terça-feira, 12 de julho de 2016

Corpo de promotor de eventos agredido após sair de boate gay será enterrado hoje

12/07/2016 12:45 
Léo foi mais um. Mais um para aumentar a lista de homossexuais mortos este ano, que só cresce. Mais um que saiu de casa para ser agredido. Mais um que não vai voltar para a família. Mais um para deixar os baianos chocados hoje e, como quase sempre ocorre, ser esquecido amanhã. O promotor de eventos Leonardo Santiago Moura, 30 anos, o Léo, morreu nesta segunda-feira (11), no Hospital Geral do Estado (HGE), depois de passar dois dias internado. O corpo dele será enterrado nesta manhã, no Campo Santo. Ele deu entrada na unidade pela primeira vez na manhã de sábado, depois de ser espancado no Rio Vermelho — uma das principais suspeitas é de que tenha sido vítima de ataque homofóbico. Mais tarde, por volta das 10h, deixou o hospital. Só que não estava bem. Horas depois, com queixa de dores e vômitos, voltou à unidade: foi imediatamente para o centro cirúrgico. Na operação, perdeu um rim. Já na madrugada de ontem, segundo o boletim do posto policial do HGE, Léo teve dispneia — que é a dificuldade para respirar. Morreu após uma parada cardiorrespiratória. Oficialmente, a polícia diz que não descarta hipóteses — inclusive porque o celular do produtor de eventos não foi encontrado com ele. Contudo, outros pertences, como os óculos, o relógio e a carteira de identidade de Léo não foram levados. Para a família, trata-se de um crime de ódio, motivado por homofobia. “Léo não fazia mal a ninguém. Não dá para viver dessa forma, sabendo que nossos familiares podem não voltar para casa porque são gays, porque são negros, porque são mulheres”, desabafou a prima, a designer de interiores Adriana Moura, 35.
Cronologia: Por volta das 5h30 de sábado, Léo saiu da boate San Sebastian com um amigo. Os dois iam para direções opostas — o amigo para Itapuã, Léo para a Barra, onde morava — e o produtor seguiu andando pela Rua da Paciência, na orla do bairro. Mais tarde, a uma prima, disse que buscava um táxi para ir para casa. Mas nunca encontrou o táxi. Em algum momento dessa caminhada, Léo sofreu o ataque. Só foi encontrado por volta das 8h, por um pescador, caído na praia, nas proximidades do restaurante Sukiyaki — que fica a cerca de 800 metros da boate e a 200 metros do Centro Municipal de Referência e Atendimento LGBT. “Não sabemos como foi o ataque, mas ele foi socorrido por pessoas que estavam passando”, contou o primo de Leonardo, Paulo Issami. Segundo a polícia, o pescador ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que socorreu o produtor e o levou até o HGE. Lá, uma médica pediu tomografias, mas ele recusou o atendimento. Foi liberado após assinar um termo de responsabilidade. “Ele estava muito tonto, muito confuso. Teve alguma divergência com a médica, porque achou que o atendimento demorou”, disse a prima dele, Carolina Moura. Léo foi, então, para casa. Não lembrava de nada após ter saído para procurar o táxi. “Mas era visível que ele tomou pancada. Ele sentia dores no abdômen, tinha poças de sangue nos olhos. A gente vai levantar a bandeira com todo movimento LGBT, porque isso é inadmissível”, comentou Carolina. Nas poucas horas em que esteve lúcido após o ataque, não entendia o motivo de ter sido agredido. De acordo com a tia dele, Vera Moura, 58, Léo chegou a dar a senha do Facebook para uma das primas, para que ela vasculhasse conversas antigas e tentasse localizar até mesmo algum tipo de ameaça que apontasse uma resposta. Nada foi encontrado. Às 14h30 de sábado, a família decidiu levá-lo de volta ao hospital, onde deu entrada às 15h30. “Ele estava com a barriga muito inchada. Depois, veio a notícia de que tinham precisado tirar o rim”, afirmou o primo, Luan Moura, 25, que o levou ao HGE.

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