sábado, 22 de março de 2014

Como enfrentar uma situação inesperada e manter a saúde mental

Por  
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA

“A vida é um sopro,
a gente não pode ser irresponsável,
mas também não pode perder a vida por medo”
 Ohanna Patiele

Ohanna Patiele é acadêmica de Comunicação Social, tem 27 anos e mora em Palmas-TO há 3 anos e 8 meses. A jovem trabalha com marketing em mídias sociais, é escritora, adora dançar e é viciada em redes sociais. Em entrevista ao Portal (En)Cena ela conta como tem levado a vida após a descoberta de um câncer na tireoide.

Foto: Acervo pessoal Ohanna Patiele

(En)Cena - Quando você foi diagnosticada com câncer e em que estágio a doença estava?
Ohanna Patiele - Eu vi o nódulo pela primeira vez em agosto de 2013 porque tomei antibióticos e tive uma reação, fiquei cheia de ínguas nas axilas, na virilha e no pescoço, mas eles sumiram em mais ou menos uma semana. Em outubro, eu estava me maquiando e vi que aquele pontinho tinha quadruplicado de tamanho, aí me assustei muito. Fiquei com medo e só consegui criar coragem e ir ao médico depois de umas duas semanas, fui ao endocrinologista. Ela pediu exames para medir os hormônios produzidos pela tireoide e um ultrassom. Sai de lá tão ansiosa que fiz os exames imediatamente.
Na semana seguinte fui levar os resultados e ela explicou que minhas taxas de hormônio estavam normais, porém algumas características do nódulo a preocupavam. Pediu uma punção por agulha fina PAAF, um procedimento simples em que se aspira uma secreção do nódulo e vai pra biopsia. Ela saiu de férias antes de ver o resultado do exame e eu estava saindo de férias também. Como eu já estava muito preocupada marquei consulta com um endócrino em Goiânia e ele me encaminhou pro cirurgião. Como o nódulo era muito grande, só seria possível definir se ele era maligno na cirurgia. Dois meses e dois dias depois da primeira consulta, eu retirei toda a tireoide e a biopsia do nódulo revelou que era sim câncer. Um carcinoma papilar usual de tireoide, graças a deus, a forma mais branda da doença.

(En)Cena - Qual foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça? A ideia de que pudesse, mesmo que remotamente morrer te assustou?
Ohanna Patiele - O câncer da tireoide é relativamente tranquilo em relação aos outros, com altas taxas de cura, poucas chances de metástase e como eu já estava livre do nódulo, não tive medo de morrer. Mas tive uns dias muito ruins sim. Meu maior medo era o tratamento dos outros tipos de câncer que são tão agressivos né? Quimio e radioterapia fazem o paciente sofrer muito. Graças a Deus, o tratamento do câncer de tireoide é a cirurgia e um tratamento a base de iodo radioativo, a iodo terapia que estou fazendo hoje. Sobre os dias ruins: tive uma crise muito severa de choro quando vi a médica que tinha me dito uma semana antes que as chances de ser benigno superavam os 90% preocupada.

(En)Cena - Como foi o processo de aceitação e quais fatores contribuíram para que você tivesse força para seguir em frente?
Ohanna Patiele - Nesse dia, chorei ininterruptamente da hora que saí do consultório até dormir. Chorei muito. Primeiro porque eu sei que se houvesse se espalhado pra outro lugar, o negócio complicaria 100 vezes. Segundo porque tive que parar a vida pra ficar em Goiânia e tratar. Há dois meses não vou em casa, não vejo minha gata, não trabalho e tive que trancar a faculdade. Foi um baque!  A terceira e mais recente crise de choro foi um dia antes de internar pra fazer a iodo terapia, ia fazer o primeiro exame pra ver se houve metástase e entrei em pânico com um sonho que tive. É ridículo, mas tive medo do sonho como uma criança. Fiquei irracional. Tenho que confessar que demorei dois dias pra aceitar a notícia. Soube que era câncer na hora que sai da sala de cirurgia e não processei a informação. No dia seguinte o médico falou comigo e eu voltei a ignorar. Só no terceiro dia que minha mãe e namorado conversaram comigo e eu finalmente entendi: poxa, tive câncer!

