quarta-feira, 27 de maio de 2015

Janaúba - Violência dispara no Norte de Minas

JANAÚBA
Localizado a 135 quilômetros de Montes Claros, o município de Janaúba, com pouco mais de 70 mil habitantes, também pena com a criminalidade. Nos últimos três anos e quatro meses, 1.412 crimes violentos foram registrados na capital do Vale do Gorutuba e Serra Geral de Minas, com média de 35,3 ocorrências mensais. O receptivo povo janaubense sofre também com o crescimento do número de homicídios. No período, 77 pessoas foram imoladas no município, com média de quase dois crimes por mês.
Só no primeiro quadrimestre, 12 homicídios ocorreram em Janaúba, com média de três mortes mensais. Entretanto, 18 assassinatos já ocorreram até este mês de maio, com média de 3,6 mortes mensais. Em relação aos roubos nos últimos anos, 1.094 ocorrências foram registradas, com média de 27,3 por mês. De acordo com o blog do jornalista Oliveira Júnior, 153 pessoas foram assassinadas em Janaúba nos últimos nove anos
Banalizada, a violência deixou de ser um fenômeno social e ganhou rótulo de terrorismo num Brasil de leis benévolas e opiniões hipócritas daqueles que se acham donos da verdade. Fincada entre o Nordeste e Sudeste do País, o Norte de Minas parece estar se transformando em terra de ninguém, com a violência avançando e se alastrando por todos os lados, principalmente no rastro do desenvolvimento, onde o sistema de segurança e a presença do Estado deveriam estar fortalecidos. Um exemplo é Montes Claros, detentora do segundo maior entroncamento rodoviário do País, respeitado pólo industrial com multinacionais, rico centro universitário e referência nacional na prestação de serviços.
Outro exemplo é a Serra Geral de Minas, importante eixo de perímetros irrigados do Governo Federal, entre os municípios de Jaíba, Verdelândia e Janaúba, tendo na sua aba uma espécie de cidade satélite Nova Porteirinha, separados apenas pelo Rio Gorutuba. Interligadas pela BR/MG-122 e MG-401, as cidades sofrem com a aceleração da violência, como um projétil disparado por uma arma de fogo em direção às suas entranhas. O mesmo progresso que alavancou o crescimento do território parece metralhar os seus sistemas de defesa, de educação, de saúde e suas ações sociais. Confusões acontecem a todo o momento e muitas mortes ocorrem por motivos banais, como a carnificina gerada após um desentendimento por causa do volume de sons de carros altos no município de Jaíba.

ÁREA DE RISP
Apesar de todos os esforços dor organismos policiais, a violência avança pelo território norte-mineiro, promovendo derramamento de sangue e pulverizando medo em todos os cantos da região. Os dados são da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS). Na área de abrangência da 11ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP), sediada em Montes Claros, foram registrados 12.572 crimes violentos nos últimos três anos e no primeiro quadrimestre de 2015, com média de 314,3 ocorrências por mês. Foram 2.866 em 2012, 3.871 em 2013, 4.054 no ano passado. Entre janeiro e abril deste ano, foram 1.781 crimes violentos, com a assustadora média de 445,2 fatos por mês.
O Brasil não está em nenhuma guerra política, mas a guerra social vem matando mais gente do que se o País estivesse num campo de batalha contra outras nações. Entre 2012 e abril deste ano, 721 pessoas foram assassinadas na área da RISP, com média de 18 mortes por mês. Foram 248 em 2012, 209 no ano seguinte, 184 em 2014 e 81 apenas nos quatro primeiros meses deste ano, com média de 20,2 homicídios mensais. Vale lembrar que não estão computadas as mortes subnotificadas, aquelas em que as pessoas morrem depois nos hospitais. Os números da SEDS nunca batem com os que são divulgados pela Imprensa, mas conforme a Secretaria de Defesa Social, só em Montes Claros 261 pessoas foram mortas nos últimos três anos e quatro meses.

MONTES CLAROS
Capital simbólica do Norte de Minas, Montes Claros lidera todos os rankings socioeconômicos da região e até do sul da Bahia, entre eles os relatórios da violência, afinal tem uma população aproximada de 450 mil habitantes, além de cidadãos de outros municípios que estudam e trabalham em seu território. Nos últimos três anos e quatro meses, 7.417 crimes violentos foram registrados pela SEDS no município, com média de 185,4 ocorrências mensais. Foram 1.695 fatos em 2012, 2.298 no ano seguinte e 2.382 no ano passado. Entre janeiro e abril deste ano, foram 1.042 ocorrências, com impressionante média de 260 crimes violentos por mês, dura realidade que tem aprisionado o cidadão montes-clarense dentro de suas próprias casas.
De acordo com números da SEDS, 261 pessoas foram assassinadas em Montes Claros nos últimos anos, com média 6,5 mortes por mês, patrocinadas principalmente pelo poder de fogo dos pistoleiros do tráfico de drogas, câncer que se alastra por todo o município, inclusive na outrora pacata zona rural. Foram 105 homicídios em 2012, 79 no ano seguinte e 58 em 2014. Nos quatro primeiros meses deste ano, pela contabilidade da SEDS, foram 19 assassinatos. Mas de janeiro a maio já passam de 30 vidas ceifadas pela violência, que se mostra irredutível e aterrorizadora, inclusive com casos de linchamentos, mortes em tiroteios com a Polícia e até de agentes penitenciários.

