quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Em seis meses mais de 100 casos de estupro são registrados em Montes Claros


Dados revelam que o perfil das meninas abusadas mudou/ Imagem Ilustrativa/Fonte: Internet
Levantamento do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que, no ano de 2015, a cada 11 minutos e 33 segundos, uma pessoa era estuprada no Brasil, ou seja, a cada uma hora cinco pessoas eram vítimas deste tipo de crime no País.
Dois anos se passaram e, infelizmente, o estupro ainda é algo presente na nossa sociedade. Por vezes, as pessoas imaginam que crimes cruéis como este não acontecem próximo a elas, mas somente em Montes Claros, até o meio do mês de junho, 90 casos foram registrados, número que deve ter aumentado e chegado aos 100.
Os dados são do Hospital Universitário Clemente de Faria, unidade de serviço referência no atendimento às vítimas de violência sexual.
A socióloga responsável pelo Ambulatório de Atendimento a Vítima de Violência Sexual, Theresa Raquel Bethônico Correa Martinez, explica que isso se deve ao serviço multidisciplinar oferecido pela unidade e explica como é feito o atendimento.
“O HU é referência no Município e região por prestar assistência médica e psicológica. Na maternidade, atendemos as vítimas da violência sexual e as físicas quando são praticadas contra gestantes porque a demanda dela pode ser atendida por um ginecologista obstetra que temos 24 horas durante todos os dias”, completa.
Quando uma pessoa procura o hospital em busca de ajuda por ter sofrido violência sexual, ela tem prioridade no atendimento.
“Quando a vítima passa pela triagem e informa sobre o abuso ela é imediatamente atendida com urgência já que entendemos que se a vítima procura o serviço de saúde é que ela escolheu aquele dia para receber orientação. Se a paciente fica o dia inteiro esperando atendimento ela desiste e por isso ela tem prioridade”, explica.
O tempo
Algo que muitas pessoas desconhecem que a vítima de estupro pode procurar ajuda médica a qualquer momento independentemente de quando foi o crime.
“Mesmo que tenha sido há dez anos nós não podemos tratar como não urgente, mas se tiver um caso de violência aguda que são os de até 72 horas este mais recente é mais urgente”, explica a socióloga. 
Medicamentos
Uma questão muito importante neste tipo de crime é o tempo, principalmente para prevenção de doenças como o HIV. Para que os medicamentos realmente funcionem é preciso que a vítima tome os medicamentos necessários o mais rápido possível, não ultrapassando às 72 horas após o ocorrido.
“Quando a vítima sofre abuso ela precisa tomar uma medicação no prazo de até 72 horas e esta medicação é disponibilizada pelo Ministério da Saúde e, por isso, pedimos sempre que as vítimas procurem o hospital neste tempo. Após as 72 horas o caso é avaliado para saber se o paciente irá tomar a medicação ou não já que tem muitos efeitos colaterais e é uma medicação cara”, completa.
E é também nessas 72 horas que o hospital oferece à vítima mulher a pílula do dia seguinte para que ela não tenha o risco de engravidar do autor do crime.
“No caso dos antibióticos nós até podemos dar um prazo maior, mas o protocolo e todos os serviços de ponta no atendimento a este tipo de violência priorizam às 72 horas, avaliando o custo-benefício. É uma medicação com muitos efeitos e é necessário um acompanhamento”, completa.
Assistência
A vítima de violência sexual recebe um intenso acompanhamento médico. No Hospital Universitário são feitos os exames, seguido de encaminhamento a outra unidade.
“Posteriormente, a vítima é atendida na Policlínica no Alto São João, já que nós temos uma parceria com o município e a vítima precisa deste acompanhamento devido os efeitos colaterais da medicação. Quando o paciente é atendido no HU ele já sai daqui com um encaminhamento para a policlínica, mas o atendimento psicológico é feito no hospital”, explica a socióloga.
O atendimento na polínica é feito durante 28 dias. Parte da medicação é tomada no hospital e outra entregue a vítima, que é orientada a tomar em casa. Em contrapartida, o acompanhamento psicológico não tem um tempo determinado.
