quarta-feira, 14 de agosto de 2019

PAES/UNIMONTES 2019 LITERATURA, MEMÓRIA E IDENTIDADE

PAES/UNIMONTES 2019 LITERATURA, MEMÓRIA E IDENTIDADE

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 Em seu texto “Sobre algumas funções da literatura”, Umberto Eco aponta, dentre outras, para a seguinte proposição: “A literatura, contribuindo para formar a língua, cria identidade e comunidade” (Eco, 2001, p. 11). A memória e as questões relativas à identidade estão intimamente interligadas e quando se articulam com a literatura criam um espaço importante para a perpetuação de conhecimentos e de aprendizagem. Entendendo essa relação inextrincável entre literatura e identidade e que a memória é, recorrentemente, utilizada como subsídio fundamental para diversas criações literárias é que apresentamos o eixo temático norteador para o PAES UNIMONTES/2019: literatura, memória e identidade. O desejo de retratar a própria existência através da escrita é algo que tem atraído significativa parcela de escritores ao longo dos tempos. Vontade de “perpetuar” sua existência, de construir uma imagem com a qual gostaria que fosse lembrado, de reconstruir uma história de vida com a possibilidade de omitir fatos desagradáveis e de exaltar as conquistas, tudo isso pode ser alegado como justificativa para essa modalidade de escrita. A tentativa de reconstrução do passado, objetivo presente nas obras selecionadas, é uma forma que os protagonistas usam para alcançar uma meta tão complexa quanto a restituição dos acontecimentos vividos: eles buscam se definir, querem encontrar subsídios que sustentem uma identidade cultural própria. A despeito do caráter falível, seletivo da memória, será baseado nela que as narrativas serão estruturadas, pois segundo Paul Ricoeur “ela é nosso único recurso para significar o caráter passado daquilo de que declaramos nos lembrar”. (RICOEUR. 2007.p. 40) Ao tratarmos da temática da identidade, entendemos que a perda do sentido de si, estável como sujeito integrado, vem ocasionando o deslocamento e a descentralização do indivíduo. Consequentemente, na modernidade, notamos uma mudança significativa nos conceitos de identidade e subjetividade. Argumenta-se, nesse sentido, que, desde a virada do século XIX, o ser humano vem assistindo ao lento processo de fragmentação e fragilização da sua subjetividade, de que é o sujeito de si mesmo e da sua história. Como resultado dessas transformações, assistimos ao descentramento das chamadas identidades modernas, pois o sujeito deixa de ser visto como uno e homogêneo, passando a ser plural e heterogêneo. Stuart Hall, em A identidade cultural na pós-modernidade, inicia a discussão sobre a identidade, fazendo distinção entre três tipos de sujeito: sujeito do Iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-moderno. Na primeira concepção, teríamos um sujeito centrado, unificado. O sujeito sociológico já começava a refletir as transformações que o mundo moderno trazia, tornando aquele ser dependente das relações com o outro para ter a consciência de si. Não existia mais o sentimento de autonomia e autossuficiência que se detectava no primeiro tipo citado. A aceleração das transformações que o mundo vinha sofrendo levou o homem à terceira concepção de identidade: a do sujeito pós-moderno. Tal sujeito não teria uma identidade fixa, “O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente”. (HALL, 1993, p. 10) Eis o quadro que se desenhou até agora: a identidade cultural do homem na pós-modernidade vem sendo fragilizada desde a fase do sujeito sociológico, segundo Hall, ao sofrer ataques dos mais variados fatores, o que levou a uma fragmentação, ou para ser mais fiel aos estudos de Hall, a um descentramento. Estando descentrado, esse sujeito pós-moderno passa a buscar formas para se “ligar”, para “fazer parte” de algo que lhe restitua, de algum modo, um sentimento de identificação cultural. Seres descentrados, que se utilizarão de diversos recursos – a memória, as relações com o outro, a escrita – com o claro objetivo de encontrar aspectos referenciais ou, pelo menos, que minimizem a melancolia que a certeza da impossibilidade dessa reconstituição desperta em cada um deles. Em vista disso, a partir de conceitos como autobiografia/memória/identidade, e visando à promoção de situações de leitura individual e coletiva e de debates sobre práticas sociais humanísticas de importantes temas da agenda contemporânea, o Edital PAES UNIMONTES/2019 indica, como obrigatórias, obras literárias e outras formas de arte que exploram, entre outras, questões relativas ao processo de formação do povo brasileiro. As indicações objetivam, como competências gerais a serem desenvolvidas pelo candidato, a capacidade de confrontar, a partir das percepções estéticas, opiniões várias sobre as diferentes manifestações da linguagem, bem como reconhecer nessas manifestações a construção de um patrimônio cultural coletivo. Assim como nos anos anteriores, as obras indicadas privilegiam, desde a leitura literária, a articulação de linguagens artísticas diversas e, ainda, mantendo a identidade da Universidade Estadual de Montes Claros como instituição de integração regional, alia produções de escritores e artistas regionais com outras produzidas em outros Estados – aspecto que pretende substanciar a perspectiva temática desta edição, a qual, como acima referido, volta-se, principalmente, às possibilidades estéticas das expressões da alteridade. 