Cresce o número de negros universitários, mas eles ainda são minoria em cargos de chefia nas empresas
No Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, em 21 de março, especialista analisa a presença do negro nas universidades e mercado de trabalho
A desigualdade social é um dos mais complexos desafios da economia mundial e envolve a diferença de oportunidades entre grupos específicos. No mês de março, as discussões giram em torno da luta pela eliminação da desigualdade racial, problema estrutural que persiste e revela a fragilidade de políticas públicas para o seu enfrentamento. No campo educacional, no entanto, é possível enxergar um panorama positivo. Entre 2010 e 2019, o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%, chegando a 38,15% do total de matriculados, de acordo com o site Quero Bolsa. Mas o percentual ainda é baixo se considerada a representatividade no conjunto total da população de 56%.
Mesmo com o crescimento da entrada de estudantes negros nas faculdades e universidades do país, aqueles que conseguem se formar enfrentam o desafio de conseguir exercer a sua profissão quando chegam no mercado formal de trabalho. No Brasil, 37,9% dos homens e 33,2% das mulheres negras com diploma de ensino superior trabalham em cargos que não exigem o diploma, segundo pesquisa de 2020 do Instituto iDados usando informações do IBGE. “Maioria dos pretos e pardos com ensino superior têm posições operacionais e técnicas, ou seja, a mão de obra negra qualificada ainda tem dificuldades de encontrar um emprego correspondente ao seu grau de instrução”, explica o professor de economia da Una, Mussa Vieira.
Se a análise abranger os cargos de chefia, os trabalhadores negros têm participação reduzida em posições de média e alta gestão. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram que 31% dos cargos de diretoria são ocupados por pessoas negras, enquanto os não negros somam 69%. “E a pouca representatividade em cargos de liderança gera o fenômeno de salários menores. De acordo com o Instituto Locomotiva, com a mesma formação superior, homens negros têm uma renda média mensal de R$ 4.990,00, enquanto os não negros possuem remuneração média mensal de R$ 7.286,00, ou seja, uma diferença salarial de 46,01%”, ressalta o professor.
Racismo estrutural
“O ponto que enxergo como positivo é que cada vez temos mais espaço para discussões sobre igualdade racial, seja dentro das empresas, seja dentro das universidades. E o dia 21 é uma oportunidade de reflexão sobre as relações raciais no Brasil, tendo em vista a desigualdade que ainda coloca a população negra em lugar de desvantagem em diversas instâncias, como educação e trabalho. Mesmo com um longo caminho a trilhar, o fato de termos um olhar voltado a essas questões já nos abre um bom leque de possibilidades. O racismo estrutural é fruto da própria estrutura social, de modo com que se constituem as relações políticas, econômicas, judiciais e até familiares”, destaca Mussa.
Segundo ele, a desigualdade identificada no mercado de trabalho tem diferentes razões, todas elas motivadas pelo racismo estrutural, que impõe diferenças em diversos aspectos da vida de pessoas brancas e pretas, como acesso à educação e trabalho. “Para que essa estrutura se rompa, é preciso que as ações afirmativas para o mercado de trabalho estejam presentes em todos os níveis de vagas. É necessário pensar a proporcionalidade de maneira hierárquica. Enquanto não tivermos profissionais negros em cargos de liderança, não conseguiremos fazer com que essas ações ganhem uma proporção no longo prazo. Já chega de ver o negro como membro da sociedade para atores coadjuvantes, prática de futebol e música. Os negros têm capacidade para ocupar cargos do executivo de grandes empresas, médicos, jornalistas e professores universitários” conclui Mussa Vieira.
Fernanda Teixeira Relacionamento com a Imprensa Rede Comunicação de Resultado (31) 9 9887-2520 |
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