Apenas nove minutos ou 540 segundos é o intervalo médio de tempo entre os assassinatos de uma e de outra pessoa no país. Isso quer dizer também que por dia são mortos 160 cidadãos de forma violenta e intencional.
Somente no ano passado, 58.383 brasileiros foram vítimas de homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte ou em decorrência de intervenção policial. Os dados fazem parte do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que será lançado na quinta-feira (3) no Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Uma comparação internacional é capaz de exemplificar o estado de violência em que o Brasil se encontra. Entre março de 2011 e novembro de 2015, a guerra na Síria fez 256.124 vítimas. No Brasil, no mesmo período, foram 278.839 mortos. Para especialistas, o primeiro passo que o Brasil precisa dar é reconhecer o tamanho desse problema. “Países em guerra têm menos mortos do que nós e não enxergamos isso. Os dados traduzem uma triste realidade que o Brasil insiste em não reconhecer”, lamenta o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima.
Com um cenário tão grave, há muita expectativa envolvendo o Plano Nacional de Segurança Pública, que será apresentado hoje pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, aos presidentes dos Três Poderes, à Ordem Nacional dos Advogados (OAB), à Procuradoria-Geral da República, aos chefes das Forças Armadas e a outras autoridades. “Envolver diversos atores e os Poderes no diálogo, como o governo propõe, é muito positivo, entretanto, é necessário que a sociedade não fique de fora dessa mobilização”, comenta Renato Sérgio.
Neste ano, o levantamento do 10º anuário traz uma inversão no ranking das unidades da Federação mais violentas do país. Com 57,3 mortes intencionais por 100 mil habitantes — aumento de 18,2% entre 2014 e 2015 —, Sergipe superou Alagoas, que estava no topo da lista. Na segunda colocação, Alagoas apresentou queda de 20,8%, saindo dos 64,1 mortos por grupo de 100 mil pessoas, em 2014, para 50,8, em 2015. No total, no ano passado, 1.286 brasileiros foram mortos em Sergipe, e 1.696, em Alagoas.
De acordo com o diretor-presidente do FBSP, um dos motivos de Alagoas ter conseguido reduzir as taxas de mortes violentas foi a implementação do programa Brasil Mais Seguro em parceria com o governo federal. “Quando a segurança pública é priorizada e há uma integração entre os Poderes, os resultados são mais eficientes.” Quatorze unidades da Federação com programas estaduais de redução de homicídios e da violência letal ativos reduziram os índices (veja quadro).
Os estados com as menores taxas foram São Paulo (11,7), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2). Em relação ao total de vítimas no país, também houve queda de 1,2% no comparativo com 2014, quando o número chegou a 59.086 assassinatos. Os organizadores do anuário atribuem a redução a um efeito estatístico causado pela retificação dos dados de 2014.
Um dos principais destaques do documento são as mortes envolvendo ações policiais. Ao menos nove pessoas foram mortas por policiais em 2015, por dia, totaliza 3.345 no ano. O número é 6,3% superior ao registrado no ano anterior. A quantidade de policiais vítimas de homicídios em serviço e fora dele também é muito elevada. Em 2015, 393 policiais foram mortos, 103 durante o expediente. O número é praticamente multiplicado por três, quando se trata de assassinato de policiais fora do horário de trabalho. “Nós nos acostumamos com esse modelo de mata e deixa morrer da nossa polícia, o que é muito cruel com os dois lados. O sistema precisa ser revisto urgentemente”, afirma Renato Sérgio.
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