Minha experiência como “Anjo da Enfermagem”
Por Isadora Santana Fernandes
Acadêmica de Enfermagem do CEULP/ULBRA
Participar dos anjos da enfermagem foi uma escola da vida pra mim. Um ano muito emocionante, onde eu aprendi que o amor é capaz de curar. No início, ao nos explicar a nossa função como anjo, o coordenador tentava nos mostrar a grandeza do projeto, mas deixava claro que só saberíamos vivendo esse momento.
Nas primeiras visitas eu tive bastante dificuldade em me apresentar para as crianças. Muitas vezes a emoção falava mais alto e eu não conseguia permanecer por muito tempo no local. Com o passar dos dias fui me habituando às várias situações difíceis com que eu me deparava.
Cada dia uma surpresa, uma demonstração de carinho, o esforço ao se levantar da cama só para nos dar um abraço, a gratidão nos olhos daquelas mães e a satisfação de arrancar sorrisos e proporcionar um minuto que seja de diversão.
A publicação da imagem foi autorizada pelos familiares cfe. a resolução CNE num. 196/96.
Para nós, “adultos”, é muito difícil lidar com o câncer. É revoltante pensar que teremos que abrir mão de tudo o que nos faz sentir útil, mas é muito mais doloroso ver uma criança que teve sua infância boicotada por uma doença que ela não compreende. Toda criança tem direito de viver sua infância. Nós estávamos ali para mostrá-las que aquele tratamento apesar de “chato” era necessário, eque com força de vontade poderia se tornar um momento alegre também.
Um dia quando visitávamos a UTI, conhecemos um garoto de 13 anos que estava ali há alguns dias aguardando uma transferência. Ele tinha um carinho excepcional conosco, falava com muita dificuldade pelo fato de estar intubado. Nesse dia ele fez um esforço e conversou conosco, disse que a fé dele o fazia ter certeza que tudo isso era passageiro e que ele venceria essa batalha, pois o problema dele era muito pequeno diante de sua fé. Então com muito esforço cantou um hino de sua igreja que ele escutava sempre que tinha dúvidas de sua melhora. Tomadas por uma forte emoção terminamos nossa apresentação, fizemo-lo sorrir um pouco e fomos embora. Foi aí que entendemos a nossa função.
É incrível a sensação de vestir aquela fantasia, colocar a maquiagem. É como se outra pessoa surgisse. A timidez dá espaço para uma alegria contagiante, capaz de arrancar sorrisos de quem há muito tempo não sorria.
Foi um ano de alegrias, boas notícias, mas também de despedidas dolorosas. Conheci “pessoinhas” que já nascem lutando pela vida, e mesmo com tão pouca idade nos ensinavam que nada faz sentido se não existir vontade de vencer.
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