Milhares de foliões participara do bloco que conquistou os montes-clarenses e promete animar a folia em 2017
Por Girleno Alencar - Gazeta
O bloco “Rapariga do Bonfim” arrastou e levou ao delírio centenas de foliões pelas ruas de Montes Claros, sábado à tarde, mesmo debaixo de forte calor e entusiasmou os participantes pelas perspectivas de uma nova luz na folia local. Criado por professores e universitários, o bloco saiu da praça Wanderley Fagundes, no bairro Todos Santos para terminar o desfile na praça Doutor Chaves, da Matriz, em grande arrastão e se transformando na maior novidade carnavalesca dos últimos anos. O que mais agradou os foliões foi seu repertório variado, cantado pelo músico Flávio Ribeiro sobre um pequeno trio elétrico. Formado por basicamente jovens, inclusive com muitas mulheres bonitas, o bloco promete repetir o desfile em 2017, dessa vez nos cinco dias da folia.
A música carro chefe do bloco foi ‘Rapariga do Bonfim’, de autoria do músico Elthomar Santoro e um dos hits musicais montes-clarenses, gravada por cantores como Sidney Magal. A origem do bloco tem um aspecto curioso: um grupo de amigos estava batendo papo e salientaram que não viajariam no Carnaval, ficando em Montes Claros e que a cidade tinha poucos atrativos carnavalescos. Tomaram a decisão de formarem um bloco para desfilar um dia do Carnaval. Decidiram ainda que prestariam homenagem a Elthomar Santoro, falecido em 2014. A ideia foi encorpando, principalmente junto a acadêmicos.
A professora de Filosofia, Alice Parrela explica que a ideia de procurarem se divertir veio agregada ao esforço de reacender o Carnaval de rua de Montes Claros e ainda fortalecer a cultura. O grupo formado por 30 pessoas veio se propagando através de conversas e redes sociais e na hora do desfile, tinha mais de 200 foliões. Alice sempre residiu em Belo Horizonte, onde acompanhou o processo de revigoramento do carnaval de rua e acredita que será possível adotar o mesmo procedimento em Montes Claros, a partir do bloco Rapariga do Bonfim.
As acadêmicas de Direito Ruth Felix, Mariana Evangelista e Lilian Calazans foram curtir o bloco Rapariga do Bonfim por falta de opções. Nos anos anteriores, curtiram a folia em Diamantina. Impactadas pela crise financeira, ficaram impedidas de ir a folia diamantinense. Gostaram da folia e não se arrependem. Mariana ainda tomou uma atitude forte: deixou o namorador curtir o carnaval em Belo Horizonte. Ruth tem os familiares residentes em Januária, que realizou um dos carnavais mais concorridos do Norte de Minas, mas ela preferiu ficar em Montes Claros.
A juíza Cibele Lopes trocou a toga pela folia. Ela afirma que foi convidada por amigas e foi ao bloco e está entusiasmada pela qualidade da folia e da organização e acredita que a história do Carnaval de Montes Claros mudou a partir do sábado de folia, pois ela conta que o projeto veio para ficar. A deputada federal Raquel Muniz também fez questão de desfilar no bloco. O bloco demonstrou as sua característica suprapartidária, pois o vereador Eduardo Madureira, do PT e um dos principais membros da oposição, também estava na folia, junto com José Geraldo Kojak, Antônio Durães Tatá e outros correligionários.
Paraibano vê potencialidade no carnaval de MOC
O antropólogo e músico paraibano Ninno Amorim desfilou pelo bloco “Rapariga do Bonfim” e ficou entusiasmado, pois entende que Montes Claros tem grande potencial carnavalesco a ser explorado, inclusive como atrativo cultural e turístico e faz o desafio para uma mobilização em torno dessa iniciativa. Ele veio fazer uma pesquisa cientifica sobre a produção de cachaça, tendo chegado há 10 dias e por força das circunstâncias, teve de deixar os seus blocos de João Pessoa, “Doido é Doido”, “Raparigas de Chico” e “Nilo do Contorno” para aderir ao projeto do bloco Raparigas do Bonfim em Montes Claros. Foi para a percussão, fantasiado de mulher e acredita que em 2017 estará na cidade mais uma vez.