LADROLÂNDIA
Os organismos policiais destacam que as mortes são executadas principalmente pelo tráfico de drogas, que por sua vez é alimentado pelos furtos e roubos, com destaque para os assaltos à mão armada, com abordagens ao cidadão de forma cada vez mais violenta e cruel. No meio dessa cadeira criminosa está o receptador, figura que pouco aparece e pouco é combatido, mas que exerce importante função na criminalidade. Nem campanha existe para combater esse verme que serve de eixo entre o narcotráfico e os ladrões de carteirinha. Nos últimos anos, os roubos consumados vêm crescendo e deixando a população cada vez mais refém do medo e até mesmo com vontade de fazer justiça com as próprias mãos, o que é perigoso e não aconselhável.
Por causa do grande volume de roubos, parte da sociedade começou a chamar Montes Claros de “ladrolândia” e “ratolândia”. Entre 2012 e o primeiro quadrimestre deste ano, foram registrados 6.477 casos no município, com aterradora média de 161,9 por mês. Foram 1.380 ocorrências policiais em 2012, 2.006 em 2013 e 2.134 no ano passado. Neste ano já são 947 roubos, com média de 236,7 mensais. Vale lembrar que, por medo ou descrença, muitas vítimas não registram boletim de ocorrência (BO), argumentando ainda que pouco resolve, já que, mais cedo do que se imagina, grande parte dos ladrões, principalmente menores de idade, estará novamente nas ruas, atacando e fazendo outras vítimas.
Os bandidos não escolhem hora, região ou local para assaltar. Atacam tudo. Até mesmo a Mitra Diocesana foi vítima dos ladrões recentemente, quando dois marginais roubaram R$ 7 mil e pertences das vítimas. Entretanto, nem todos bandidos se safam. Dois homens, que estavam presos e ganharam liberdade temporária para o Dia das Mães, acabaram recapturados após tentativa de assalto a uma casa lotérica, de onde levariam R$ 30 mil. Voltaram para “casa”.



JAÍBA
Considerado município que mais cresce em Minas Gerais demogra-ficamente, Jaíba também vem sendo dominado pela violência com requinte de crueldade. De acordo com a SEDS, 10 pessoas foram assassinadas no primeiro quadri-mestre do ano, mas conforme informações da imprensa da Serra Geral de Minas 15 pessoas já foram mortas no município de pouco mais de 36 mil habitantes localizado a 206 quilômetros de Montes Claros, com média de três homicídios por mês. Nem uma jovem grávida de cinco meses escapou da barbárie que vem aterrorizando a população.
Nos primeiros quatro meses deste ano, 84 crimes violentos foram registrados no território do Projeto Jaíba, maior perímetro de irrigação e produção de alimentos da América Latina. Uma confusão por casa de som de carro alto também culminou em briga, perseguição e mortes de duas pessoas. O número de roubos também tem assustado os moradores. Entre janeiro e abril, 59 foram registrados em Jaíba, com média de 14,75 por mês. Em relação aos últimos três anos e quatro meses, foram 345 crimes violentos no município e 39 assassinatos. No período, 26 pessoas foram mortas em Verdelândia e Nova Porteirinha, vizinhos de Janaúba e Jaíba, com 15 homicídios no primeiro e 11 no segundo município.

PIRAPORA E VIZINHOS
A violência também disparou no circuito entre Pirapora, Buritizeiro e Várzea da Palma. Localizada a 169 quilômetros de Montes Claros, a cidade piraporense, com cerca de 56 mil habitantes, teve 1.525 crimes violentos nos últimos 40 meses, sendo 477 em 2012, 515 no ano seguinte, 411 em 2014 e 122 entre janeiro e abril deste ano, com média de 38 casos por mês. No período foram 39 mortes: 10 em 2012, oito em 2013, 15 no ano passado e cinco no primeiro quadrimestre deste ano, além de 1.265 roubos, com média de 31 casos por mês, com tendência de recorde negativo ao final de 2015.
Separada de Pirapora pelo Rio São Francisco, Buritizeiro chegou à marca de 38 homicídios nos últimos quatro anos e quatro meses, sendo 15 em 2012, 13 no ano seguinte, oito no ano passado e dois neste ano. Foram 362 crimes violentos no período, 64 apenas no primeiro quadrimestre deste ano. Os roubos já somam 295, 52 apenas entre janeiro e abril no município de aproximadamente 28 mil habitantes.
Em Várzea da Palma, foram 815 crimes violentos nos últimos 40 meses, com 47 homicídios e 608 roubos. Apesar de estar em queda, o número de assassinatos assusta a população do município de aproximadamente 38 mil habitantes por ser maior do que as estatísticas de Pirapora, que é uma cidade bem maior. Estes são dados de apenas algumas cidades do Norte de Minas, aonde a violência vem disparando e aterrorizando todo mundo. Mas a criminalidade também é alta em outros municípios da região, o que exige uma resposta rápida e contundente por parte da Federação e do Estado para conter o derramamento de sangue. Os dados podem ser conferidos no portal www.numeros.mg.gov.br.

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