quinta-feira, 13 de março de 2014

Terapia psicodélica - Primeiro estudo terapêutico com LSD em 40 anos mostra resultados positivos para ansiedade e depressão em pacientes com doenças terminais

(FOTO: ILUSTRAÇÃO | BRUNO MIRANDA/EDITORA GLOBO)



Saem os antidepressivos e ansiolíticos, abrem-se as portas da percepção. Um estudo da MAPS (Associação Multidisciplinar Para Estudos Psicodélicos) publicado em janeiro afirma que o LSD, aliado à psicoterapia, pode ser eficaz no tratamento de ansiedade e depressão em pacientes com doenças terminais. Os testes, realizados na Suíça, ainda são restritos — eles envolveram apenas 12 voluntários. Mas trazem as primeiras evidências científicas sobre o uso medicinal da droga desde 1973, quando as pesquisas foram restritas nos EUA.
O sonho hippie estava acabando e as políticas de combate às drogas entravam no seu auge. Sintetizado pelo químico suíço Albert Hofmann, o LSD foi testado em mais de 40 mil pessoas até 1965. Celebridades como o ator Cary Grant participaram de sessões de psicoterapia e expansão da consciência sob efeito do LSD antes dos Beatles o experimentarem. Francis Crick, vencedor do Nobel da Ciência em 1962, iniciou sua pesquisa sobre o DNA com base nas visões de uma viagem de ácido. Psiquiatras das Forças Armadas Americanas ministravam psicodélicos para manipular depoimentos de prisioneiros da Guerra Fria, enquanto os jovens faziam uso recreativo da droga.
Os condutores da nova pesquisa acreditam no potencial do LSD. “A droga interage com neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, provocando uma espécie de sonho acordado muito vívido, que leva os pacientes a um profundo contato com suas pendências e ao enfrentamento de seus medos”, afirma o psiquiatra Peter Gasser, coordenador do estudo. Os 12 voluntários passaram por 30 sessões: 22 com uma dose de 200 mg, e oito com a dose placebo de 20 mg. “Devido a repressões na infância, uma das pacientes se queixava de dificuldade para expressar alegria. Durante a experiência, libertou-se a ponto de dançar pela sala e pediu para passar as mãos sobre as costas macias de uma vaca”, diz Gasser.
Não houve efeitos colaterais graves como flashbacks, surtos psicóticos ou ansiedade severa. Só foram aceitos pacientes sem histórico de problemas mentais, como a esquizofrenia. Nenhum medicamento psiquiátrico foi utilizado. “Não indicamos a terapia com LSD a pessoas muito jovens, que ainda não têm repertório de enfrentamento para lidar com algumas vivências”, afirma Gasser.
Rick Doblin, fundador e presidente da MAPS, acredita que novas pesquisas devem apontar alternativas a medicamentos psiquiátricos tradicionais. “As pessoas já demonstram descrença na indústria farmacêutica e tendência à aceitação de outras substâncias para finalidade médica e espiritual. A exploração do subconsciente e da espiritualidade é um direito humano fundamental”, opina. Para ele, a regulação do LSD com finalidade terapêutica é mais fácil que a da maconha. “Temos ótima relação com órgãos como FDA (FoodAndDrugAdministration) e DEA (DrugEnforcementAdministration)”, explica. 
Os testes custaram US$ 200 mil e foram subsidiados por simpatizantes. “Pedimos apoio a instituições governamentais e grandes fundos de pesquisa, mas eles consideraram politicamente arriscado. Talvez agora seja mais fácil conseguir”, diz Doblin. A organização também planeja novos estudos legais sobre o uso medicinal do MDMA (ecstasy), maconha, ibogaína e ayuasca para tratamentos direcionados à ansiedade, estresse pós-traumático e dependência química. Os próximos grupos devem ser montados no México e Nova Zelândia.
 (Foto: Revista Galileu)

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