segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Seds afirma que Janaúba terá centro para jovens infratores
Calor, ambientes abafados e profissionais exaustos devido ao excesso de trabalho: esta é a realidade que boa parte dos adolescentes infratores de Minas Gerais enfrenta ao cumprirem medidas socioeducativas no Estado. As 32 unidades destinadas ao tratamento dos menores, sendo 22 centros e dez casas de semiliberdade estão superlotadas: segundo a Seds (Secretaria de Estado de Defesa Social), são 1.308 vagas divididas entre 1.545 jovens. Ou seja: cerca de 20% a mais do que a capacidade do Estado.
—O filho da promotora de vendas, Carla Patrícia, faz parte das estatísticas: ele cumpre medida socioeducativa por assalto em uma casa de semiliberdade do bairro Planalto. Embora comemore as mudanças de comportamento do rapaz, Carla critica a estrutura oferecida à jovens como ele. Ela alega que o filho, “que não costuma reclamar”, comenta que sofre com o calor e o excesso de pessoas no local.
—Eu não deixo ele reclamar muito, porque foi ele quem procurou. O pessoal de lá é super eficiente, mas eles também estão sofrendo com a superlotação, eles fazem o que dá para os meninos.
A promotora de vendas conta ainda que o filho teve uma passagem de cerca de três meses em outra unidade, desta vez no bairro Jaqueline. Indignada com o atendimento, ela denuncia as condições precárias do imóvel.
—Aquilo não recupera ninguém não. Tinha vez que não tinha nem água para os meninos tomarem banho.
Caminhos errados
Mestre em psicologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria Clara Jost lançou recentemente o livro “Por trás da Máscara de Ferro”, e esteve frente a frente com jovens que encaram o desafio da recuperação. A especialista explica que a maior parte dos adolescentes infratores sofre com problemas de autoestima e veem no crime como “maneira de existirem”. Maria Clara relata que o sentimento entre os menores é o mesmo: eles alegam que são tratados como “lixo” e se sentem um número a mais para a sociedade.
—Eles têm a sensação de que se morrerem ou não, não fará diferença, isso é extremamente despersonalizante. Perdendo o próprio valor, a vida do outro vai perdendo também.
Para ela, “os caminhos estão errados” no que diz respeito à ressocialização dos infratores. A psicóloga aposta em um sistema embasado no resgate do ser humano, de forma a oferecer aos jovens um novo sentido para a vida.
— Eles querem ajuda, mas é preciso pensar em um tratamento individualizado, com espaços menores, para que eles aprendam coisas novas. Muitos têm esperança e acreditam que é possível mudar, desde que haja alguém que acredite nesta mudança.
Providências
Em nota, a Seds informou que novas unidades de cumprimento de medidas socioeducativas serão inauguradas até o final do ano que vem em Passos, Vespasiano, Janaúba, Tupaciguara e Ipatinga, com cerca de 40 vagas cada. Além disso, os centros já existentes passarão por readequações, segundo orientação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).
O Governo de Minas vai criar ainda 600 novas vagas para o cumprimento de medidas em meio aberto, como prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida. O órgão reforçou ainda a existência do programa Se Liga, que “que contribui para a sustentação ou continuidade de projetos construídos durante o cumprimento da medida e auxilia na construção de novas oportunidades para os jovens”.
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