São Paulo - As investigações a respeito de casos de corrupção envolvendo ex-diretores da Petrobras poderão provocar um rombo bilionário nas contas da estatal.
Na madrugada desta quarta-feira, 28, a companhia revelou ter identificado uma diferença líquida de R$ 61,4 bilhões entre o valor justo de ativos analisados e o valor imobilizado dos mesmos projetos, todos com contratos assinados entre 2004 e abril de 2012.
O montante corresponde a praticamente todo o lucro acumulado pela estatal desde 2012, que foi de R$ 58,191 bilhões.
A divulgação do número, em um momento no qual o mercado aguardava o valor das perdas estimadas pela Petrobras com casos de corrupção, provocou maior turbulência sobre as ações da estatal.
Por volta das 13h30, as ações preferenciais operavam em queda de 11,31%, sendo negociadas a R$ 9,02. As ações ordinárias caíam 11,51% e eram negociadas a R$ 8,53.
O montante de R$ 61,4 bilhões, contudo, é um valor ainda não contabilizado, e que deverá passar por mudanças conforme sejam feitos ajustes nas métricas de avaliações implementadas pela Petrobras e por auditorias externas.
De acordo com a estatal, o cálculo dimensiona eventuais perdas provocadas pelos casos de corrupção investigados na Operação Lava Jato, mas também deve levar em consideração variáveis como taxas de câmbio, mudanças nos projetos e até mesmo equívocos no planejamento desses projetos, entre outras razões.
"O amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta 'proxy' adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes", sintetizou a companhia.
Para os analistas do UBS, o ajuste contábil da Petrobras em decorrência das perdas da estatal com casos de corrupção deve somar R$ 25 bilhões em 2014. O equivalente a 40% da perda total de R$ 61,4 bilhões citada pela estatal.
A Petrobras ainda não informou um prazo para divulgar o número oficial de perdas oriundas de casos de corrupção, as quais devem ser contabilizadas em resultados trimestrais futuros da estatal.
Perdas
Para chegar a esse número, a Petrobras e avaliadores internacionais independentes analisaram ativos que, juntos, tinham valor justo de R$ 188,4 bilhões, praticamente um terço do ativo imobilizado total da Petrobras, de R$ 600,1 bilhões.
Fazem parte da lista projetos cujos contratos foram firmados entre a Petrobras e as empresas citadas na Operação Lava Jato entre 2004 e abril de 2012, período no qual o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa integrava a diretoria da estatal.
Os auditores externos responderam por 81% do ativo total avaliado. A análise dos outros 19% ficou sob a responsabilidade de equipes técnicas da Petrobras, "porém com total consistência metodológica e de premissas com o trabalho realizado pelos avaliadores independentes", informou a estatal.
O estudo mostrou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os ativos que apresentaram valor justo com diferença a maior frente ao imobilizado totalizaram R$ 27,2 bilhões. O resultado líquido entre os dois números originou a perda potencial de até R$ 61,4 bilhões amplamente comentada por analistas em relatórios publicados na manhã desta quarta.
Dividendos
Uma perda de mais de R$ 60 bilhões abriria espaço para que a companhia não distribuísse dividendos para os detentores de ações ordinárias, destacaram analistas do Itaú BBA. É o caso da União.
A distribuição de dividendos para os ordinaristas em 2015 poderia não ocorrer em função do prejuízo acumulado anual - entre janeiro e setembro do ano passado, a estatal acumulou lucro de apenas R$ 13,439 bilhões.
Os analistas do UBS ponderam, contudo, que a Petrobras possui mais de R$ 150 bilhões em reservas de lucro, montante que poderia ser utilizado para compensar eventual prejuízo no ano. No material divulgado hoje, consta reservas de lucro no total de R$ 162,5 bilhões.
Os detentores de ações preferenciais, por sua vez, são protegidos pelo estatuto social da Petrobras e ainda receberiam dividendos. O artigo 5º do documento estabelece que o valor distribuído sob a forma de dividendos, para os detentores de ações PN, deve respeitar a condição mais atraente para os acionistas entre três opções: o valor equivalente a 25% do lucro líquido anual, a 3% do valor do patrimônio líquido da ação ou a 5% do capital social.
Nos últimos dois anos, a distribuição foi feita a partir do cálculo do patrimônio líquido, o que tende a se repetir neste ano. O patrimônio líquido da companhia chegou a R$ 350,8 bilhões em setembro passado, com leve alta de 0,4% sobre o fechamento de 2013.
Tópicos: CorrupçãoEscândalosFraudesOperação Lava JatoPetrobrasEmpresas,Capitalização da PetrobrasEstatais brasileirasPetróleo, gás e combustíveis,Empresas brasileirasEmpresas estataisEmpresas abertasIndústria do petróleo