestrado outros quatro mandatários antes dele.

Perdeu a reeleição para o petista Manoel Jorge e, desde então, migrou para as manchetes policiais sob a acusação de improbidade administrativa, por supostos desvios de recursos públicos enquanto esteve no cargo. Em uma das conversas que mantive com o ex-prefeito pouco antes da sua entrada extemporânea nas eleições municipais de Januária no ano passado, ele se comparou a uma fênix, a mitológica ave que renasce das cinzas. Na ocasião, Arruda parecia bastante animado com o andamento processual das ações a que responde na Justiça e com as chances de uma retomada no campo da advocacia. 

O ex-prefeito foi detido pela primeira vez em setembro 2013, por 48 horas, durante a operação 'Esopo', que investigava suposto esquema de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em processos licitatórios em prefeituras do Norte de Minas. Foi sua primeira prisão, embora ele tenha alegado que fora levado para depor coercitivamente na condição de testemunha – o que, na sua avaliação, não configuraria tecnicamente uma detenção.

Maurílio Arruda voltaria a ser preso temporariamente em junho de 2014, em sua residência, em Montes Claros, durante a operação ‘Exterminadores do Futuro’ deflagrada pela Polícia Federal e o Ministério Público de Minas Gerais. Arruda era investigado por, supostamente, ter autorizado pagamentos fraudulentos à AF Construtora, em contratos destinados à construção de escolas no interior do município.

Fuga espetacular da viatura da PF

O caso mais ruidoso em que o ex-prefeito Arruda se envolveu, contudo, aconteceu em setembro do ano passado. Ele entrou na disputa pela Prefeitura de Januária e participava da campanha, apesar dos muitos processos a que responde, quando foi preso novamente pela Polícia Federal durante operação ‘Rua da Amargura’, acusado de participar de esquema que supostamente havia desviado mais de R$ 1 milhão em obras de pavimentação e drenagem de ruas de Januária.

Preso em Januária, o político fugiu da viatura da Polícia quando era escoltado por agentes federais, sem algemas, para o presídio regional de Montes Claros. Em ato desesperado, Arruda abriu a porta da viatura durante uma parada em um semáforo no centro antigo de Montes Claros. O ex-prefeito saiu correndo pelas ruas até pegar carona com um motoqueiro e desaparecer. Desde então, ele tem sido monitorado pela Polícia Federal.

A vida do advogado Maurílio Arruda virou de ponta cabeça depois que entrou para a política. Ele atribui parte das dificuldades que enfrenta ao fato de ter derrotado às dinastias políticas que existiam em Januária até sua ascensão ao poder. Faz referência ao ex-prefeito João Lima e ao ex-deputado Cleuber Carneiro, que dominaram a política local por pelo menos quatro décadas, mas é preciso relativizar o poder persecutório da dupla. Os dois políticos já tinham conhecido seus respectivos outonos na política quando Arruda surgiu.

Arruda também guarda uma grande mágoa do agora advogado e autodeclarado jornalista investigativo Fábio Oliva, a quem passa o recibo de ser a origem de parte das acusações a que responde. O ex-prefeito parece ter entrado no radar da Polícia Federal quando foi pego numa gravação com o empresário Fabrício Viana de Aquino, que seria preso tempos depois numa investigação por lavagem de dinheiro. O jornalista Oliva deu, na ocasião, ainda no início do governo Arruda, grande repercussão ao fato.

As agruras enfrentadas por Maurílio Arruda fizeram sumir os amigos dos tempos de bonanças e consta que até mesmo o seu casamento chegou ao fim. Ele tem dois filhos e contou ao site que o momento mais crítico da sua vida foi ter sido preso pelos federais na frente das crianças. Apesar dos reveses, Arruda tentava se reerguer, com a continuidade do doutorado na Espanha e na redação de um livro de memórias, até ter a péssima ideia de disputar novamente a Prefeitura de Januária no ano passado -- o que parece tê-lo alçado de volta às antenas da Polícia Federal.

Ele recebeu 5,5 mil votos e ficou em honroso terceiro lugar na disputa, mesmo após o episódio da fuga do carro da Polícia Federal. Arruda se considerava uma fênix, a ave que renasce das cinzas. Esteve perto disso, mas se deixou trair pelo perigoso vício da vaidade. De modo irônico a não mais poder, foi novamente detido na operação com o sugestivo nome de rua da amargura.  


http://www.luisclaudioguedes.com.br/index.php/245-destaques/4970-policia-federal-volta-a-prender-arruda

Nenhum comentário:

Postar um comentário