Acadêmica do 10º período de Psicologia do CEULP/ULBRA. Estagiária do Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Paraíso do Tocantins. Pesquisadora, bolsista do PROICT (Programa de Iniciação Científica e Tecnológica) do CEULP/ULBRA.
O trabalho do psicólogo dentro da saúde mental ainda é um grande desafio. Enquanto em outros espaços, seu papel e suas atribuições estão nitidamente estabelecidas, em outras, seu fazer é inteiramente novo, desafiador e carente de descobertas e inovações.
Embora os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) já existam há alguns anos, e a formação em Psicologia tenha se modificado em função deste e de outros novos espaços, ainda há muitas incertezas em relação ao que fazer e como fazer. Depois de uma experiência no campo de estágio, percebi que precisamos celebrar o fato de não saber o que fazer. É isso o que nos livra da caretice dos manuais e do gesso das intervenções pré-determinadas, que definitivamente não funcionam para todos.
Em uma manhã de sol, surge uma nova personagem no CAPS: uma mulher de quase 30 anos, em crise psicótica, desconfiando de todos a sua volta, vendo um homem enorme que ameaçava lhe matar. Olho para minha colega estagiária e ficamos atônitas. Depois de 6 meses de aula sobre intervenção em situação de crise, nos deparamos com uma e literalmente não sabemos o que fazer. A sensação de incômodo é evidente. Sentimos que, como quase profissionais “psi”, temos que fazer alguma coisa. Mas não temos a mínima ideia do que fazer. Na dúvida, preferimos não atrapalhar.
Na semana seguinte, eis que a mulher aparece novamente. Um tanto menos transtornada, mas incomunicável. Toda a equipe da unidade, percebendo a gravidade do caso, tenta se aproximar e comunicar-se com ela, mas os esforços são em vão.
Dessa vez não estou na companhia da minha colega estagiária. Sem ninguém para trocar uma ideia tecnicamente sustentada, me sinto perdida. Como é ruim esta sensação de não saber o que fazer. Este sentimento de impotência.
Sento me ao lado da mulher, não sei como agir, mas sinto me compelida a tentar ajudá-la. Eis que tenho uma ideia. Não sei se vai funcionar, mas resolvo tentar. Dou papel, lápis e borracha para a mulher. Sinto que ela quer se expressar, precisa, e não sabe como. Imagino que desenhando pode ficar mais fácil.
Para a minha surpresa, ela começa a escrever. Uma frase, duas, três. Todas com lógica e conexão. Mais umas palavras e percebo que ela está falando comigo. Espero ela parar de escrever, pego o lápis, escrevo logo abaixo. Em pouco tempo, já estamos conversando. A mulher fala do seu sofrimento. O diálogo dura horas.
Mais tarde sua família chega para buscá-la. Calmamente, ela se despede de mim, através de sua escrita. E muda, vai embora. Permaneço sentada, ainda zonza. Não acredito que aquilo tudo aconteceu. Entrei em contato, de forma profunda, com alguém que eu mal conhecia. Eu era a estagiária de psicologia e foi a usuária quem me mostrou como ajudá-la.
Desde o acontecido, percebi a importância da improvisação. Sem desprezar o conhecimento técnico, é preciso dar margem para o novo, para o inesperado. Ao invés de se sentir paralisado, um bom profissional precisa se sentir a vontade por não saber o que fazer. E a partir daí, fazê-lo.
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