sábado, 26 de novembro de 2016

GUERRA DO TRÁFICO DIFICULTA ACESSO DE ALUNOS À ESCOLA EM PORTO ALEGRE


A disputa territorial entre facções que dominam o tráfico de drogas em Porto Alegre gera reflexos na educação do município. Uma face desta realidade foi mostrada na quinta-feira (24) na primeira matéria da série “Na mira do tráfico”, exibida pelo Jornal do Almoço, da RBS TV.
Na reportagem desta sexta-feira (25), o telejornal revela que a guerra entre traficantes impede que alunos acessem escolas na Vila Cruzeiro, região conflagrada na Zona Sul de Porto Alegre. Na Escola Santa Rita de Cássia, no Morro Santa Tereza, alguns moradores do bairro não podem ir para a aula.
“Os alunos [que moram no] Buraco Quente não conseguem ir à escola Santa Rita, que fica mais na outra ponta da vila, porque eles não podem cruzar aquele território, que tem outros comandos ali, são diversas facções dentro da Vila Cruzeiro. Toda essa violência motivada pelo tráfico faz com que os alunos acabem ficando com medo, os professores ficam com medo”, relata Luciane Manfro, coordenadora estadual das Comissões Internas de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave).
O Cipave debate, dentro da Secretaria Estadual da Educação, a redução deste tipo de violência vivido diariamente por alunos e mães. “Aí fica um clima tenso, porque tu não sabe se tu vai chegar até a escola com o teu filho, se tu não vai levar um tiro na rua”, conta a mãe de um estudante, que prefere não ter a identidade revelada por medo.
“Eu denunciei como mãe, me achei no direito de fazer isso, e se tem que fazer, faço de novo, porque eu jamais quero ver um filho meu atirado nas drogas”, completa.
Um risco assumido por quem resolve denunciar e por quem tem que seguir com a missão de ensinar, apesar do que se passa do lado de fora da escola.
A educação não se destrói, a educação se constrói. Ela se constrói até no meio de guerras"
Professora da rede estadual de ensino
“São 18 anos de magistério. Eu sempre trabalhei em escolas com grande vulnerabilidade social, onde o tráfico, no entorno, se faz presente. Onde a realidade dessas crianças, as famílias, infelizmente, muitas delas estão envolvidas. Mas a partir do momento que elas ultrapassam o portão das escolas, elas são alunos. Não são filhos de traficantes, de marginais, eles são alunos”, relata uma professora que também prefere não ter o nome revelado.
Ela lembra que muitos deles deixaram a escola por causa das drogas. “São várias histórias tristes”, diz.
“Chega lá, no enterro de uma criança, de um adolescente que tu viu praticamente crescer, e não pode olhar a pessoa deitada no caixão, porque está todo deformado, queimado. Então, onde é que tu errou? Será que eu fiz tudo que eu podia fazer?”, questiona a educadora.
A Secretaria da Educação também procura respostas. A pasta está fazendo uma pesquisa em mais de 2 mil escolas do estado para tentar entender o aumento da violência nas escolas.
No primeiro semestre de 2016, foram registrados 5.625 casos de violência no entorno dos colégios estaduais. Uma média de 31 por dia. Agora, a Secretaria quer saber quantos desses casos estão ligados ao tráfico de drogas.
Outra mãe, que também prefere ter a identidade preservada, não quer que os filhos dela, de 6, 7 e 11 anos, tenham o mesmo destino do irmão mais velho, que morreu ainda adolescente, vítima do tráfico de drogas.
“Eu não aceito. Eu sei que ele agiu errado. Mas não é seguindo, querendo vingança, alguma coisa, que eu vou aceitar. Então, se eu vejo, eu denuncio, porque a população tem que começar a tomar uma atitude”, afirma.
Atitude que pode ser simples, como a da professora que não desiste de tentar ensinar. “A educação não se destrói, a educação se constrói. Ela se constrói até no meio de guerras. Não é o prédio de uma escola que vai fazer tu formar um cidadão melhor ou pior. É a vontade do profissional, é o querer, é fazer a diferença”, conclui.


http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/11/guerra-do-trafico-dificulta-acesso-de-alunos-escola-em-porto-alegre.html

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