quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Filha de ex-prefeito Alberto Bejani é indiciada por estelionato em MG - Tatiana Bejani confessou que usou sites da internet para aplicar golpes. Seis casos foram encaminhados para a Justiça em Juiz de Fora.


Suspeita está na penitenciária em Juiz de Fora
(Foto: Roberta Oliveira/ G1)


Foram encerrados os seis casos de golpes de compra e venda pela internet envolvendo a juiz-forana Tatiana dos Santos Bejani, de 28 anos, filha do ex-prefeito da cidade, Alberto Bejani. A afirmação é do delegado Eurico Cunha, da 7ª Delegacia da Polícia Civil de Juiz de Fora. Ele informou ao G1 que, após o depoimento e as apurações a jovem foi indiciada por estelionato em todos os inquéritos.
Tatiana Bejani tinha dois mandados de prisão em aberto por estelionato. De acordo com denúncias publicadas no jornal O Globo, no início de janeiro, ela oferecia casas em locais do litoral brasileiro em páginas de negociação pela internet. As vítimas que buscavam locais em Cabo Frio (RJ) e Natal (RN) deram entrevistas explicando que, após fazer o pagamento descobriam que os locais anunciados não existiam. Segundo levantamento de O Globo, 12 pessoas denunciaram o golpe em delegacias do Rio de Janeiro, em outras cidades como Cabo Frio, Campos, Volta Redonda e Valença, além da Delegacia de Crimes de Internet, entre 2012 e 2014.
Sobre o quanto a suspeita pode ter lucrado com o golpe, o delegado Eurico Cunha disse que não dá para calcular. “Qualquer valor é estimativa, um chute, não temos este prejuízo causado às vítimas”. Agora a continuidade do processo será com a Justiça em Juiz de Fora.
Tatiana Bejani está presa na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires desde o dia 21 de janeiro, quando foi localizada em um salão de beleza no Centro da cidade. Por ter fornecido nome falso à Polícia Militar na hora da abordagem, Tatiana foi detida e levada para a delegacia de plantão, onde prestou depoimento e assinou Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO) por falsa identidade. As buscas pela suspeita começaram em 9 de janeiro. Contra ela existiam dois mandados de prisão datados de julho de 2012 e junho de 2013, ambos por estelionato.
A suspeita admitiu em depoimento à 7ª Delegacia da Polícia Civil que aplicou os golpes de estelionato pela internet e afirmou que vítimas foram ingênuas.
De acordo com o delegado Eurico da Cunha Neto, ela confirmou que as casas prometidas no anúncio não existiam e afirmou que as vítimas foram “muito inocentes” em não checar a vericidade dos anúncios. “Segundo ela, os valores eram muito abaixo do mercado e as vítimas também queriam levar vantagem”, relatou o delegado ao G1.
Ainda conforme Eurico da Cunha Neto, a presa não demonstrou arrependimento em nenhum momento. “Eu lucrei muito, eu vivi muito. Tudo que eu pagar agora valeu a pena. Fiquei nos melhores hotéis, viajei, tudo com dinheiro disso aí”, disse o delegado, lendo trecho do depoimento de Tatiana dos Santos Bejani.
Tatiana também disse em depoimento que nenhum dos sites verificou se os anúncios eram verdadeiros. Por meio de nota, a OLX informou que não participa nem interfere nas negociações realizadas no site, porque o negócio da empresa consiste em oferecer uma plataforma de classificados gratuita que facilite a interação entre vendedores e compradores para que negociem diretamente. A OLX afirmou, ainda, que está à disposição das autoridades para colaborar no que for necessário. Anteriormente, a empresa já havia declarado que o anúncio da suspeita foi tirado do ar.
Também em nota enviada ao G1, o Bom Negócio destacou que bloqueou a usuária, impedindo-a de anunciar no site, assim que recebeu denúncias de outros usuários. O Bom Negócio explicou que tem uma equipe de suporte, responsável pela aprovação e qualidade dos anúncios que entram no site e que a empresa também se esforça para informar os usuários com dicas para efetuar uma compra segura e nas páginas de cada anúncio, onde alerta expressamente para que o usuário não realize qualquer pagamento antes de verificar o bem ou serviço. Além disso, a nota afirma que quem desconfiar de algum anúncio poderá denunciá-lo para que a empresa adote as devidas providências. A empresa destacou que o contato e comunicação são feitos diretamente entre comprador e vendedor, sem que o site tenha acesso ao acompanhamento acerca da transação iniciada e que está sempre disponível para ajudar no que for necessário e colaborar com a investigação dentro da legalidade.
Falso anúncio casa Tatiana Bejani Juiz de Fora (Foto: Roberta Oliveira/ G1)Falso anúncio casa Tatiana Bejani Juiz de Fora (Foto: Roberta Oliveira/ G1)
Transtornos para a família Bejani
