*Pedro Ricardo
No desgoverno municipal, concluído em dezembro de 2012, a população montes-clarense assistiu a formação de um time de vôlei com o único objetivo de embalar a campanha a deputado estadual do filho do até então intocável, Luiz Tadeu Leite, atualmente procurado pela Polícia Federal e Interpol. Foi só o “príncipe” ser eleito, o time acabou afundado em denúncias de desvio de recursos públicos e de dinheiro da merenda servida nas escolas municipais, para bancar salários milionários de jogadores que, até então, nem sabiam que Montes Claros existia.
Oito meses depois assistimos novamente o agora prefeito, Ruy Muniz anunciar a recriação do time de vôlei para, desta vez, promover a candidatura a deputada federal da sua esposa, Raquel Muniz. Mais de R$ 2,5 milhões serão investidos na empreitada, dos quais, segundo o próprio prefeito, R$ 500 mil sairão dos bolsos da população que paga impostos e, em contrapartida, não vê em obras o resultado do esforço realizado. Vinte por centro de um investimento para quem não tem nada é muito dinheiro.
Diante do caos em que se encontram os setores de saúde, educação e a infraestrutura da cidade, é prioridade da Prefeitura de Montes Claros investir dinheiro público em time de vôlei e na construção do estádio de futebol (Mocão), que também vem sendo articulado?
Cidadão rico ou pobre pode ir a qualquer posto de saúde de Montes Claros que enfrentará uma verdadeira maratona para conseguir uma consulta médica, um simples exame de fezes ou de urina. Remédio, nem pensar! Como consequência do caos os hospitais estão superlotados de gente à procura de serviços que deveriam estar sendo prestados pela Prefeitura nos postos de saúde que, em sua grande maioria estão jogados às traças. Além disso, o atual comando da Prefeitura ainda se acha no direito de não repassar aos hospitais dinheiro referente ao pagamento de serviços já prestados.
No entanto, investir em time de vôlei e em esforço para construir estádio de futebol é a prioridade da atual administração que segue à risca a política do pão e circo, aprendida com seu antecessor, Tadeu Leite. E, brevemente, para embalar ainda mais a politicagem barata, está em andamento licitação para contratação de empresa de publicidade que sustentará, perante a opinião pública, a ilusão de que Montes Claros está se transformando numa paradisíaca metrópole. Na verdade, a cidade maravilhosa só existe para poucos privilegiados que se dão ao luxo de passear na China e de comprar helicóptero ou apartamento nos Estados Unidos.
A população carente, excluída do acesso à informação e na luta cotidiana pela sobrevivência, continua sendo ludibriada com asfaltamento de ruas em bairros da periferia, com a inserção de times de vôlei e de futebol em campeonatos de nível estadual e nacional, bem como pelo discurso fácil e desvio sorrateiro de dinheiro público em campanhas de candidatos a deputado.
Há poucos meses assistimos o prefeito enfiar goela abaixo dos vereadores que o apoiam, projeto transferindo R$ 2 milhões da Secretaria Municipal de Educação para a Associação de Promoção de Ação Social (Apas) que, “coincidentemente”, tem como presidente a candidata a deputada, Raquel Muniz. Ou seja, juntando o dinheiro tirado da educação com o “show” que será promovido com a recriação do time de vôlei, o prefeito está conseguindo costurar a sustentação financeira das candidaturas dos seus correligionários. Está jogando para escanteio centenas de famílias que passam necessidades, o elegeram nas últimas eleições, sobrevivem na poeira, na lama, com serviços de péssima qualidade nas áreas de educação, saúde e de coleta de lixo, bem como com a ilusão de que nas faculdades do chefe do executivo “qualquer um pode estudar”, desde que pague mensalidade.
Uberlândia, Juiz de Fora e Ipatinga são cidades muito mais desenvolvidas e bem mais ricas que Montes Claros. Porém, de lá, não se tem notícia de que as prefeituras estejam investindo dinheiro público no financiamento de times de vôlei e de futebol. Já no Norte de Minas, os politiqueiros investem em pão, circo e asfalto para iludir o povo e se perpetuarem no poder elegendo, inclusive, filho e esposa deputados.
Até quando a sociedade civil, por meio de suas instituições de classe (CDL, Associação Comercial, Sociedade Rural, Igrejas, Maçonaria, Diretório Central dos Estudantes, associações de bairros, sindicatos patronais e de trabalhadores, Ministério Público, Polícia Federal bem como a Justiça) ficará inerte diante do discurso fácil e eleitoreiro dos maus políticos? Seremos obrigados a rever o velho filme de time de vôlei e construção de estádio de futebol, financiados com o dinheiro público, para eleger nossos “príncipes” e “princesas” deputados?
*Jornalista