Nascido em Recife, onde sempre desfilou pelo bloco do Galo, Ninno foi trabalhar em João Pessoa, onde afirma que além do tradicional forro em junho, que dura um mês, também existe tradição carnavalesca com os blocos caricatos. No pouco tempo que está em Montes Claros, compôs uma música de resposta a Elthomar Santoro, onde a prostituta citada mostra por qual motivo vive nessa vida, na expectativa de virar sucesso. Ninno espera que em 2017 o bloco Rapariga do Bonfim se expanda e saia nos quatro dias da folia, arrastando os foliões montes-clarenses e visitantes.
O janaubense Mário César estuda em Montes Claros e ficou na cidade sem qualquer esperança, quando foi surpreendido pelo sucesso do bloco Rapariga do Bonfim. A estudante Ana Flávia lamenta que poucas pessoas tenham sido comunicadas sobre o bloco. Todos os anos ela sempre curte a folia em Diamantina, mas decidiu ficar em Montes Claros e quando tomou conhecimento de que um bloco desfilaria na praça da Matriz, foi conhece-lo e ficou entusiasmada pela qualidade. Ela afirma que quer participar no ano que vem como uma foliã ativa.
Bloco Damorada mesclou batuque com marchinhas
A bandinha arrastou os foliões
No bairro Morada do Parque, o bloco “Damorada” levou alegria para os foliões que foram até a praça da Amizade. Conciliou o batuque da bateria do antigo Bloco Saci com as marchinhas carnavalescas tocada pela bandinha. Na sexta-feira, o Carnaval do bairro teve de se superar: um blecaute deixou toda zona Sul da cidade sem luz e mesmo assim, a bandinha tocou as marchinhas, com os foliões se divertindo iluminados por celulares. A folia sempre inicia às 20 horas e termina aos trinta minutos do dia seguinte. A presidente da Associação dos Moradores do Morada do Parque, Eleonor Santos afirma que continua o esforço para o resgate da cultura.
O organizador do bloco, Josecé Alves dos Santos explica que na sexta-feira, quando a luz caiu, teve consciência de que precisava seguir adiante e por isso mandou a bandinha tocar as marchinhas. Ele afirma que o resultado foi excelente. No sábado, a folia foi aberta pela bateria do Saci, que durante vários anos animou os montes-clarenses e depois junto com as marchinhas. Foi sucesso total e arrastou muitos foliões. Entusiasmado com o sucesso crescente, Josecé faz um desafio do bloco Damorada se transformar um dos maiores de Minas Gerais.
Nesse ano a folia foi mais organizada, com a montagem de tendas que serviram de passarela de samba; estrutura metálica isolando a área e ainda banheiros químicos para atender aos foliões, além de carro de som de maior potencia. A Polícia Militar deslocou equipe para o local e não teve nenhum registro de problemas. A banda de marchinha foi contratada por R$ 2 mil para tocar os cinco dias e fez a diferença, arrastando os foliões.
O professor universitário Roney Sindeaux, que reside no bairro, explica que a folia tem uma característica especial: todos podem reunir a família, pois o clima é de amizade e tranquilidade. A médica Mara Narciso faz questão de participar todos os dias da folia no Morada do Parque por considera-la uma folia de qualidade. Cristiane Souza Aquino veio curtir a folia com o filho Yan e ficou satisfeita, pois gosta do estilo carnavelesco de marchinhas, além de tranquilidade para quem desejar paz. O funcionário público Paulo Neves e sua esposa Clarice participam a quatro anos seguidos da folia no Morada do Parque e acha sensacional. Na sua visão, Montes Claros deveria estimular esse tipo de folia, em bairros.
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