sábado, 25 de junho de 2016

Saída para Manga é ponte ou o asfalto da BR-135? Nem uma nem outra: falência do Estado não aconselha otimismo

DE VOLTA A PONTE DO RIO QUE CAI

NO 24 JUNHO 2016.
Saída para Manga é ponte ou o asfalto da BR-135? Nem uma nem outra: falência do Estado não aconselha otimismo
 
Sonhos de décadas, pavimentação da BR-135 perde mais uma chance de virar realidade. Briga pela ponte é outra quimera em tempos de crise nas finanças estatais  
A definição do local onde poderá ser instalado o eixo da ponte entre Manga e Matias Cardoso, um dia quem sabe, em futuro incerto e não sabido, rendeu recente e bom debate entre crédulos e os céticos de plantão. A polêmica pode ser relembrada aqui pelos meus 17 leitores e afins. O assunto é da máxima importância para os moradores e a economia de alguns municípios do extremo Norte de Minas, que esperam, há um bom par de décadas, por uma solução que nunca chega.
O sonho da retomada da pavimentação da BR-135 até a divisa com o Estado da Bahia tem sido adiado desde os anos 1970 da década passada. Esteve mais próximo com a instalação de canteiros de obra da extinta Construtora Ferreira Guedes na saída de Januária, na altura da antiga Fundação Caio Martins, e outro em Mocambinho, durante o governo Newton Cardoso (PMDB), de tão péssima memória. O risco negro do asfalto até avançou, alguns anos depois, mas só chegou até as franjas da cidade de Itacarambi.
O tempo passou, assim como a Lusitana roda e outra onda de esperança surgiu com a subida do Partido dos Trabalhadores ao pode, em 2002, que possibilitou a surpreendente ascensão do deputado Paulo Guedes ao status de ‘plenipotenciário’ do Norte de Minas. O deputado conseguiu se eleger para três mandatos sucessivos e se tornou figura de referência para a retomada do asfalto ao levar o então ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos a Manga e Montalvânia, em junho de 2010, em dia de jogo do Brasil pela Copa do Mundo da África do Sul. O ministrou assinou as ordens de serviços que autorizava a construção de três trechos da rodovia entre Manga e o povoado de Pitarana, na divisa com a Bahia.
O mais da história é conhecido. Três empresas cuidaram do asfalto entre Manga e Pitarana. Duas delas conseguiram levar as obras adiante, por sinal muito bem-feitas, mas a terceira empresa quebrou, deixando para trás 18 quilômetros de terreno revirado. Restaram, dessa intervenção da Era Lula, o saldo de uma piada pronta e mais um exemplo de desperdício de recursos e má gestão da coisa pública. A piada: os trechos asfaltados da estrada levam nada a lugar nenhum, além de acabar com uma ponte no meio do nada. Há asfalto entre Manga ao povoado de Monterrey, onde o motorista volta ao chão batido até Montalvânia. A partir dali, há outro trecho pavimentado até a divisa com a Bahia, onde fica a ponte novinha e sem uso. A partir daí, é chão até Cocos.
Ponte na BR-135 na divisa entre os estados de Minas e Bahia: descaso do governo federal liga nada ao lugar nenhum 
Noutra direção, o trecho entre Manga e Itacarambi, em Minas Gerais, o que mais importa, porque retira a região do seu atual isolamento, sequer houve início das obras – por motivos os mais variados, que omito aqui em razão da economia de espaço. No auge do mando petista, o ex-deputado federal Virgílio Guimarães chegou a dizer que, caso a estrada não saísse, a população não precisava mais votar em candidatos do partido. De volta a Paulo Guedes, é preciso reconhecer que ele efetivamente se empenhou pelo asfaltamento da BR-135. Esteve em Brasília para incontáveis audiências no Ministério dos Transportes e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), mas ficou subitamente mudo sobre o assunto quando ficou patente que o governo da companheira Dilma Rousseff não daria continuidade às obras. Guedes ainda paga alto custo político por mais esse fracasso no sonho da pavimentação da BR-135 naquele fundão das Gerais.
Sua nova cruzada agora é pela construção da ponte sobre o Rio São Francisco entre Manga e Matias Cardoso, onde o asfalto chega até o barranco na margem oposta àquela ligada pela BR-135. Será mais uma batalha inglória, porque o legado e a fatura da soma dos 13 anos dos governos Lula e Dilma ainda vão atormentar o povo brasileiros por décadas. O país quebrou e o governador petista em Minas, Fernando Pimentel, sequer consegue pagar os salários em dia. Uma ponte em Manga passa para a o fim da fila das prioridades do Estado.
O principal ativo de um político é a sua capacidade de vender sonhos e esperanças. Paulo Guedes é um craque nesse mister, como o demonstra sua performance em vídeo que gravou ao lado de populares de uma esquecida comunidade rural dos grotões de Minas. Candeeiro a querosene nas mãos, ele promete apadrinhar a chegada do Luz Para Todos, um desses programas federais que gerou mais expectativa que fatos concretos. Do ponto de vista do marketing político, a performance do deputado é invejável. Animada por receber a visita de autoridade talvez pela primeira vez em sua história, a comunidade entra no clima e participa do jogral para pedir empenho do governo estadual e da Cemig para iluminar suas noites sertanejas.
O risco em questão é o benefício não chegar, ou demorar décadas para acontecer – como é o caso da BR-135, que só andou mesmo no dia em que o então vice-presidente da República José Alencar ligou para o ministro Guido Mantega e exigiu providências. A ligação resultou na entrada do departamento de engenharia do Exército no assunto. Foi aí que a roda girou, até parar de novo. A ponte sobre o rio São Francisco é mais uma dessas empreitadas condenadas a cair no esquecimento. O governador Fernando Pimentel liberou R$ 1,8 milhão para o projeto-executivo da ponte. A verba é insuficiente para cobrir os custos dessa etapa inicial, mas o pior nem isso: não há recursos no orçamento para tocar a obra.
Há ainda o fato controverso de que o governo estadual acabou de licitar a travessia Manga/Matias Cardoso pelo prazo de 15 anos. O que está valendo como prioridade: a ponte ou o contrato que privatiza a prestação do serviço? Talvez fosse melhor que deputado e governador adotar como prioridade a pavimentação da BR-135 nos 48 quilômetros que separam Manga e Itacarambi. Matariam dois coelhos com uma só cajadada: a demanda história do asfalto seria resolvida e Manga ainda ganharia sua ponte, que já está pronta, ali naquele elevado onde fica Pedras de Maria da Cruz. #Pronto, falei!

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