quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Montes Claros MG. Segurança é a principal preocupação dos moradores - Internautas votaram na enquete do G1, 'Preocupação do Morador' . Polícias e entidades trabalham para evitar a marginalização dos menores.

Maior cidade do Norte de Minas passa a receber quase R$ 4 milhões a mais. (Foto: Fábio Marçal/Prefeitura de Montes Claros)

Maior cidade do Norte de Minas passa a receber quase R$ 4 milhões a mais (Foto: Fábio Marçal/Prefeitura de Montes Claros)
A segurança foi apontada como a principal preocupação dos moradores de Montes Claros (MG), segundo a enquete feita pelo G1 Grande Minas. Com 54% dos votos, o ítem ficou a frente da saúde, que teve 16%, e da educação, que ficou com 8,82%. Os internautas escolheram os três entre 10 temas.
Montes Claros é a maior cidade do Norte de Minas e, de acordo com o último censo demográfico, tem 398 mil habitantes. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social apontam que de 2012 para 2016 houve um crescimento de mais de 100% no índice de crimes violentos. Muitas das ocorrências registradas pela polícia têm a participação de adolescentes, em alguns casos, até de crianças.
Para Eliene Soares, que é voluntária no Clube de Desbravadores – projeto social que atende a crianças e adolescentes de 10 a 15 anos,  a segurança que preocupa a população deve ser vista de forma ampla.

“Segurança não é uma questão ligada apenas à criminalidade, portanto não deve ser relacionada somente à polícia. Os jovens estão carentes de tudo, de recurso, atenção e amor. As famílias estão desestruturadas; na correria em que tudo anda, as palavras de carinho e os momentos de atenção ficam em segundo plano”, fala.

Apesar de o projeto social ter sido idealizado pela Igreja Adventista, são aceitos participantes de todas as religiões. As atividades são realizadas durante três domingos de cada mês, das 8h30 às 11h. As crianças e adolescentes têm um caderno de tarefas conforme cada faixa etária.
Jovens participam de aulas de xadrez (Foto: Clube de Desbravadores/Divulgação)
Jovens participam de aulas de xadrez
(Foto: Clube de Desbravadores/Divulgação)
“Sabe o que me motiva sair de casa aos domingos? A vontade de ajudar e a certeza de que é sim possível ajudar as pessoas a ter uma vida diferente. Trabalhamos os lados físico e mental, incentivamos os jovens a se encontrarem com Deus, independentemente das crenças que tenham”, destaca.
Eliene cita como exemplo a história de um adolescente de 12 anos atendido pelo projeto. A mãe dele foi assassinada e a pai foi preso por tráfico de drogas, ele mora com a avó. 
“Esse menino é abordado com frequência por pessoas que querem que ele venda drogas, mas ele escolheu ganhar o dinheiro dele vendendo doces e balas. Chegou aqui perdido e com um comportamento rebelde, ajudamos ele a fazer escolhas para que não tenham o mesmo destino dos pais. É difícil recuperar alguém que está envolvido com o crime, por isso, a nossa intenção é agir antes, para ajudar esses jovens a encontrar o caminho para uma vida digna”, finaliza.
Criminosos são filhos da sociedade
Há 30 anos na Polícia Civil, o chefe da Corporação no Norte de Minas, delegado Renato Nunes, diz que houve uma mudança no perfil de quem pratica crimes.

“Quando ingressei, era raro ver menores cometendo crimes, o Estatuto da Criança e Adolescente sequer existia. Hoje, percebo que a violência está inserida na vida das pessoas e elas sequer percebem, um exemplo são os jogos eletrônicos. Além disso, defendo também que os pais eduquem os filhos conforme a idade, é necessário que haja uma revisão dos valores morais. As pessoas precisam entender que os criminosos saem da sociedade, eles são filhos da sociedade”, destaca.
Renato Nunes destaca que a Polícia Civil tem feito esforços para implantar delegacias especializadas, adquirir viaturas e aumentar o número de delegados e investigadores, mas o resultado será sentido a médio e longo prazo. “O ser humano precisa de uma boa base, composta pela família, religião e escola. Quando esses pilares estão cumprindo suas funções, o indivíduo não se envolve com a criminalidade”, fala.
O chefe da Polícia Civil ainda defende que os delegados tenham maior autonomia e poder de atuação, dessa forma os procedimentos seriam mais rápidos e teriam maior fluidez, sem abarrotar a Justiça. Como exemplo, Renato Nunes cita os mandados de busca e apreensão que passaram a não ser mais emitidos pela PC após a Constituição de 1988.
“Antes a cadeia funcionava na Rua Doutor Veloso Veloso, com meia dúzia de celas, hoje temos dois presídios enormes e que estão superlotados. Se não houver uma mudança de paradigma, o Brasil se tornará um lugar ruim para se viver, mas a gente trabalha porque tem esperança de que o país se torne melhor e seja bom para a população”, finaliza.
Problemas convergem para a segurança
O coronel Cesár Ricardo de Oliveira também está há quase 30 anos na Polícia Militar e comanda a 11ª Região da Polícia Militar. Assim como o chefe da Polícia Civil, ele também percebeu o envolvimento de pessoas cada vez mais jovens com crimes. 

“Hoje temos o envolvimento cada vez mais precoce de jovens com a criminalidade, em grau de participação cada vez maior e com maiores requintes de crueldade. Se antes a criminalidade estava presente no meio urbano, hoje podemos notar que houve também uma migração para o meio rural, em pequenas comunidades”, destaca.
O coronel ainda destaca que a segurança é afetada diretamente por falhas que ocorreram em outros setores. “A insegurança é um consequência de falhas que os outros segmentos tiveram e que estão ligadas aos anseios da população, como saúde, educação e lazer. E deve ser vista também como uma consequência de falhas no processo de formação do cidadão, que abrange família, escola e religião, que são mecanismos de controle social importantíssimos”, diz.
César Ricardo defende ainda a interação da polícia com a família e a escola. E destaca ainda que com a intenção de que essa aproximação seja feita, a PM desenvolve vários projetos sociais nas instituições de ensino, que acabam por aproximar também os pais dos filhos.  
“Ultrapassando a nossa missão constitucional, desenvolvemos projetos preventivos e de inclusão com foco na escola. Dessa forma colaboramos com a educação e mobilizamos as famílias em prol do ambiente escolar. O policial militar também se torna referência nesse universo e age para tentar dar o encaminhamento necessário para questões sociais nas fases ainda preliminares da vida, o jovem recebe orientações para que não se envolva com a criminalidade, e ainda quais os riscos que corre caso isso venha a acontecer”, finaliza.
Michelly Oda
Do G1 Grande Minas

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