quarta-feira, 29 de julho de 2015

ÁGUA QUE BOI NÃO BEBE


NO TERÇA, 28 JULHO 2015 20:01.
Uma garrafa da cachaça Havana custa R$ 529,90 (foto) em um supermercado desses de conveniência aqui de Brasília. Fabricada em Salinas (MG), há mais de 70 anos, a Havana é considerada pelos especialistas como a melhor do país. Já a marca Anísio Santiago, criada por conta de litígio judicial com o grupo cubano Havana Club, em homenagem ao nome do patriarca da família, e que traz o mesmo conteúdo da Havana sai mais barato, R$ 315,90 no mesmo mercado. 

A Havana virou uma espécie de mito entre os apreciadores da bebida. Há alguns anos, vi ali nas imediações da Avenida Paulista, coração financeiro do país, o custo da garrafa da bebida norte-mineira sair por alguma coisa próxima a R$ 350, quando vendida em doses. Na internet, é possível encontrar imagens do produto com indicação de preço de R$ 580. A família Santiago certamente não consegue faturar em proporção com a fama que a sua cachaça conquistou. Coisas do capitalismo.
Mas qual é o segredo do sucesso da Havana? Segundo Roberto Santiago, a cachaça produzida em Salinas conquistou o paladar de degustadores, especialistas e personalidades ilustres do Brasil e do exterior por conta da "manutenção do processo de produção artesanal, sem a utilização de adubação química, e a utilização de fermento natural e o envelhecimento".

O pioneiro Anísio Santiago (1902/2002) contrariou 
todos os manuais do marketing, algo que ele nem sabia o que é, ao desenvolver padrão de qualidade que valoriza a escassez de oferta da Havana no mercado -- o que contribuiu para conquistar consumidores de maior poder aquisitivo, geralmente das classes média e alta, acostumados com a degustação de bebidas importadas e, portanto, capazes de valorizar o diferencial da cachaça de Salinas. "A Havana fez tanto sucesso que se tornou produto mitológico. Quem tem garrafa guarda como se fosse um tesouro. É consumida somente em ocasiões muito especiais", exulta Roberto.
As características do solo da faixa do semiárido que abriga Salinas também contribuíram para a adaptação da variedade de cana Java. Também vale para diferencias as marcas Anísio Santiago e Havana, o conhecimento empírico acumulado por produtores em pelo meos três gerações da família Santiago. Outro segredo 'entregue' pelo herdeiro Roberto é arte da paciência na produção da cachaça. Anísio Santiago costumava dizer que o produtor artesanal 'não pode ter usura' e esquecer o lucro imediato com a sua produção. Uma garrafa de Havana produzida nos anos 1960 teria sido leiloada por nada mais, nada menos do que R$ 15 mil há alguns anos. Considerando que os atravessadores ficam com boa parte do custo final do produto, não se pode mesmo ter usura.    

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