Durante um curso de criação de aplicativos, uma estudante de pedagogia do Rio de Janeiro se inspirou na própria história para desenvolver um serviço de ajuda a mulheres em situação de violência doméstica. Depois de ser vítima de ameaças e pressão psicológica de um homem, e de chegar a sair de casa com uma faca escondida na bolsa para se proteger, Isabela Souza, de 19 anos, desenhou o app Mulheres Unidas, que neste sábado (12) concorre com outros 30 projetos em um concurso do Comitê para a Democraticação da Informática (CDI). As três melhores ideias ganharão smartphones e a oportunidade de tirar o aplicativo do papel.
"A ideia central do app é criar um passo a passo do que fazer quando a mulher precisar de ajuda", explicou Isabela, em entrevista ao G1. "A quem recorrer primeiro, o que fazer lá, quais são os procedimentos, quanto tempo dura... Coloquei informações de todos os órgãos responsáveis, todos os projetos, tudo o que existe mesmo."
No início do ano, a jovem desenhou o projeto como parte do curso "Primeiros passos para o desenvolvimento de aplicativos", realizado pelo projeto Recode, do CDI, em parceria com o Centro de Integração Empresa Escola (Ciee), no Rio.
O curso é direcionado a jovens de 14 a 29 anos e estimula os alunos a desenvolverem a tecnologia aplicada ao cotidiano de cada um. Em abril, na formatura, a ideia de Isabela oi selecionada entre todas de sua turma para participar da final do projeto Recode, neste sábado.
O fim do medo
Na época em que fez o curso, o cotidiano de Isabela passava por uma transição: do medo para a atitude. Depois de se envolver com um homem que a submeteu a situações de ameaça e violência psicológica, e de chegar a perder amigos quando buscou ajuda e não quiseram acreditar nela, a jovem descobriu o Projeto Violeta, um serviço do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que auxilia mulheres em situação de violência, e que, em 2014, venceu o Prêmio Innovare na categoria Juiz.
"Eu pedi ajuda a uma amiga, ao namorado dela, que eram meus amigos mais próximos, e eles recusaram. Foi bem difícil, então tive que me virar sozinha. Foi muito triste, muito difícil."
Com a ajuda do projeto do TJ-RJ, em março, Isabela entrou na Justiça com um processo contra seu agressor. A primeira audiência aconteceu no fim de novembro.
Aplicativo Mulheres Unidas, de Isabela Souza, concorre na final do concurso do CDI neste sábado, no Rio (Foto: Reprodução/Mulheres Unidas)
Trabalho em equipe
Neste sábado, a jovem apresenta sua ideia ao lado dos dois parceiros do curso do Ciee, que embarcaram no projeto e estão desenvolvendo o aplicativo com ela. O trio desenvolveu uma série de serviços durante o ano para o aplicativo, como a possibilidade de as usuárias conversarem entre si, deixarem depoimentos e indicadores de satisfação dos serviços de apoio às vítimas e receberem conselhos de psicólogos.
Segundo o CDI, a final consiste em uma rodada de apresentações em que os candidatos tentam vender suas ideias aos jurados. Mas a estudante já decidiu que, se não vencer o concurso, vai continuar seguindo em frente com o trabalho, e buscando uma forma de lançar o aplicativo ao público.
"Esse projeto se tornou mais importante não por mim, mas pelas histórias que ouvi quando estava no Tribunal de Justiça, pelas coisas que eu ouvi. Queria levar isso adiante para aquilo se tornar menos frequente. Quero atingir as classes mais baixas, quero abranger todo mundo, desde cima até embaixo", explicou ela.
G1
DELEGADOS.com.br
Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados
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