domingo, 5 de agosto de 2018

Brasil lidera ranking de transtorno de ansiedade e depressão. Mulheres são maioria


Brasil lidera ranking de transtorno de ansiedade e depressão. Mulheres são maioria
Cansaço, tristeza, falta de ar e vontade de ficar somente em casa. A princípio, esses parecem ser apenas sinais de que um determinado dia não foi bom. Porém, quando eles se tornam frequentes, é preciso ficar de olho, pois podem indicar a ocorrência de problemas psicológicos como Ansiedade e Depressão. De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão será até 2020, o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo. No Brasil, cerca de 5,8% da população tem a doença, o que faz do país o campeão de casos na América Latina. Dentre os sintomas mais básicos estão a tristeza sem relação com a vida pessoal, culpabilização, perda de energia, alteração do sono e do apetite, entre outros.
Essa foi a realidade enfrentada por uma jovem de 16 anos. A adolescente, diagnosticada com ansiedade e depressão, conta que descobriu o transtorno durante a volta às aulas no ano de 2015. “Quando me trocaram de turno, acabei desenvolvendo uma fobia de abandono. Eu caía em desespero e chorava incansávelmente antes de me arrumar para a escola. Até hoje sinto isso quando penso em algo relacionado ao futuro e a novos cursos”, diz. Atualmente, o seu quadro melhorou e para ajudar, a estudante faz um calendário semanal para contar o tempo que falta para os recessos escolares.
Aos 33 anos, a jornalista Solange* também convive com as duas condições. “Nos momentos de crise, sinto fadiga, dor nas costas, tristeza, falta de ar, dor no peito, falta de vontade de sair da cama e apetite aumentado”, afirma. Devido aos problemas, ela já chegou até mesmo a perder um emprego, após três meses de contratada. “Achava que todos na empresa estavam contra mim e que nada do que eu fazia dava certo. Daí, fui passando a não saber administrar isso, e acabei demitida, lamenta.
Ainda segundo a OMS, mulheres jovens, grávidas ou em período pós-parto e idosas representam a parcela que mais sofre com a doença, na qual o índice de incidência chega a ser 150% maior do que entre homens. A comunidade científica não possui uma explicação concreta para o fenômeno, mas alguns membros possuem teorias baseadas no convívio com pacientes.
A psiquiatra Miriam Elza Gorender é uma delas. Membro da diretoria da Associação Psiquiátrica da Bahia, a médica confirma o dado e acredita que pessoas com algum tipo de dificuldade estão mais suscetíveis ao problema. “Pessoas desempregadas ou que passaram por algum evento estressante são os maiores pacientes”, conta.
Ansiedade, o mal do século e do Brasil
A ansiedade, considerada por especialistas o mal do século também vêm ganhando espaço entre os transtornos mais sentidos pelo brasileiro. Um levantamento realizado no ano de 2018 pela OMS constatou que o Brasil está no topo, com 9,3% da população manifestando o quadro. Assim como a depressão, foi visto que o sexo feminino é o que mais sente as consequências com 7,7% sendo ansiosas e 5,1%. Nos homens, a porcentagem cai para 3,6% em ambos os casos.
A disfunção engloba outras, como ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e estresse pós-traumático, porém, como explica Miriam, ela não é considerada uma patologia. “A ansiedade até certo nível, é algo normal da natureza humana. Mas quando ela começa a paralisar a pessoa, precisa ser analisada. Porém, a ansiedade é um sintoma para outros transtornos, e não a doença em si”, diz.
Gisele* é uma das brasileiras que fazem parte da estatística. Com 23 anos, a estudante de administração descobriu há seis meses que a sua ansiedade não era normal ao ler na internet. “Eu sentia com muita frequência palpitações, nervosismo, tremedeira nas pálpebras, pensamentos negativos, e tentava antecipar meu futuro, esquecendo do presente. Como isso me incomodava muito, resolvi procurar em páginas de psicologia e a partir das suspeitas, fui diagnosticada com sintomas exagerados de ansiedade por um psicólogo”, conta.
Por causa da ansiedade Gisele diz que já chegou bem perto de perder amizades e de se prejudicar na faculdade. “Eu sentia uma angústia muito grande e acabava descontando a raiva em outras pessoas. Na faculdade, eu não conseguia se concentrar nas aulas devido à pressa, e sentia muita falta de ar”, completa.
A psicóloga e coordenadora do serviço de psicologia da faculdade FTC, Laiz Cardozo, reforça que alguns sinais podem indicar a ocorrência de uma ansiedade exacerbada. “Muita agitação, agonia, irritabilidade, perda da concentração, sudorese, taquicardia, e medo de multidões e de ambientes públicos devem ser observados clinicamente, se acontecerem repetidamente”, diz.
Tratamentos alternativos
Para driblar os sintomas, Gisele, aposta em diversas atividades terapêuticas. “Faço leituras de terapias, tento controlar a minha respiração, e tento um método de hipnose para distrair a mente e não pensar em coisas negativas. Além disso, pretendo fazer homeopatia”, conta. O mesmo acontece com Solange, que pratica esportes como jumping e caminhada todos os dias para aliviar a tensão.
Sobre os tratamentos alternativos, Laiz explica que não existe uma contra-indicação e que atualmente, algumas formas, a exemplo da acupuntura, já estão sendo inclusive reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como práticas integrativas. “Acredito que o paciente tenha autonomia para escolher aquilo que ele se sente melhor fazendo, desde que esses outros tratamentos não venham a interferir nas alternativas oferecidas pelo psicólogo e psiquiatra. Mas isso também depende muito de cada caso”, pondera.
Laiz também aponta que em casos mais graves, o psicólogo e o psiquiatra devem ser consultados, pois devem trabalhar juntos. “Na depressão, deve ser feito um tratamento psiquiátrico com medicações para estabilizar o humor, e é ideal que também se faça paralelamente a psicoterapia (prática de terapia feita por um psicólogo clínico). Em casos mais leves, a psicoterapia sozinha já consegue reduzir bastante os incômodos”, afirma.
Condição essencial para o tratamento, a aceitação dos problemas por parte da família e dos amigos, é ainda um aspecto que precisa ser melhorado. Na maioria dos casos, as pessoas costumam encarar a depressão ou ansiedade como condições que não existem. “Acham que a minha ansiedade é besteira, grosseria, frescura ou até mesmo falta do que fazer”, relata Gisele. Já a adolescente afirma que é compreendida em partes. “Eles até compreendem, mas duvidam, acham que é exagero e que se eu me esforçasse não sentiria isso” fala.
Miriam afirma que o preconceito atrapalha o tratamento do paciente, principalmente em casos de depressão. “Muita gente ainda acha que depressão é frescura, preguiça ou falta de Deus, e isso prejudica muito quem está doente. A depressão não é uma questão emocional. Ela é uma doença física. Um adoecimento do cérebro e do corpo com alterações do apetite, do sono, e que precisa ser tratada com muita importância, pois através dos pensamentos de morte ou suicídio que causa, pode levar a pessoa à morte. Nesses quadros, além do tratamento médico, o apoio social é muito importante”, finaliza. (ATarde)

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