ATÉ QUANDO, CATILINA? Ó TEMPO, Ó COSTUMES...
NO 15 DEZEMBRO 2015.
### Operação joga PMDB no centro da Lava-Jato. Dois ministros do partido estão entre os investigados
A Polícia Federal realiza na manhã desta terça-feira (15), em Brasília e Rio de Janeiro, mandados de busca e apreensão nas residências do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A operação, que recebeu o sugestivo nome de 'Catilinárias', numa referência ao embate entre o senador romano Marcus Tulius Cicero contra o colega Lucius Sergius Catilina, foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. Informações preliminares dão conta que não há ordem de prisão contra nenhuma das pessoas envolvidas.
A notícia da ação contra Eduardo Cunha movimenta o mundo político aqui em Brasília e no Rio de Janeiro. Jornalistas foram chamados às pressas para cobrir a Operação Catilinárias, que tem ainda como alvos o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE), o ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB-MA) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, também investigados pelo Ministério Público Federal.
A operação fere de morte o PMDB, as também sobra para o governo Dilma Rousseff: dois ministros do partido também estão entre os investigados. Os ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), ambos da cota do PMDB. A todo, são 53 mandados de busca e apreensão em seis estados e aqui no Distrito Federal. A Polícia Federal está neste momento (nove da manhã) no gabinete do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
A busca na residência de Cunha foi autorizada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ainda ontem publiquei aqui o texto "Quem vai deter Eduardo Cunha?" em que apontava a possibilidade do bote do STF sobre o deputado Eduardo Cunha. O objetivo da operação é coletar provas nos inquéritos que apuram se o presidente da Câmara cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
As Catilinárias são uma série de quatro discursos célebres em que o advogado Cícero profere contra Catinila na disputa pelo cargo de cônsul romano, pronunciados em 63 a.C. Mais de dois mil anos depois, as sentenças acusatórias de Cícero contra Catilina, declaradas em pleno senado romano, repercutem em todo o mundo e parecem terem sido feitas à perfeição para o atual momento da vida política brasileira.
Acusado de corrupção e abuso das prerrogativas do cargo para se livrar da investigação do Conselho de Ética, o presidente da Câmara dos Deputados deu início ao pedido de impeachment conta a presidente Dilma Rousseff. Com base no seu profundo conhecimento dos meandros regimentais da Câmara, Eduardo Cunha tem feito o diabo no Conselho de Ética, onde deputados foram aos tapas na semana passada e o relator foi destituído em manobras conduzidas pela tropa de choque do deputado.
Confira a abertura do discurso, bem atual, de Cícero no senado romano:
'Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!'
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