sexta-feira, 11 de julho de 2014

Senador quer criar a CPI da Copa para investigar suspeitas de corrupção - Antes do Mundial, 27 assinaturas de senadores já haviam sido coletadas para a criação da comissão parlamentar de inquérito

Reformas ou construções das arenas são alvos da possível CPI


A derrota fragorosa da Seleção Brasileira diante da Alemanha na terça-feira ressuscitou o discurso da necessidade de criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar denúncias de corrupção no futebol brasileiro e nas obras da Copa do Mundo. O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) promete retomar a coleta de assinaturas na próxima segunda-feira e pretende ampliar o escopo das investigações para o esquema irregular de venda de ingressos para o Mundial.

Randolfe disse que, antes do início do torneio, as 27 assinaturas foram coletadas, mas que, por uma ação de senadores ligados ao mundo do futebol, alguns parlamentares recuaram, e a comissão não foi instalada. “Não há como não retomarmos essa investigação. Precisamos destrinchar a corrupção tanto na CBF quanto nas federações estaduais”, completou o senador.


O parlamentar defende que o colegiado seja composto apenas por senadores, já que apenas um terço das vagas da Casa estará em disputa nas eleições de outubro. “Dois terços dos senadores estarão em Brasília e poderão conduzir as investigações. Os deputados estarão preocupados com a própria reeleição”, justificou.

O parlamentar não vê dificuldades para que a CPI possa acompanhar as denúncias de venda de ingressos por cambistas, mesmo que o esquema esteja sendo conduzido por uma empresa, a Match, credenciada à Fifa (leia mais no Superesportes). “O Senado brasileiro pode, sim, investigar esse caso, pois a ação dos cambistas e da empresa aconteceu no Brasil”, completou.

Presidente da CPI do Futebol que funcionou no Senado no fim da década de 1990, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) acredita que não faltam motivos para a criação da comissão. “Tivemos uma Copa superfaturada, com estádios milionários erguidos com dinheiro público e assentos que custavam três vezes mais do que os comprados para as copas da Alemanha e da África do Sul”, comparou.


Iano Andrade/CB/D.A Press

O senador tucano, contudo, só discorda do momento para o pedido dessa CPI. “Estamos em plena campanha eleitoral. A CPI da Petrobras, que já está instalada, não consegue ter quórum para funcionar”, reclama. “Esperemos a virada do ano, a posse do novo Congresso, quem sabe de um novo governo, para investigar essa Copa do Mundo. Não creio que esse assunto esteja ultrapassado ou envelhecido até lá”, sugeriu. Ele, entretanto, discorda da tese de que as últimas CPIs sobre futebol não deram resultado. “Na do Senado houve o pedido de indiciamento de sete cartolas e inspirou a criação do Estatuto do Torcedor”, disse.

Outro que se manifestou, por intermédio das redes sociais, foi o deputado Romário (PSB-RJ). Ele lembrou que, em 2012, defendeu a instalação de uma CPI da CBF na Câmara para investigar o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. “O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília”, criticou. Romário afirmou estar há quatro anos “pregando no deserto” sobre os problemas envolvendo a CBF. “(José Maria) Marin e (Marco Polo) Del Nero deveriam estar na cadeia. Bando de vagabundos”, atacou Romário, referindo-se aos cartolas da confederação.

Histórico de suspeitas

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já foi investigada por suspeita de desvio de recursos e ingerência sobre resultados de jogos por parte de uma empresa esportiva. Entre 2000 e 2001, a Câmara instaurou a CPI da Nike; e o Senado, a CPI do Futebol. As investigações apuraram contradições no balancete de dezembro de 1995 — que fechou R$ 2,8 milhões positivos —, empréstimos e patrocínios concedidos pela CBF, que alegava estar em péssima situação financeira no período analisado. Também estiveram em pauta as doações para campanhas políticas, proibidas por lei para pessoas jurídicas sem fins lucrativos, antes da transformação da CBF para entidade com fins lucrativos, em 1998.

À época, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, declarou que não havia interferência da Nike nem da confederação na escalação ou na programação dos jogos amistosos da Seleção Brasileira. A afirmação era uma resposta às declarações de Wanderley Luxemburgo e de Zagallo. Os ex-técnicos da Seleção disseram que, sob ordens do cartola, houve interferências no trabalho deles. O presidente da comissão era o então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

O colegiado da Câmara acabou sem relatório final. Já o do Senado terminou com a aprovação de sugestões de mudanças na legislação e indiciamentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário