quarta-feira, 1 de maio de 2019

De alunos a empreendedores: escola pública de Montes Claros incentiva comportamento empreendedor em alunos

Escola é referência em empreendedorismo em todo o Norte de Minas. — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal
Escola é referência em empreendedorismo em todo o Norte de Minas. — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal

Negócio se tornou uma profissão alternativa para os jovens de baixa renda da Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro; 270 alunos são beneficiados com o projeto.

Por * Karen Pinheiro, G1 Grande Minas

Empreender é ter ousadia para tirar as ideias do papel. E foi preciso somente uma palestra do Sebrae para Cleuma Rodrigues se tornar empresária. Mas seu empreendimento não é muito convencional. Como diretora da Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro, em Montes Claros (MG), ela transformou sua escola em um palco para uma grande onda de empreendedorismo, negócios e finanças.

Localizada em um bairro de baixa renda e em uma região de risco, a Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro se tornou referência para todo Norte de Minas em empreendedorismo. São diversos projetos, exposições e feiras realizadas por estudantes do Ensino Fundamental I e, II, e Médio. Segundo a diretora, cada turma possui um projeto que é orientado por um professor.

Diversos destes projetos desenvolvidos pelos estudantes se tornaram fonte de renda, e hoje custeiam outras ações empreendedoras na escola, que necessita de recursos financeiros. “Todo o valor arrecadado pelas turmas é revertido em 60% para o capital de giro, 10% para a responsabilidade social e 30% a turma decide o que fazer com o dinheiro, por meio de uma assembleia, que geralmente é uma atividade de lazer para a turma”, explica a diretora Cleuma Rodrigues.

Horta como fonte de renda

Produtos da horta da escola são vendidos para a comunidade e utilizados na merenda dos alunos — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal
Produtos da horta da escola são vendidos para a comunidade e utilizados na merenda dos alunos — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal

Um dos projetos que mais cresceu e teve destaque na escola foi o Laboratório Vivo, uma atividade que criou uma horta orgânica dentro da escola. Segundo a diretora, este projeto teve início como uma maneira de reeducar a alimentação dos alunos. Mas ele cresceu e a diretora viu a necessidade de criar a horta hidropônica — uma maneira de cultivar plantas fora do solo, geralmente em suportes com as raízes submersas na água.

Atualmente, os frutos plantados na escola servem como temperos e alimentos para a merenda dos estudantes, e também se tornaram um dos principais produtos vendidos nas feiras realizadas mensalmente, e abertas à comunidade. “Nós produzimos, alho, cheiro verde, couve, alface, cebolinha e muitos outros alimentos. Temos uma diversidade muito grande de produtos que plantamos e vendemos para as pessoas da região, além de ser uma forma de darmos uma alimentação melhor e mais saudável para nossos alunos”.

Renda e investimento
Todos os termos técnicos do ramo do negócio e a prática do empreendedorismo são ensinados em sala de aula e aplicados nos projetos. “O que é feito nas ações é por decisão dos próprios alunos, os professores somente orientam. Eles têm o poder de decisão em suas mãos e, assim como em uma corporação, cada ação influencia nos resultados. Queremos que eles entendam exatamente como uma empresa funciona”, afirma a diretora.

Ainda de acordo com a diretora, o percentual de 30% que pode ser usado pelos alunos, sempre é utilizado de forma consciente e por iniciativa dos mesmos. “Já houve turmas que reservaram uma sala de cinema, foram ao clube e também planejaram outras formas de lazer. Uma em especial, decidiu que colocariam um ar condicionado na sala de aula, a outra comprou um quadro branco quadriculado”, afirma a Cleuma Rodrigues.

Além de o projeto Laboratório Vivo, a escola também abriga o Conviver e Partilhar, a Cozinha de Minas, o Ecolimp, a Feira de Ciências e Inovação, e muitos outros projetos, que fomentam o empreendedorismo entre os estudantes.

Projeto Cozinha de Minas produz alimentos tradicionais da culinária Norte Mineira — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal
Projeto Cozinha de Minas produz alimentos tradicionais da culinária Norte Mineira — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal

Resultados
Com quatro anos de ações empreendedoras, a escola trouxe resultados reais que impactaram e impactam alunos, egressos e suas famílias. “Nossos alunos entenderam o projeto. Antes, tínhamos estudantes que usavam e vendiam drogas. Hoje não há nenhum. Há três anos que não temos qualquer tipo de briga aqui. Esse projeto foi um divisor de águas para nossos alunos, professores e comunidade”.

Em uma área carente, o empreendedorismo se tornou a bússola para os estudantes. “Os alunos não sabiam o que fazer após o Ensino Médio. Eles se formavam e tinham só o caminho do crime para seguir. Com o empreendedorismo, eles descobriram um novo caminho. Eles sabem o que fazer e como. E muitos já fazem”.


A diretora implantou nos estudos dos alunos do Ensino Fundamental,I, II e Ensino Médio, matérias que ensinam sbre o empreendedorismo na prática. Atualmente, 270 alunos da escola participam do projeto e, segundo a diretora, pouco a pouco traz resultados reais.


Alunos do Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio estudam matérias sobre empreendedorismo, negócios e finanças. — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal

Alunos do Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio estudam matérias sobre empreendedorismo, negócios e finanças. — Foto: Cleuma Rodrigues / Arquivo pessoal

Elias Barbosa Gonçalves têm 18 anos e se formou em 2018 na Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro. Foi com o projeto da diretora que o estudante descobriu sua paixão pelo empreendedorismo. Ao surgir o processo de seleção para participar do Núcleo de Empreendedorismo Juvenil do Sebrae, ele se inscreveu e passou.

Hoje, Elias possui uma startup que busca desenvolver um aplicativo online de venda de roupas femininas em Montes Claros. “Tivemos a ideia de desenvolver um aplicativo com o mesmo sistema do IFood a partir de um brainstorming [atividade de chuva de ideias] na aula de Canvas do Núcleo de Empreendedorismo Juvenil. A previsão é de que o aplicativo seja lançado em seis meses”, diz.

Segundo o egresso da escola, os projetos realizados pela direção e professores o inspiraram a seguir na área do empreendedorismo. “A escola despertou em mim este lado empreendedor que eu não conhecia. O que eu sinto pelos professores e pela diretora é gratidão, por terem me mostrado novas possibilidades. Agora eu sei que posso conseguir um futuro melhor e diferente pra mim, através do empreendedorismo”.

*Sob supervisão de Adriana Lisboa.

Por * Karen Pinheiro, G1 Grande Minas

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