sábado, 2 de abril de 2016

Correios sucateado - Cidade reage à privatização dos Correios

Correios sucateado

Cidade reage à privatização dos Correios

A proposta do Governo Federal, de privatizar os Correios repercute em Montes Claros, que inicia mobilização com o propósito de se posicionar contra a iniciativa. A questão foi discutida em reunião especial da Comissão de Segurança e Direitos Humanos da Câmara Municipal, nessa quarta-feira pela manhã, em que se sugeriu que seja levada à Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte e à Câmara dos Deputados, em Brasília, para tentar barrá-la. A intenção é de deflagrar um movimento nacional contra a privatização. Isto porque, o fato tem refletido na prestação de serviços à população. Além disso, os funcionários da instituição estão sofrendo prejuízos de toda ordem. Eles aproveitaram a reunião para externar a insatisfação com a sobrecarga de serviços, em função do reduzido quadro de pessoal, insuficiente para atender à demanda crescente da cidade, que tem hoje mais de 400 mil habitantes.
Os funcionários paralisaram as atividades nessa quarta-feira em protesto contra a situação, especialmente no tocante ao plano de saúde, que não atende mais por falta de pagamento pela empresa. Contudo, afirmam que, por este motivo, podem sofrer ameaças até de transferências para outras cidades. Este comportamento da direção, segundo eles, é recorrente, o que configuraria assédio moral. Pretendem levar o problema às autoridades competentes, para que tomem as providências que o caso requer. A ausência de representante dos Correios em Montes Claros, para se manifestar, foi criticada pelos funcionários e vereadores.
Representante do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos de Minas Gerais (Sintec), Aclebiades Antônio de Oliveira Filho, deixou claro que a prestação de serviço postal no País deixa a desejar, em função de parte da população não ter acesso. E o quadro se agrava com o passar do tempo, com o início do processo de privatização, em que há deficiências estruturais da empresa, o que a impede de atender bem a população. Disse não entender o fato de aos Correios apresentar superávit, até pouco tempo com R$ 5 bilhões em caixa e fechar 2015 com déficit de R$ 1 bilhão.
Ele reclamou do fato de os Correios não funcionar mais aos sábados, com a alegação de economia, para não pagar 15% de adicional de 15% a que os funcionários têm direito. A medida, garante, contribui para a queda da qualidade do serviço, o que acaba refletindo na população, que reclama dos funcionários, que não têm culpa. Lembra que a responsabilidade por isso é da direção da empresa. Aclebíades Antônio reclama também da sobrecarga de trabalho, em função da deficiência do quadro de pessoal. Pediu apoio e a união de esforços de todos os setores da sociedade com o propósito de articular para tentar barrar a privatização dos Correios.

Servidores reclamam de assédio e exigem respeito
A ausência da direção dos Correios em Montes Claros para se posicionar em relação à situação foi criticada pelos próprios funcionários presentes à reunião. Diretor do Sintec em Montes Claros, Haino Souza Dutra reclamou da exploração da mão-de-obra, em decorrência da sobrecarga de trabalho. Para atender a população, eles têm que fazer serviços de dois ou três colegas. Se não bastasse isso, são submetidos a permanente pressão psicológica e assédio moral, sustenta o sindicalista, para quem a situação beira o insustentável. Isto tudo, segundo ele, por culpa dos administradores, que sucatearam os Correios. “Estamos pedindo socorro. Não podemos deixar vender a empresa”, dispara.
Também diretora do Sintec na cidade, Daniela Santos Santana, externou preocupação com a gravidade do quadro em todos os sentidos. Reclama da falta de condições de trabalho e da sobrecarga dos serviços. E isto reflete na prestação de serviços à população, que tenta transferir a responsabilidade para os funcionários, quando a culpa é da falta de estrutura da empresa. Ela teme que os funcionários que paralisaram as atividades nessa terça-feira, elegendo-o como dia de luta pelo plano de saúde, sofram represálias. Segundo a sindicalista, este é um expediente recorrente usado pela empresa para impedir que empregados busquem seus direitos. Disse não entender os motivos do fechamento da agência dos Correios que funcionava na Avenida Sanitária, que não era deficitária. Hoje, a instituição só conta com a agência na Praça da Matriz, para atender a população, além das franquias, exploradas pela iniciativa privada.

Comissão pedirá apoio do Ministério Público
Além do apoio da representação política do Norte de Minas na Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, a Comissão de Segurança e Direitos Humanos da Câmara Municipal pretende buscar ajuda do Ministério Público Estadual e Federal. Esta disposição foi externada pelo vereador Cláudio Prates, presidente da Comissão, ao final da reunião, em que hipotecou total e irrestrito apoio aos funcionários dos Correios, que se fizeram presentes em bom número no Plenário. Segundo ele, os Correios têm credibilidade junto à população, pela eficiência nos serviços prestados e não se justifica a privatização.
Vice-presidente da Comissão, o vereador Edwan do Detran, do PTB, criticou a proposta do governo federal de privatizar os Correios. Segundo ele, não se pode aceitar um posicionamento deste do PT, criado para defender os interesses dos trabalhadores, mas que faz justamente o contrário. Sugere que os funcionários saiam às ruas para protestar, com faixas e cartazes, para dar ciência à população do que está ocorrendo. O petebista chamou a atenção para o fato de que, se a empresa tem dinheiro para investir em patrocínio de competições esportivas também tem que ter para mantê-la.
Relator da Comissão, o vereador Oliveira Lega, do PPS, ficou assustado com a situação ao ouvir depoimentos de funcionários dos Correios. Para ele, o sucateamento é uma estratégia para justificar a privatização. Disse que a população precisa tomar conhecimento das dificuldades para se trabalhar nos Correios, para não culpar os funcionários por eventuais prejuízos, que ocorrem pela deficiência no quadro de pessoal da empresa. Também sugere que os trabalhadores protestem na Câmara, com faixas e cartazes, durante as reuniões ordinárias, para que os vereadores repercutam na tribuna.
O vereador Gera do Chica, da Rede Solidariedade, foi outro a lamentar a situação difícil que os funcionários dos Correios atravessam e que os desestimula a enfrentar sol causticante para prestar serviços à população. Propõe a união de esforços para enfrentar a situação e tentar revertê-la. “É um massacre que estão fazendo com a família dos Correios”, sustenta. Já o vereador Eduardo Madureira, do PT, propôs ampliar a discussão sobre a proposta, em defesa dos Correios. Para o petista, a questão deve ser debatida na Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados.
Jornal de Notícias

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