quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Norte de Minas caminha a passos largos para virar deserto


SECA - A previsão meteorológica para o Norte de Minas não é das mais alentadoras. Chuva escassa, socorro oficial inexistente e há risco iminente de continuidade dos prejuízos na pecuária e lavoura. Segue-se para o quarto ano de longa estiagem.
ÁGUA - Ontem, o supervisor operacional da Copasa, Soter Magno Carmo, em entrevista à Rádio Educadora (AM 670), afirmou que o Norte de Minas pode virar mesmo um grande deserto. A começar pela destruição de todos os cursos de água, veredas e nascentes, eliminação de matas ciliares e de topo, “e o que o homem fez nas décadas de 1960, 1970, 1980 e até 1990, inclusive com recursos e programas do governo federal e governo estadual, repercute agora”. Soter Magno referiu-se a programas como o Pró-Várzea, do governo federal, que financiou esvaziamento das várzeas e veredas para plantar arroz, e a monocultura do eucalipto, que foi implantada sem qualquer critério preservacionista. “Destruíram tudo sem dó nem piedade, invadindo áreas que deveriam ser preservadas, como nascentes.”
 - Segundo Sóter Magno o Norte de Minas não tem mais rios caudalosos, a não ser o São Francisco que também sofre com a degradação. “Em Montes Claros existia o Verde Grande, que está cortado em várias partes e conseguirá sobreviver com a construção de barramentos e a Barragem de Congonhas é a solução para aquele rio e também para abastecer Montes Claros”. A Barragem de Congonhas garantirá água para o rio Verde Grande e para a Barragem de Juramento, hoje com apenas 20% da sua capacidade: “estamos com 80% a menos de água na Barragem de Juramento, enquanto a cidade não para de crescer, inclusive para o alto, verticalizando-se”.
CORTE - Conforme o supervisor da Copasa falta também consciência ambiental à população que deveria consumir racionalmente a água tratada. “Nós vivemos eras distintas no Norte de Minas, mas todas foram devastadoras para a região. Houve época do ouro branco, o algodão, que motivou devastação sempre precedente de Janaúba a Espinosa. Virou cenário de deserto, depois que a cotonicultura morreu. Veio o ouro preto, o carvão, que derrubou o cerrado, mais tarde o plantio de eucalipto sem qualquer critério preservacionista, acabando com veredas, nascentes e pequenos cursos de água, sem se falar na flora e na fauna. Vou citar os municípios de Rio Pardo de Minas e Taiobeiras, que vivem séria crise de abastecimento de água. O rio Pardo, antes caudaloso, está caminhando para a morte, como também estão morrendo os rios Traíras, São Lamberto, Pacuí, que nascem em Montes Claros. É o preço que se paga hoje pela política de destruição e de ganância de tempos passados.”
CANO - Soter Magno explicou que a Barragem de Congonhas é que manterá Montes Claros abastecida, gerando também progresso socioeconômico, pois nenhum empreendimento existe sem água. Hoje, a cidade tem 120 mil ligações, consumindo 900 litros de água por segundo, e ainda convivendo com a verticalização, que exigirá muito mais investimentos e também novo planejamento de infraestrutura por parte do município.
 - Estudos do meteorologista Ruibran dos Reis apontam que choverá no Norte de Minas menos ainda. Nos dois últimos anos, a precipitação, segundo esses estudos, foi menor entre 30% a 40% em relação ao ano de 2010. Quando a chuva veio, ela foi concentrada. O mesmo fenômeno ocorre neste ano, infelizmente. A previsão não é das melhores. E há alguns anos, a chamada chuva de broto, em setembro, não acontece mais.

Benedito Said - Coluna Jornal de Notícias

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