domingo, 4 de dezembro de 2016

Reação à Lava Jato revive ‘era mãos limpas’


04/12/2016 10:25 
Reação à Lava Jato revive ‘era mãos limpas’
As modificações no projeto das 10 Medidas Contra a Corrupção aprovadas pela Câmara dos Deputados na madrugada da quarta-feira e a tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de impor urgência à votação da proposta escancararam o embate entre a classe política e a Lava Jato. Além de levar os procuradores da força-tarefa de Curitiba a sugerir uma possível renúncia aos cargos na investigação caso o presidente Michel Temer sancione o texto como está, as mudanças apoiadas pelos partidos, muitos deles com as cúpulas envolvidas no esquema de corrupção, guardam relação com o que ocorreu na operação Mãos Limpas, realizada na Itália na década de 1990 e sempre utilizada em comparações com a Lava Jato. A investigação italiana começou em 1992, quando um diretor de instituição filantrópica de Milão foi preso. A partir da delação de Mario Chiesa – o Paulo Roberto Costa deles –, em dois anos, 2.993 mandados de prisão foram expedidos, 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares. No livro Operação Mãos Limpas – a verdade sobre a operação italiana que inspirou a Lava Jato, os jornalistas italianos Gianni Barbacetto, Peter Gomez e Marco Travaglio detalham o dia a dia da investigação italiana e revelam como a classe política tentou por várias vezes inviabilizar o trabalho do pool de investigadores e juízes. Em uma das passagens do livro de 887 páginas, os jornalistas italianos relatam qual era o cenário em 1993, início do segundo ano da investigação: “Em menos de dois meses, entre fevereiro e março, o governo Amato (Giuliano Amato, presidente da Itália à época) perde seis ministros (…). Entre os partidos começa a circular uma palavra de ordem: ‘Solução política’ para a Tangentopoli (esquema de suborno). A investigação Mãos Limpas completou um ano e Palazzo (Palazzo Quirinale, residência oficial do presidente) tenta o contra-ataque: sabe que a opinião pública está do lado dos magistrados e o confronto direto não é possível. A maneira tradicional de conseguir anistia também é impraticável: em março de 1992, entrou a reforma do artigo 79 da Constituição, que elevou o quórum parlamentar para a concessão de anistia de 1/2 para 2/3. Então tenta-se uma intervenção de autossalvação com uma lei ordinária, quem sabe disfarçando-a de ajuda ao pool”, relata o livro lançado no Brasil pela editora Citadel. (Estadão)

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