A especialista Marilia afirma que a ideação suicída dos jovens é influenciada pelo imediatismo e consumo na era das mídias digitais
A campanha do mês Setembro Amarelo é voltada à conscientização contra o suicídio, com a intenção de previnir o autoextermínio e incentivar pessoas com ideação suicída a procurarem ajuda em meio às pressões vivenciadas na pós modernidade.
Segundo a psicóloga especialista em psicologia da saúde e hospitalar, Marilia Carvalho que atua no Ânima Centro Hospitalar, em Anápolis, é preciso analisar o tipo de pressão que o indivíduo pode estar sofrendo, “seria uma pressão social, emocional, interna?”.
A profissional iniciou dizendo que o suicídio é multifatorial, e “não é um gatilho de hoje que vai levar a pessoa ao autoextermínio, é uma questão multi e de tempo”.
Uma em cada 100 mortes ocorrem por suicídio no mundo, conforme relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 17 de junho deste ano, 2021. As estatísticas também apontaram que é a quarta causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos.
“É bom pensar o suicídio como um pedido de socorro desses jovens para a família e para a sociedade”, a especialista alerta que a tentativa de autoextermínio é um modo de saída das dores emocionais insuportaveis, e não uma intenção de morte como término de tudo.
De acordo com Marilia, as notificações no hospital provém a maioria de mulheres, “a estimativa é que para cada morte, já houveram de 10 a 20 tentativas”, enquanto que o suicídio é maior entre os homens, que não chegam a ser atendidos, pois “consolidam o ato”.
Pós-modernidade
A profissional interpreta a pressão dos “últimos tempos” como o imediatismo, “o mundo de hoje é imediato, a gente precisa ter sucesso agora, precisamos de saúde mental agora, estar plenos nas relações emocionais agora”, e afirma que o fato de pensarmos que não há chance para errar é o que causa pressão nos indivíduos.
De acordo com a psicóloga, o contexto que os jovens estão inseridos influencia na construção da identidade. “Ser jovem é ser construído, é a idade da construção”. E atualmente as mídias digitais facilitaram a comunicação e a diversidade de informações cotidianas, no entanto afastaram “o contato de vinculação do compromisso afetivo entre as pessoas”.
A psicóloga conta que, “as redes sociais trazem grandes exigências de sucesso profissional, pessoal e de consumo, de forma imediata”. E questiona: “Será mesmo que a gente precisa ter sucesso profissional, financeiro aos trinta? Será que a gente precisa mesmo conseguir escolher nossa profissão pro resto da vida aos dezoito? Será que a gente precisa consumir tudo o que nos é oferecido pela tecnologia?”.
Acrescentou que, precisamos fazer tais perguntas para nos levar a pensar sobre a ideação suicída por tais pressões sociais, internas e emocionais que são mais intensas durante a juventude.
Cuidados e Ajuda
As políticas públicas precisam ser multidisciplinares e alerta que é necessário uma atenção geral dentro dos hospitais e no convívio social para perceber possíveis vítimas, encaminhando-as à saúde, e evitando que mulheres e homens consolidem o autoextermínio.
“A gente precisa sensibilizar as equipes de saúde para que a procura dessa ajuda seja acolhedora e afetiva para a prevenção de novos atos ou tentativas suicidas”. E além dos cuidados por parte dos profissionais, “a sociedade precisa ter uma atenção especial ao fenômeno do suicídio”.
É importante lembrar que é necessário e normal pedir ajuda à conhecidos e profissionais, é o caso do Centro de Valorização da Vida (CVV), no qual, as pessoas podem ligar gratuitamente discando 188, e é disponível 24h por dia.
A psicóloga aconselhou que o jovem tem tempo para ser jovem, e pode “tentar vários empregos, relacionamentos, escolhas”, que é o “descompromisso com o processo produtivo”. E alega, “não precisamos ter sucesso profissional, pessoal, e de consumo hoje, é um processo de caminhar para a preparação à vida adulta”.
Reforçou que as exigências de sucesso podem ter um tempo pra acontecer e que, “como humano, temos a chance de fracassar para sabermos o que é realmente certo, as pessoas não acreditam que a felicidade é um processo”.
Além disso, ressaltou a importância do apoio de pessoas: “É fundamental estabelecer vínculos, se importar de verdade, escutar de forma aberta sem julgamentos, somente assim, possivelmente a gente vai garantir um trabalho efetivo. O sentido da vida é uma busca, não estagnada, não cristalizada, a gente busca e busca de novo o sentido da vida, a cada dia, um dia de cada vez.”
“Em momentos de desespero ao enfrentar o dilema entre existir ou não existir, que possamos com ajuda plena e de uma rede de apoio familiar, de amigos e da saúde, existir”, finalizou.
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