O dia 31 de agosto de 2016 começou atipicamente tranquilo na central de urgência do Corpo de Bombeiros de Salvador. "O rádio estava muito quieto. Estava muito parado. Geralmente, quando está assim, é que vêm ocorrências complexas". A estranheza do comandante Ramon Diego, que tem 22 anos de corporação, estava correta. Naquele dia, por volta das 8h30, ele salvaria a vida de um jovem de 26 anos que ficou ipreso dentro de um carro prensado por duas carretas. Nesta segunda-feira (5), cinco dias após o grave acidente, ambos tiveram um reencontro emocionante."Foi um momento muito difícil para mim. Um momento em que eu só chamei por Deus. Orei muito e aguardei pelos anjos enviados deles", disse com olhos marejados Elquesson Santana Passos, de frente para o homem que durante incansáveis duas horas fez um dos resgastes mais complicados da carreira."Em tantos anos de salvamento, me emocionou muito. Foi um tipo de ocorrência que a gente também foi testado emocionalmente, foi testado enquanto competência, enquanto resposta. A gente só foi com um pensamento: esforço de resgate", declarou o major.
Apesar da gravidade da batida, Elquesson ficou consciente durante todo o trabalho de resgate (Foto: Reprodução/TV Bahia)
Além do sol forte e dos pesados equipamentos para 'rasgar' o carro, a posição da vítima no automóvel também dificultou o trabalho dos bombeiros. "Assim que a batida ocorreu, eu tentei sair. Só que a perna não saía de jeito nenhum. A perna estava totalmente presa, junto com a minha coluna. Alguma ferragem do banco estava prendendo", lembra Elquesson.O major reitera as dificuldades. "Eu sabia que ia ser difícil. Liberamos o tronco e encontramos a cintura dele. Já é uma coisa. Depois da cintura, a gente abriu, cortou a porta, ancorou. Fez tudo. Foi quando encontrei os pés, que estavam rotacionados para o lado direito", afirmou.A cada passo do resgate, a ânsia para o salvamento. "Quando chegaram, que começaram a cortar o carro, eu dizia: vou sair. Começava a me bater e ficar eufórico. O pessoal do Corpo de Bombeiros pedia calma", lembra.O primo, Diego Passoani, que chegou ao local quando o resgate era realizado, confessa que sentiu medo. "Não conseguia acreditar no que os bombeiros estavam nos falando, de que ele estava bem, que ia sair ileso. Ficamos assustados. Quando vi ele sair na maca, ileso, olhei para todas as partes do corpo dele para ver se estava tudo no lugar. Isso foi uma glória", lembra emocionado.
Major Ramon Diego e Elquesson (Foto: Henrique Mendes/G1)
Chamado de "Cabo da Vida", um dos instrumentos usados no resgate do jovem também auxiliou nas buscas das vítimas da forte chuva que alagou o município de Lajedinho, na região turística da Chapada Diamantina, em dezembro de 2013. Dezessete pessoas morreram. "Esse equipamento vamos dar de presente para ele", disse o major. Elquesson logo colocou o objeto sobre o peito.A vítima do acidente sofreu alguns arranhões e fraturas leves nos pés. Por isso, anda com ajuda de muletas e fará algumas sessões de fisioterapia. Para ele, os ferimentos são marcas de uma nova oportunidade de vida. "Dia 31 de agosto agora é a minha nova data de aniversário", concluiu.
Acidente
O funcionário do metrô de Salvador, de 26 anos, foi retirado do carro após ficar cerca de duas horas preso entre as ferragens em um engavetamento envolvendo duas carretas na BR-324, sentido Salvador, na manhã da quarta-feira (31). Elquesson Santana Passos, que dirigia o carro, foi retirado consciente pelo Salvar, do Corpo de Bombeiros, por volta das 10h30.Segundo a assessoria do Corpo de Bombeiros, o trabalho de salvamento foi delicado e demandou equipamentos específicos para fazer a retirada da vítima.O acidente ocorreu por volta das 8h30, no km 624, nas proximidades da Baixinha de Santo Antônio. O carro da vítima ficou destruído.Por conta da colisão, o congestionamento atingiu mais de 4,5 km de extensão, com duas faixas interditadas.(G1/Bahia)
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