Em entrevista ao G1 no mês de janeiro, a advogada Carla de Oliveira Bejani contou os problemas que enfrentou por causa da suspeita de estelionato contra a meia-irmã. A advogada afirmou que as vítimas a procuraram nas redes sociais para falar sobre o golpe. "Conversei com eles, expliquei a situação", ressaltou. A advogada reforçou que não tem contato com a irmã por parte de pai. "Nunca tive qualquer relação mais próxima com ela", afirmou.
Carla inclusive compartilhou um alerta divulgado pelas vítimas para impedir novas pessoas caiam no mesmo golpe. "Tem gente que confunde, mas eu não tenho nada a ver com isso", reforçou. O ex-prefeito de Juiz de Fora Carlos Alberto Bejani disse à produção do MGTV em Juiz de Fora que não tem contato com Tatiana, não sabe onde ela está e que foi informado pela imprensa da situação envolvendo a filha.
Acusações contra ex-prefeito
Em 2008, o então prefeito de Juiz de Fora, Carlos Alberto Bejani, foi preso duas vezes. Segundo a Polícia Federal, em abril ele foi preso na Operação Pasárgada, que investigava um esquema de liberação irregular de verbas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Na ocasião, foi encontrado R$ 1,12 milhão na casa dele, além de uma arma e munição. Bejani acabou autuado em flagrante por porte ilegal de armas e ficou 14 dias preso. Já em agosto do mesmo ano, ele foi novamente preso durante a Operação "De volta para Pasárgada”. Na época, a Polícia Federal cumpriu 15 mandados de prisão, sendo sete preventivos e oito temporários. Esta última operação destinava-se, também, a comprovar a origem do dinheiro apreendido na casa do prefeito de Juiz de Fora, na medida em que, das investigações, resultaram indícios de que o mesmo não teria procedência lícita.
Ainda em 2008, o Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF-MG) entrou com uma ação de improbidade administrativa contra o ex-prefeito de Juiz de Fora. Segundo a Procuradoria da República em Minas, o ex-prefeito era acusado de irregularidades na execução de um convênio com o Ministério da Saúde para compra de uma ambulância. Bejani negou as acusações.
Ainda na época, procurado pelo G1, o ex-prefeito informou que na época não houve “nada de errado”. “Não tenho o menor temor de mostrar que tudo foi feito na legalidade”, falou.
E nesta quarta-feira (12), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), informou ao G1 que foram localizados 124 processos de diferentes tipos, ações penais, populares, civil pública, improbidade administrativa, de alimentos e execução de título contra o ex-prefeito na comarca de Juiz de Fora. No entanto, não há como precisar se ele foi condenado em todos, lembrando que todos cabem recurso até a terceira instância. Ainda conforme a assessoria do TJMG, existem 20 páginas de processos contra Alberto Bejani.
A reportagem também entrou em contato com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do estado para saber como está o andamento dos processos contra o político. Com relação às Eleições 2012, foram encontradas três ações envolvendo o Bejani.
Uma delas diz respeito a um recurso eleitoral cuja pretensão era a cassação de registro/diploma e aplicação de multa. O motivo seria o fato de uma servidora ter realizado serviço de varrição com um contêiner que tinha um adesivo contendo a foto do Carlos Bejani e os dizeres: "Vereador Bejani 17017 Estamos vivos". O recurso foi negado, e a sentença da primeira instância mantida. Mas como não houve mais nenhum recurso conhecido, e a decisão transitou em julgado (ou seja, não cabe mais nenhum recurso) em 21/01/2013.
No segundo caso, houve um recurso eleitoral contra decisão de um juiz eleitoral que julgou improcedente representação por propaganda eleitoral irregular. O recurso foi considerado improcedente e a decisão transitou em julgado em 07/12/2012.
Por fim, houve um recurso eleitoral contra a decisão de um juiz eleitoral que impugnou o registro de candidatura do Bejani ao cargo de vereador. O motivo foi porque o ex-prefeito renunciou ao cargo de prefeito, que ocupou entre os anos de 2005 e 2008, após a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito, que teve como objetivo investigar liberação irregular de recursos do Fundo de Participação dos Municípios, para evitar a sua cassação. O TRE-MG confirmou a sentença da primeira instância, impugnando o registro dele, já que ele se enquadrou em motivo de inelegibilidade. E a sentença foi de que Bejani ficou inelegível durante o resto do período de seu mandato como prefeito (ou seja, de 16/06/2008 a 31/12/2008) e por oito anos subsequentes ao término do mandato (ou seja, até 31/12/2016).
Ainda conforme a assessoria do TRE, neste último caso houve recurso especial ao TSE, mas não foi conhecido. A decisão transitou em julgado no dia 17/10/2012.

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