(En)Cena - Como você fez para superar o susto do diagnóstico?
Ohanna Patiele - Eu não contei nada pra minha família nas primeiras consultas porque estava no Tocantins e tudo ainda era uma suspeita. Pensei: se falo isso, minha família surta, minha mãe vai enlouquecer e vir pra Palmas imediatamente... chega aqui e não é nada. Enquanto isso, João, meu namorado que mora em Brasília, foi quem me deu todo o apoio, conforto, mesmo a distância. Meus colegas de trabalho também foram muito bacanas comigo. Só contei para a família quando cheguei em Goiânia e a família surtou sim, mas o amor que a gente recebe, torna tudo mais fácil!

Ohanna rece apoio da família em todos os momentos. Foto: Acervo Pessoal

(En)Cena - Que processos você escolheu para não se deixar levar pela fragilidade emocional que os pacientes estão expostos?
Ohanna Patiele - Eu tenho um blog há muitos anos, nem sei quantos pra falar a verdade. No início, ele era um substituto dos antigos diários (sem os segredos, claro) que eu escrevo desde que tinha uns 12 anos. Escrevo o que dá na telha lá. Me faz bem escrever, parece que me dá uma noção melhor da realidade. Não ir sozinha numa consulta é um pequeno gesto, mas faz toda diferença. Minha família e João me fizeram sentir que podia acontecer o que fosse eu não estaria desamparada. Isso é fundamental! Acho que ainda não superei o susto. Quando lembro ainda penso: bicho, como assim?

(En)Cena - Você acredita que a doença tem algum aspecto positivo? 
Ohanna Patiele - Os pontos positivos são certamente internos. É clichê, mas quando a gente tem um susto desses, dá uma revisada boa na vida. No valor que a família e as pessoas próximas têm sabe?! Fico tanto tempo longe deles por causa da rotina, isso é um pecado. Também estava com muito medo de algumas oportunidades de mudança que surgiram e agora quero viver tudo de uma vez! A vida é um sopro, a gente não pode ser irresponsável, mas também não pode perder a vida por medo! Reforçou o conceito que eu aprendi com os médicos e vale pro corpo e pra mente: se conheçam! Autoconhecimento é que liberta e pode salvar sua vida!
Câncer em fase inicial tem muito mais chances de cura! Outra coisa que foi uma lição muito grande e merece ser contada é que pequenos gestos podem ajudar uma pessoa demais, às vezes, a gente não olha pro vizinho, mas podia está salvando o cara. Recebi muitos gestos de carinho, mas minha vizinha Edinalda, está sendo f, um anjo indo todos os dias na minha casa alimentar minha gata. Bicho é algo simples, mas que está me ajudando de uma forma que nem sei agradecer. Pra ela ficar num hotel ficaria caríssimo! Então, a gente tem que ser mais solícito com o outro. Olhar mesmo pra quem está ao nosso redor! É algo que eu quero praticar muito mais a partir de agora. Outra coisa que foi ótima com a doença foi à confirmação de que João é o cara certo sabe! Foi super companheiro, ajudou mais do que podia, fez de tudo pra que eu me sentisse amparada, amada! No dia antes de internar, quando contei que estava chorando por causa do sonho, ele saiu do trabalho em Brasília pra me dar colo em Goiânia. Sabe? Amor mesmo! Vou casar com esse cara!

(En)Cena - Como se vê daqui a 5 ou 10 anos?
Ohanna Patiele - Pergunta difícil essa dos cinco anos! Me vejo casada com João, meu namorado, comprar nossa casa, quero me aperfeiçoar em mídias sociais e continuar trabalhando com isso, viajar muito! Sei lá, acho que o objetivo maior mesmo é ser feliz!
 No blog Ohanna fala com todos os detalhes como recebeu o diagnostico. A entrevista demorou cerca de uma semana para ser finalizada, Ohanna estava no hospital fazendo mais uma parte do tratamento que possibilitará em pouco tempo que ela retorne suas atividades normais e continue se equilibrando mentalmente, fazendo o que tem paixão.

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