*Jorge Silveira
Em sete meses de administração municipal, o prefeito Ruy Muniz não tem ainda muito o quê comemorar. Sua gestão até agora foi marcada mais pelas brigas que comprou, com os médicos da Santa Casa e com os vereadores da oposição, do que pela eficiência administrativa. Nestes primeiros 210 dias, sequer conseguiu tapar os buracos causados pelas chuvas – e olha que novo período chuvoso já se aproxima. Dirão alguns áulicos: “mas sete meses é muito pouco tempo para cobranças. É melhor esperar mais”. Seria até pouco tempo se o prefeito tivesse prometido menos. Mas já é muito para quem alardeava inaugurar uma obra por mês, “trinta só no primeiro ano”. A promessa sequer irá raspar na trav e, para usar o bom vocabulário futebolístico.
Tapar os buracos nas ruas seria o mínimo que a prefeitura poderia ter feito em sete meses, mas não fez. Tapou algumas crateras aqui e ali, onde a situação era mais assustadora, mas a maior parte continua atormentando os motoristas – e causando péssima impressão aos que por acaso visitam a cidade. Na imprensa o prefeito se ufana que recapeou trecho da Avenida Plínio Ribeiro, da entrada da cidade até o Décimo Batalhão. E que está asfaltando algumas ruas do bairro Independência. O que não justifica deixar a cidade convivendo com a buraqueira. Fica a impressão de que Tadeu não está em Miami fugido da Polícia, mas pilotando ainda o governo municipal. É o que muitos sentem: que o barco continua sem rumo.
O prefeito Ruy Muniz tem dado a impressão de que se encontra perdido em um labirinto, do qual não consegue achar a saída. O “affaire” que arranjou com a direção da Santa Casa – e que colocou parte da classe médica contra ele – não resolveu os problemas de saúde da população no município, que continua sendo pessimamente atendida, por completa falta de estrutura para a demanda existente. O problema na saúde não é exclusivo de Montes Claros, mas nacional. Tanto que fez parte das reivindicações dos manifestantes que saíram às ruas em todo o país, para reclamar do governo e dos políticos – a ruindade dos governos é consequência direta da péssima qualidade dos políticos.
No arrombamento da Câmara Municipal, para aprovar na marra um projeto de empréstimo de 170 milhões, o prefeito demonstrou total descontrole emocional e imensa burrice política. Além de completo desconhecimento da independência que deve nortear os poderes constituídos numa democracia. Ao chamar o presidente da Câmara de chantagista, foi de uma deselegância a toda prova. Até porque os fatos vieram demonstrar, mais adiante, que não houve nenhuma chantagem. Em momento algum o vereador Antônio Silveira tentou apadrinhar correligionários em cargos na prefeitura, tendo apenas indicado nomes para o Conselho Fiscal da Esurb, obrigação do Legislativ o. Agora, depois de tudo o que aconteceu, como o prefeito Ruy Muniz pretende conviver com a Câmara Municipal daqui para frente? Ao que tudo indica, esta convivência não será amistosa, o que poderá trazer sérios problemas à administração.
Quem tem boa memória e acompanha a política municipal se lembra dos problemas que o ex-prefeito Tadeu Leite enfrentou em sua segunda gestão à frente da prefeitura (1993/96), quando teve a maioria da Câmara contrária à sua gestão. Foi quando o saudoso vereador Ivan Lopes criou o “grupo dos onze”, que infernizou a vida de Tadeu, praticamente paralisando o seu governo. Na época, um empréstimo para o “Projeto Somma” foi um dos pivôs para o esgarçamento das relações entre executivo e legislativo. No final, quem saiu perdendo foi Montes Claros, que passou quatro anos completamente sem administração municipal, jogada ao léu. Ali, naquele momento, teve início o processo de caos administrativo que acabou levando a cidade a este estado lastimável que se encontra hoje, onde praticamente tudo precisa ser feito.
O problema com a Câmara poderia ter sido evitado se o prefeito tivesse o bom senso de pensar que um empréstimo de 170 milhões de reais, para uma prefeitura que já deve quase 300 milhões, não poderia ser aprovado sem ampla discussão, a toque de caixa. É preciso discutir, negociar, avaliar os prós e os contras, para não endividar o município ainda mais sem uma contrapartida que valha a pena. O prefeito apostou – e apostou mal – numa correria que não traria nenhum benefício para a relação com o legislativo. Saiu perdendo, por todos os ângulos que se olhe a questão. E o que é pior: deixou a impressão de completo destempero emocional, ao promover o arrombamento da sede do legislativo, coisa que não acontecia nem nos tempos da ditadura militar!
Entende-se a ansiedade do prefeito em querer realizar pelo menos um pouco do muito que prometeu. Mas é preciso ir com menos sede ao pote, para não morrer engasgado. E para que a administração não fique com cara de um governo destemperado.
*Jornalista
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