terça-feira, 6 de junho de 2017

Hospital Santa Casa de Montes Claros - Pediatras são agredidas em prontos-socorros de Hospital



Uma pediatra foi agredida enquanto trabalhava no Pronto-Socorro do Hospital Santa Casa de Montes Claros. Além dela, outra médica foi ameaçada. O Webterra teve acesso às agressões nas redes sociais. Depois de dois dias de apuração, confirmou toda a história, que chocou os profissionais de saúde e internautas.   
A pediatra, agredida por uma mãe, enquanto trabalhava, foi Ariad Jane Leite.  Ela conta que estava atendendo uma criança com prioridade, quando tudo aconteceu.
“Eu fui agredida no plantão, foi um susto. Não parei de atender por nenhum momento, não parei para vestir a roupa do hospital, nem beber água. A mulher entrou com o filho, que foi triado de verde. No momento que chamei a criança triada de amarelo a mãe da primeira criança não aceitou a classificação de risco. Ela queria prioridade. Expliquei que não poderia ser daquela forma e ela jogou todos os meus aparelhos no chão, veio para cima de mim, bateu em meu rosto. Meus óculos voaram e eu permaneci sentada”, relata a médica e completa dizendo estar se sentindo arrasada.
No dia seguinte, uma colega dela também sofreu ameaças. Segundo a doutora Lívia Juliana, uma mãe chegou ao hospital dizendo que “era para ter batido na cara da médica para ter ido à cirurgia plástica e que iria acabar comigo”, conta.
Segundo a PM, a ocorrência foi registrada, na madrugada do último domingo (04). A médica relatou aos militares que foi ameaçada por uma mulher que discordava do atendimento que o neto, de 18 meses, esperava. A doutora mostrou ainda, a área lotada e disse que no dia duas crianças haviam morrido, além de outros casos infantis graves.
Após as ameaças, o atendimento foi suspenso, atendendo apenas os casos graves que já estavam no local. A médica disse, ainda, que no dia anterior o atendimento também precisou ser suspenso após uma mulher agredir outra médica que estava de plantão. 
Ainda de acordo com a PM, a criança havia sido qualificada como caso simples, por isso, foi pedido que a mulher retornasse para casa, devido à simplicidade e o tempo frio da madrugada, que poderia ser prejudicial ao recém-nascido.
Em Grupo da rede social, a doutora Lívia Juliana fez um desabafo.
“Vamos falar um pouco sobre o outro lado da moeda. Vejo sempre falando aqui sobre a falta de médicos pediatras na cidade, especialmente na Santa Casa. Será que realmente a culpa é da Santa Casa? Dos médicos que não querem dar plantões no fim de semana? Sou pediatra e trabalho na Santa Casa, inclusive com plantões no pronto socorro. Não é fácil trabalhar em um local que absorve toda a demanda do Norte de Minas. Na verdade, é muito perigoso. Trabalhar em porta de entrada já não é atividade fácil por si só! Ainda mais quando somos o único pediatra de plantão em toda macrorregião! O fluxo externo de pacientes com queixas mais simples é enorme (e olha que não atendemos verdes em hospitais) - febre, resfriado, diarréia, alergias, otites, etc, bem como atendemos acidentados, crianças com meningites e pacientes do interior que precisam de atendimento em serviço de referência, trazidos pelo Samu, na famosa vaga zero, sem ao menos sermos avisados. A escala de pediatra do HU está cada dia mais desfalcada (assim como a da Santa Casa está ficando), Alpheu não está tendo pediatras no fim de semana e segunda noite (e quando tem, na verdade, é clínico atendendo pediatria, e muita coisa não resolve encaminhando essas crianças pra Santa Casa), SEI só funciona até às 23h, e HC, por provável questão política, ainda não tem PS/PA funcionando. Podem ter certeza que a baixa remuneração não é a causa da falta de pediatras, pois quando optamos por essa área médica, sabemos que é uma das mais desvalorizadas. Mas será seguro trabalhar nessas condições? Essa noite, por exemplo, estava de plantão na Santa Casa, estava com 11 crianças internadas no pronto socorro (onde não é lugar de internação, e tem capacidade para apenas seis crianças em observação), sendo quatro delas crianças graves e instáveis. Uma inclusive teve duas paradas cardiorrespiratórias, sendo que na última fiquei tentando reanimá-la por 40 minutos e foi a óbito. Enquanto isso uma mãe que estava aguardando atendimento, estava ameaçando me bater quando entrasse. Tive ainda, com tanto serviço pra fazer, parar o atendimento para faze BO. Então será que vale a pena abdicar o final de semana com nossa família e filhos, para trabalhar nessas condições, correndo o risco de ser agredida, correndo o risco de não dar conta de atender a todos que precisa, correndo o risco de cometer erro médico pela superlotação e sobrecarga de trabalho, correndo o risco de ser processado e perder o CRM duramente conquistado? Sei que a Santa Casa pode melhorar em vários aspectos, mas ela não é responsável pelo caos na saúde causado pelos políticos corruptos preocupados apenas com seus próprios interesses. Falta-nos atenção básica funcionante, faltam-nos UPAS, faltam mais hospitais. Depois do plantão de [ontem], minha vontade é de não passar nem na porta do pronto socorro mais”, desabafa.
O outro tipo de agressão
Janine Mendes de Lima, pediatra, em conversa com o Web Terra desabafou sobre outros tipos de agressões sofridas por profissionais.
“Não é só esse tipo de agressão, às vezes de estrutura, de não ter opção de descansar, de ir ao banheiro porque não tem outro hospital, afeta emocionalmente o servidor. Existem os acessos restritos, segurança em toda porta de entrada, mas às vezes passa pelo segurança e não sabemos quem é, mas são casos raros e isso vem de um reflexo da saúde no Brasil, as deficiências na área. Poderia ter alguém fazendo um atendimento primário, em postos de saúde, mas ou por questões financeiras ou falta de médico vai até o hospital, gera estresse”, explica.
Outra questão é a falta de entendimento sobre a urgência.
“Um dos problemas maiores é a falta de estrutura dos lugares, de atendimento mais demorado porque a sala de pós-atendimento é pequena, a demanda é maior, não tem outro médico para olhar quem está fazendo tratamento, a urgência passa na frente de tudo e as pessoas não entendem, acontece muito que a pessoa é referenciada para um hospital onde não tem um especialista e a pessoa não entende, ela não foi orientada. É um excesso de carga horária, poucos médicos para muitas demandas, todos trabalham muito para ajudar”, desabafa a médica.
O Portal Web Terra entrou em contato com o Hospital Alpheu de Quadros, mas até a publicação da matéria não retornaram sobre as escalas da pediatria. 
O Hospital Santa Casa também não se posicionou sobre o caso e a escala de trabalho dos profissionais.
A responsável pela escala de trabalha dos pediatras do Hospital Universitário, Kelly Alencar, gerente do Pronto-Socorro informou que os horários de plantão variam de 7h às 13h, 7h Às 19h ou 24 horas, de segunda a segunda. Mas, não soube dizer a quantidade de profissionais que atuam no hospital.
http://webterra.com.br/noticia/10977/pediatras-sao-agredidas-em-prontos-socorros-de-hospital

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