2019 - LEITURAS MÍNIMAS OBRIGATÓRIAS 1ª ETAPA As obras indicadas para esta etapa têm em comum as temáticas indígenas e barrocas. Privilegiando o cruzamento entre linguagens artísticas e olhares diversos, espera-se do candidato uma leitura crítica e relacional das representações estéticas do período e suas implicações culturais e sociais. 1. Ubirajara, José de Alencar (ROMANCE)1 2. História da Província de Santa Cruz – Pero de Magalhães Gândavo (CRÔNICA)2 3. O Guarani, Norma Benguell (FILME)3 4. Desembarque de Cabral, Oscar Pereira da Silva (PINTURA)4 5. Seleção de Obras Poéticas, Gregório de Matos (POESIA)5 1 Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=166 79 2 Disponível em : http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000281.pdf 3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H_t79RdEt8Y 4 Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra6248/descoberta-do-brasil-desembarque-de-pedroalvares-cabral-em-porto-seguro-em-1500. 5 Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=182 7. 2019 - LEITURAS MÍNIMAS OBRIGATÓRIAS 2ª ETAPA Nesta etapa, as obras privilegiam o tema da memória como instrumento estruturante de produções artísticas brasileiras. O candidato deverá ser capaz de abordar, a partir da leitura literária, as variadas linguagens artísticas, evidenciando perspectiva crítica e plural de nossa formação cultural, bem como será convidado a relacionar pontos de vista distintos sobre a questão. 1. Dom Casmurro, Machado de Assis (ROMANCE)6 2. São Bernardo, Graciliano Ramos (ROMANCE) 3. Lira dos vinte anos, Álvares de Azevedo (POESIA)7 4. Faltando um pedaço, Djavan (MÚSICA) 5. Arrufos, Belmiro de Almeida (PINTURA)8 2019 - LEITURAS MÍNIMAS OBRIGATÓRIAS 3ª ETAPA Nesta terceira etapa, privilegia-se, nas obras indicadas, a representação estética do ‘eu’. Do romance à autoficção, passando pelo autorretrato, pela canção e explorando a produção literária afro-brasileira, o candidato, nesta fase, deverá ser capaz de desempenhar uma leitura sobre as formas como diferentes linguagens artísticas acionam a questão da subjetividade. Serão abordadas ainda novas formas de expressões artísticas que envolvam as evoluções tecnológicas. 1. O mulo, Darcy Ribeiro (ROMANCE) 2. A teus pés, Ana Cristina César (POESIA) 3. Tecnopoesia, Antônio Miranda (SITE) 4. Cadernos Negros, v. 40 (CONTOS) 5. Priapo de ébano, Amelina Chaves (CONTOS)9 6 Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=188 8. 7 Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=165 39 8 Disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/arrufos/mQFUu5466NFkCA?hl=pt-BR 9 Os exemplares de Priapo de Ébano estarão disponíveis na Palimontes, Rua Padre Augusto, 317, Centro, Montes Claros. 6. Diversidade, Lenine (MÚSICA) REFERÊNCIAS ALENCAR, José de. Ubirajara. São Paulo: Martin Claret, 2002. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action =&co_obra=16679 ALMEIDA, Belmiro de. Arufos. Disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/arrufos/mQFUu5466NFkCA?hl=pt-BR. ÁLVARES DE AZEVEDO. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L&PM, 1998. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action =&co_obra=16539 BENGUELL, Norma. O Guarani. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H_t79RdEt8Y. Cadernos Negros 40: contos afro-brasileiros. Organização de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2017. CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. CHAVES, Amelina. Priapo de ébano. Belo Horizonte: Cuatiara, 2007. ECO, Umberto. Sobre a literatura. Tradução Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2003. GÂNDAVO, Pêro de Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Disponível em : http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000281.pdf HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 6. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. MACHADO DE ASSIS. Dom Casmurro. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action =&co_obra=1888. MATOS Gregório de. Seleção de Obras Poéticas. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action =&co_obra=1827. MIRANDA, Antônio. Tecnopoesia. Disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/tecnopoesia.html. RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Ed. 88. Rio de Janeiro: Record, 2009. RIBEIRO, Darcy. O mulo. São Paulo: Editora Global, 2014. RICOEUR, Paul. A Memória, a História, o Esquecimento. Campinas – SP: Editora da UNICAMP, 2007. SILVA, Oscar Pereira da. Desembarque de Cabral. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra6248/descoberta-do-brasildesembarque-de-pedro-alvares-cabral-em-porto-seguro-em-1500.


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