segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Lula fica fora da próxima rodada de propaganda eleitoral do PT no rádio e na televisão Mas não basta ser honesto...

ALMA VIVA, MAS BEM PENADA

NO DOMINGO, 24 JANEIRO 2016 11:54.
Fadiga de material: Lula fica fora da próxima rodada de propaganda eleitoral do PT no rádio e na televisão
O ex-presidente Lula dá sinais de possível esgotamento do velho feeling, daquela sensibilidade para a política que o levou tão longe e, para alguns militantes, infalível aos efeitos do tempo e desgovernos. O PT decidiu que Lula e a presidente Dilma Rousseff vão ficar fora do ar no espaço do horário eleitoral do partido no início do mês de fevereiro. Sinais dos tempos?
Em entrevista a um grupo de blogueiros simpáticos, na semana passada, quando foi novamente pródigo em mandar recados, Lula descuidou da velha máxima que diz que ética e honestidade não são atributos para serem alardeados por quem julga tê-los de sobra. Para ficar no limite da sua fala, a qualidade de honesto é para ser reconhecida pelo mundo exterior. Quando o ético e o honesto se vêm diante da contingência de bater no peito para reafirmar essa condição, não é bom sinal.
É mais ou menos como se esperava da mulher de César, de quem se disse não bastar ser honrada, mas, antes disso, sequer tivesse sua honra sob suspeita. Lula se declarou ‘a alma viva mais honesta do país’, em contexto da autodefesa, quando garantiu nada tem a ver com as investigações da Operação Lava-Jato. De fato, o ex-presidente não é réu na ação, mas já foi chamado a depor na Polícia Federal na condição de informante ou colaborador, como queiram, a respeito de fatos do período em que presidiu o país.
Assim como a mulher de César, o que acontece com Lula é que ele esteve sempre muito próximo de histórias pouco republicanas nos bastidores dos seus dois mandatos, quando foram gestados os escândalos do mensalão e boa parte da bagunça que quebrou a Petrobras – só para ficar nos casos mais notórios. Lula deixou a Presidência há cinco anos, mas insiste em não sair de cena. Direito dele. Não há semana que ele não omita opinião sob o governo da sua criatura e sucessora, no que desmente conselho dado ao antecessor FHC, sobre o impedimento litúrgico de ex-presidentes em dá palpites nos assuntos do governo do turno. Coisas de metamorfose ambulante. 
Como é de domínio público, Lula nunca deixou de ser o titular da nossa curiosa Presidência de dois gêneros, mas ainda assim que retornar de corpo presente à cadeira principal do Palácio do Planalto, o que obviamente o coloca na mira dos seus adversários. Aspiração legítima, mas passível de contestação. Voltemos ao caso da mulher de César. Ora, se Lula nunca soube das bandalheiras que tornaram seu governo um dos mais corruptos na história do país, estamos às voltas com um presidente que, no mínimo, negligenciou sua obrigação de cuidar daquela máxima ensinada por Ulisses Guimarães: “O principal dever do governante é não roubar, nem deixar roubar!”.
Na hipótese contrária, se Lula sabia das maquinações do amigo José Dirceu et caterva, que rodeavam seu gabinete, demonstradas em última instância no processo do mensalão e nas investigações em curso do petrolão, e tomou providência nenhuma, justo concluir que pecou por omissão. Prevaricou, como se dizia antigamente. Tanto numa hipótese, como na outra cabe perguntar: por que o Brasil deveria dar nova chance ao homem que foi presidente por dois mandatos? Que teve sua chance de mudar o país, e efetivamente mudou em vários aspectos, para o bem e para o mal.
“Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste País, e eu não abaixo a cabeça para ninguém, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”, disse Lula, em tom de discurso, aos convivas que foram ouvi-lo no Instituto que leva seu nome. A frase parece arrogante, e o é, quando extraída do contexto da explicação mais ampla da defesa que o ex-presidente fazia da sua honra.
Mas não basta ser honesto...
Já está mais ou menos dado que o lulo-petismo deixará atrás de si ambiente de terra arrasada (crise financeira, desemprego, inflação, sucateamento da indústria e destruição de cadeias importantes como as de óleo e gás e da siderurgia). Tudo bem diferente daquilo que o país poderia ter sido e não foi, herança do governo que prometia fazer da esperança o instrumento que venceria o medo. Lula ainda deve ao povo brasileiro explicações sobre o porquê da corrupção florescer com força inédita durante os mandatos petistas, mesmo para os padrões da muito corrupta história da pátria. Ou, em situação mais idealizada, fazer o mea-culpa sobre o que aconteceu ao partido que nasceu sob o símbolo da ética, mas que produziu como principal legado o estelionato da utopia alimentada por algumas gerações de brasileiros.
A justificativa-padrão, aquela que aposta no mote de que agora se investiga mais, é verdadeira, mas um tanto quanto simplista, por que também é possível dizer que os malfeitos tomaram dimensão e envergadura tais, que seria impossível ignorá-los. No plano pessoal, Lula ainda precisa explicar seus negócios com a Construtora OAS e até que ponto sua honestidade sem igual refuta as acusações de que extrapolou os limites éticos no lobby que prestou à empresa. As suspeitas estão no ar, ainda carentes de respostas claras e convincentes. Não basta se dizer honesto, tem que parecer.
De volta ao começo, Lula emite alguns sinais de que anda cansado de guerra. Sua fala da semana passada foi rica em recados, inclusive para a presidente Dilma Rousseff, de quem exige mudanças urgentes na condução da economia. Nunca é demais lembrar que partiu de Lula, no ano passado, a orientação para que Dilma colocasse o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, no Ministério da Fazenda. Levou Joaquim Levy de brinde e ganhou um ajuste fiscal fracassado. Na coletiva da semana passada, Lula também mandou recados para a imprensa, com quem vai tratar, a partir de agora, nos balcões dos tribunais.
Mas a melhor demonstração de que a alma mais honesta do país caminha para ser, talvez, alma penada da política brasileira foi o anúncio de que nem ele nem Dilma participarão da próxima rodada da propaganda eleitoral que o partido leva ao ar agora em fevereiro. A decisão da cúpula petista quer priorizar a defesa institucional da sigla, que teve a imagem arranhada nos escândalos do chamado ‘mensalão’ e do petróleo.
O PT já tinha retirado Dilma das suas inserções no rádio e na TV, por motivos óbvios, no ano passado. A presidente, inclusive deixou de usar a prerrogativa das redes nacionais de rádio e TV para evitar novos panelaços. Mas a surpresa mesmo foi o PT adotar a mesma régua de medição para Lula. Há quatro anos, nas eleições municipais, o petista-mor era figura de proa da propaganda partidária. Seu tempo e atenção eram disputados a tapas por candidatos em todo o país. A tietagem parece ter arrefecido, com o desastre na condução da economia e a incrível fabricação de más notícias sob Dilma, de quem Lula, inutilmente insiste em cobrar providências. Lula está fora do páreo para 2018? Difícil afirmar, mas parece enfrentar os prieiros sinais de que também é falível - para incredulidade de uns tantos.

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