“Não há como dizer o tempo que essa vítima vai ter o acompanhamento psicológico porque isso é de cada caso e demanda da paciente, como ela consegue lidar com isso”, completa.
Como é detectado o estupro
Detectar o estupro não é uma tarefa fácil e não cabe a hospital afirmar se houve.
“Ao hospital cabe fazer os exames e ver se tem vestígios de hímen rompido, de material genético do suposto agressor. Quando a sêmen ou sangue os indícios são fortes, mas não há como dizer se a relação sexual foi forçada ou não, claro que quando há agressões, indícios de violência física mais fácil identificar. O médico relata tudo a polícia e cabe a ela investigar”, completa.
Segundo a socióloga, grande parte dos casos atendidos pelo HU, tem forte indício de violência sexual.
“Dos casos que atendemos os indícios são sempre muito fortes. Nós atendemos, acolhemos a vítima para que o desfecho de confirmar ou não fique a cargo da justiça que tem o subsídio do hospital para averiguarem com maior precisão”, explica.
Falta de material
No Hospital Universitário são feitos os mais variados exames para verificar a possibilidade de doenças, mas o material para alguns deles, está em falta.
“No momento os exames de protocolo que verificam a possibilidade de DSTs estão suspensos por uma questão em Belo Horizonte. A coleta de vestígios é muito importante porque podemos verificar esperma, saliva, marcas de unha e etc em um prazo de até dez dias após a agressão. No hospital há uma equipe treinada para isso, mas como os kits ainda não estão prontos estamos encaminhando as vítimas diretamente para o Instituto Médico Legal (IML), que também dispõe do material”, explica.
Vítimas
O Hospital Universitário Clemente de Faria atende em média três casos por semana, são vítimas das mais variadas faixas etárias, mas o que grande parte das pessoas imagina é que são sempre pessoas de baixa renda, uma afirmação falsa.
“O perfil das vítimas tem sido alterado, antes eram quase sempre pessoas da linha da pobreza, hoje a maioria é de classe média e baixa. Muitos casos são de meninas indo a festas ou aquelas que saem da faculdade e resolvem ir a alguma festa. 75% dos atendimentos são as crianças e adolescentes entre 0 e 18 anos, já que tivemos casos de bebês de seis meses”, completa.
A maioria das vítimas é mulher.
“Quando são do sexo masculino, são crianças e adolescente também, normalmente abusados por padrastos, avós e amigos”, conta a socióloga.
Aborto
No caso das mulheres vítimas de abuso e que engravidaram elas tem o direito ao aborto.
“O HU é referência no aborto legal que é quando a mulher está grávida do agressor e procura o serviço. É feita uma avaliação médica, psicológica, psicossocial e ultrassom para saber se a data do crime dita por ela bate com o tempo de gestação. Nós escutamos a versão dela mais de uma vez e é interessante dizer que não é preciso um boletim de ocorrência, mas é preciso preencher vários formulários no hospital e o mais importante deles é o de responsabilidade social que em qualquer momento se for comprovado que não houve estupro ela pode responder criminalmente já que o aborto não prescreve e ela pode responder também por falsidade ideológica”, explica.
Números
Os dados de casos de violência sexual atendidos pelo HU são os seguintes:
Ano
Quantidade de casos atendidos
Sexo da vítima
Idade da vítima
Entre 0 e 18 anos
Tipo de violência
2010
79
90%
75%
70%
2011
72
84%
66%
80%
2012
129
83% mulheres
72%
90%
2013
129
93% mulheres

70%
95% sexual
2014
147
90% mulheres
78%
95% sexual
2015
120
92% mulheres
78%
95% Nat. sexual
2016
159
90% mulheres
75%
92% Nat. sexual
2017
Até meio de junho  90
75%
75%
84%
Polícia Civil
O Portal de Notícias Webterra entrou em contato com a Polícia Civil no dia 25 de agosto para saber quantos casos de estupro são denunciados, quantos confirmados e o que é feito quando não é confirmado o abuso, mas não teve retorno.

http://webterra.com.br/noticia/12419/em-seis-meses-mais-de-100-casos-de-estupro-sao-registrados-em-montes-claros

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