domingo, 5 de novembro de 2017

Com o pé na estrada, Lula se faz de mito e vende sonhos antigos que o PT ajudou a destruir

O PASSADO É ROUPA QUE JÁ NÃO CABE MAIS

NO DOMINGO, 29 OUTUBRO 2017 11:11.

"Você não sente nem vê/ Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo / Que uma nova mudança em breve vai acontecer / E o que há algum tempo era jovem novo / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer"
Belchior
A peregrinação do ex-presidente Lula por Minas Gerais não foi o fracasso retumbante como propõe alguns veículos da grande imprensa, muitos a soldo do PMDB - e sabe-se lá de quem mais -, mas também não foi o sucesso de público que o petismo faz crer nas redes sociais. Em suas andanças, Lula chegou a ser hostilizado por manifestantes ligados a Jair Bolsonaro - a nova face do exército de militontos despolitizados o bastante para dar a um deputado brasileiro o status de mito. O que não cai bem a um deputado brasileiro, pelos motivos sabidos, e, de resto, é prova cabal de provincianismo terceiro-mundista e bestialização do debate.
Políticos devem ser tratados como funcionários públicos que são, a exemplo do que se faz em sociedades ditas desenvolvidas - em muitos países eles andam de trem e metrô e evitam sugar o suor de quem paga impostos. Misturar mitologia com política não deu certo com Lula e tampouco dará com Bolsonaro. Os estragos ficam e aqui fecho o parênteses.
A caravana pelas Minas e Gerais, de certa forma colocou Lula em seu devido lugar. Líder disparado nas pesquisas para presidente da República no ano que vem, mas sem ter certeza de que terá condições jurídicas para registrar sua candidatura, seria inevitável não atrair audiência e alguma plateia por onde passa. Nem de longe, contudo, conserva a áurea de mito da política brasileira, dono de tirocínio e cálculo político invejáveis. Para o bem da Nação, os mitos também envelhecem (A esse respeito sugiro voltarem ao meu artigo 'Lula, a crise e o retrato de Dorian Gray') .
Aos 72 anos, o ex-presidente exibe vigor físico para maratonas políticas como a desta semana, mas sua voz e seu discurso traem sempre o mais do mesmo. Quem acompanhou a política entre os anos 1970 e 1990 do século passado não pode deixar escapar nas falas de Lula certo ranço de mercadoria estragada e o déjà-vu de velhas utopias, que o PT plantou em muitos dos que amávamos a revolução, mas que depois contribuiu para sepultá-las nesse protagonismo de mais de 30 anos na vida política brasileira.
Lula até tenta reaplicar sua antiga habilidade de mercador de esperanças, mas claramente há algo fora do tempo e espaço. Que futuro o país pode ter com Lula na Presidência depois das barbeiragens que marcaram os quatro mandatos petistas? Com quais forças ele governaria após o partido sair escorraçado do Planalto com o impeachment de Dilma Rousseff e toda sorte de bandalheiras que se descobriu após subir o tapete dos seus governos?
http://www.luisclaudioguedes.com.br/index.php

A MORTE E A MORTE (POLÍTICA) DE LULA DA SILVA

NO 15 SETEMBRO 2016.

Tomo de empréstimo o mote de conhecido livro do baiano Jorge Amado (A morte e a morte de Quincas Berro D'Água) para uma brevíssima análise sobre as muitas mortes políticas anunciadas para o ex-presidente Lula. O Ministério Público armou espetáculo midiático para formalmente acusar o ex-presidente de se beneficiar do esquema de corrupção e desvios de recursos da Petrobrás.
O coordenador da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, consolidou o que seriam conjunto de provas materiais e testemunhais, entre outras, da propriedade do apartamento e sítio no interior de São Paulo - além do zelo da Construtora OAS em cuidar dos presentes recebidos por Lula durante os mandatos na Presidência. Para o Ministério Público Federal, o ex-presidente era o "comandante máximo do esquema de corrupção", mas ainda deve o ônus da prova já que os imóveis têm outros donos conhecidos.
O mandachuva petista é candidato a presidente em 2018 e esboçava comandar reação – incendiar as ruas, para usar jargão esquerdista – às reformas prometidas pelo governo do presidente Michel Temer. No efeito mais imediato, a denúncia do procurador da Lava-Jato dificulta a vida dos candidatos a prefeito pelo PT em todo o país, ao expor mais uma vez o relacionamento mal explicado de Lula com empreiteiras investigadas por fraudes em contratos com os governos petistas de Lula e Dilma. Sempre requisitado para gravar pousar para fotos ou gravar mensagens de apoio aos candidatos do partido, Lula agora anda esquecido.

Leia também:

LULA, A CRISE E O RETRATO DE DORIAN GRAY


Sua primeira morte política poderia ter acontecido com o estouro do Mensalão, durante o primeiro mandato – ali por volta de 2005 e 2006. Acusado de montar esquema para compra de votos no Parlamento, Lula tremeu. Só não foi às cordas em razão da covardia do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em especial, na iniciativa de pedir o seu impeachment. Lula passou incólume pelo episodio e consegui a sobrevida política que garantiria a recondução para o segundo mandato, de onde saiu com níveis recordes de aprovação.
Lula também poderia ter morrido para a politica e em sentido literal no enfrentamento com a Ditadura, ainda na fase de líder sindical. Ele chegou a ser preso pelo regime militar, em 1980, mas sobreviveu ao tranco. Lula viu a morte física de perto ainda quando teve o câncer de laringe, em 2011.
A denúncia do procurador Dallagnol talvez seja o golpe mais forte jamais sentido na imagem de Lula. Talvez mais grave do daquele sentido no dia da sua condução coercitiva, em março deste ano, quando militantes esboçaram reação de enfrentamento em sua defesa. Daquele episódio ficou a famosa frase do ex-presidente, pródigo em metáforas, dizendo que para matar a jararaca seria preciso bater na cabeça. “Eles bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve", disse Lula na ocasião.
Já algum consenso por aí que o show de power point do procurador Dallagnol pode contribuir para a estratégia de Lula de apelar para a vitimização. Não dá para arriscar a morte definitiva de Lula para a política, mas é já se percebe limites para seu imenso capital político consiga resistir às pancadas que tem recebido. A Lava-Jato carimbou na testa de Lula a pecha de “comandante máximo da propinocracia brasileira”. É uma acusação grave, mas como admitiu o próprio Dallagnol, por enquanto baseada mais em convicções do que em provas.
Lula é mesmo essa figura controversa...
Herói para uns, chefe de quadrilha para outros. De concreto, teve em seu benefício o fato de que sua passagem pela Presidência da República ter coincidido com o boom das commodities. O dinheiro sobrava, mas é forçoso reconhecer que seus governos tiveram olhar para o social inédito na história do país. Esse é o seu grande capital, é o que lhe garante essa resiliência para o enfrentamento com uma mídia frontalmente resistente ao seu nome. Não há como negar, contudo, que os governos petistas relaxaram com a ética e o cuidado com a coisa pública. Lula é uma espécie de amálgama desse legado ruim, embora não tivesse como saber tudo que se passava ao seu redor. Quantas serão as histórias das mortes políticas de Lula?

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