quinta-feira, 3 de março de 2016

Com mais de 20 prisões este ano, polícia diminui poder da Katiara; veja quem são os líderes da facção

03/03/2016 15:01 
As notícias que chegam à Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) não são animadoras para um dos mais importantes chefes do tráfico do estado. De dentro da cela, a 2.570 km da Bahia, o império de Adilson Souza Lima, o Roceirinho, desmorona. Pelo menos é o que dizem as polícias Civil e Federal em relação à facção Katiara, com atuação nos bairros de Valéria e Águas Claras, em Salvador, além da região do Recôncavo, berço da organização criminosa. Desde janeiro, foram mais de 20 presos — semana passada, foi a vez de um dos gerentes da facção e responsável por comandar execuções em Valéria, e outro integrante cuja função era cuidar da contabilidade do bando na área. O discurso policial é embasado em uma série de medidas de enfrentamento. “Um conjunto de ações, como a prisão do líder e o sequestro dos bens dele, além de prisões de gerentes e mortes de outros cabeças, vem enfraquecendo o grupo criminoso”, afirmou o delegado Alexandre Narita, do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil.Roceirinho foi preso em setembro de 2012, junto com o assaltante de banco Vilmar Florêncio da Silva, em um hotel de luxo em Ondina, com R$ 168 mil em espécie. Após a prisão, a Justiça determinou o sequestro dos bens do traficante, estimado em mais de R$ 2,5 milhões — entre eles, uma casa de luxo em Barra do Jacuípe, apartamentos em Lauro de Freitas e em Aracaju, uma fazenda e vários veículos. Todos os bens estavam em nome de laranjas, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Aluguel de armas
O tráfico não é a única fonte de renda da Katiara. A facção vem alugando armas para quadrilhas especializadas em roubo a banco. “Nos interrogatórios dos assaltantes de banco, eles disseram que alugaram fuzis e outras armas de grosso calibre de Roceirinho”, citou Narita.
Investigando o bando há três anos, a Polícia Federal descobriu que os bandidos pegavam e devolviam as armas aos traficantes de Valéria. Além do aluguel, a facção leva 1% do montante do roubo. No entanto, conforme a PF, ultimamente o líder da Katiara tem gastado boa parte do dinheiro para pagar advogados para ele e comparsas presos.
Mas apesar das baixas, os principais domínios da Katiara (em Valéria, Águas Claras e no Recôncavo) seguem em alerta e com um “exército” armado em caso de ataques de grupos rivais, como Caveira e CP.
Valéria
Mesmo preso, Roceirinho ainda exerce forte influência aqui fora. Ele conta com a lealdade de seu exército, organizado cada um sob comando de um gerente. Porém, as ações policiais recentes têm levado ao xadrez os demais cabeças da Katiara.
O mais recente que está atrás das grades é Elisberto Pereira de Souza, o Rasta. Através dele, a Polícia Civil chegou à conclusão de que, dos 17 homicídios atribuídos à facção em um ano, em Valéria, sete foram cometidos por Rasta. Responsável pelo armazenamento de drogas e armas, ele foi preso por PMs com Elton da Silva Pereira, o Zeca, responsável pela contabilidade, no dia 22, com 70 kg de maconha.
Rasta tornou-se gerente após a morte de Rodrigo Ferreira dos Santos, o Mamano, de quem era discípulo. Mamano foi morto em dezembro de 2014 e, na ocasião, bandidos levaram o terror a Valéria, com ônibus queimados e toques de recolher. A polícia agora procura Robson Luís, o Robin, que também atuava na gerência em Valéria e possui três mandados de prisão em aberto por tráfico.
“ Acredito que está havendo uma parada porque eles agem com comando, é uma característica da quadrilha”, avaliou a delegada Patrícia Brito, do DHPP, responsável pela área de Valéria. O CORREIO esteve no bairro e ouviu moradores que concordam que as ações do tráfico diminuíram.
“Antes era tiroteio direto. Agora, as coisas acalmaram”, disse um comerciante. “Não vemos mais aqueles confrontos na rua, por enquanto. Vamos ver até quando”, comentou uma auxiliar de enfermagem.
Recôncavo
O domínio de Roceirinho, no entanto, vai além da capital. As ramificações da facção liderada por ele estão em Ribeira do Pombal, Euclides da Cunha, Maragogipe, Nazaré das Farinhas e Amargosa.
Parte da quadrilha, no entanto, está presa — entre elas, peças importantes como Hugo Péricles Ribeiro de Santana, braço-direito de Roceirinho, preso em sua casa em Aracaju, no dia 28 de janeiro. Hugo era o gerente dos pontos de venda da facção em Pombal e Euclides. Com ele, foram encontrados 80 kg de maconha e R$ 30 mil.
Ainda este ano, Ivonilson Santana Nascimento foi preso no dia 5 de janeiro em Santo Antônio de Jesus. Ele responde por homicídio, tráfico, roubos e é apontado como responsável pela onda de terror em Maragogipe em dezembro.
Amando dele, integrantes chegaram atirando na área dominada pelo Bonde do Maluco, ligado à Caveira, facção rival. a cidade viveu um dia de terror — o tiroteio se estendeu na zona rural. Já em 16 de fevereiro, Adeilson de Oliveira Santos, 19, conhecido como Bad, foi preso em Amargosa. Segundo a polícia, ele era responsável pela execução de traficantes rivais na região.
Já em Nazaré, berço da facção, Alan Santos Fonseca, o Junior Pial, gerente do tráfico da cidade, foi preso no dia 20 de dezembro de 2014, em Valéria. Ele e Fernando de Jesus Lima foram flagrados armados a bordo de um veículo, no Retiro. À dupla é atribuída a ordem para ataques aos ônibus em Valéria, depois que um comparsa teria sido morto numa troca de tiros com policiais. “Agora, estamos à procura de Zé Colmeia, que assumiu a gerência em Nazaré”, diz Narita, do Draco.
Grupo tem estatuto com regras inspiradas em cartilha do PCC
Seguindo os moldes de outras organizações criminosas do país, com quem mantém laços estreitos, como o PCC (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, e a A.D.A (Amigos dos Amigos), do Rio de Janeiro, a Katiara criou seu estatuto.
A lista de regras parecia apenas mais um boato de WhatsApp, até que no último dia 13 de julho, homens da 3ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Cajazeiras) fizeram incursão em uma localidade de Cajazeiras e prenderam Leandro Santos Moreira. (Correio)

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