sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Francisco Sá, MG, decreta estado de calamidade devido a falta de água - Moradores relatam enfrentar a falta de água há mais de duas semanas. Produtores rurais enfrentam prejuízos nas lavouras e com os animais.

Para as tarefas cotidianas, Maria Elza busca água em um reservatório na casa da filha no bairro Jardim Brejo das Almas. (Foto: Alexandre Fonseca/ G1)Para as tarefas cotidianas, Maria Elza busca água em um reservatório na casa da filha no bairro Jardim Brejo das Almas. (Foto: Alexandre Fonseca/ G1)
Além de causar prejuízos irreparáveis às lavouras, a falta de água tem mudado a rotina e os planos dos moradores do Norte de Minas. Em Francisco Sá, cidade com 25 mil habitantes, a falta de chuva obrigou o prefeitura a decretar estado de calamidade pública e o racionamento de água.

Em janeiro de 2014, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), registrou 12 milímetros de chuva, e o acumulado do ano ficou em 433,5 milímetros. Até o dia 22 de janeiro de 2015, a Emater mensurou 5,5 milímetros; o que provocou mudanças nas tarefas domésticas realizadas pelas famílias, como as da dona de casa Maria Elza Alexandre Pinheiro, 52 anos, moradora do bairro Jardim Brejo das Almas, zona periférica de Francisco Sá.

Sheila teme a falta de água por causa do filho de dois meses.  (Foto: Alexandre Fonseca/ G1)
Sheila teme a falta de água por causa do filho de
dois meses. (Foto: Alexandre Fonseca/ G1)
Há mais de 20 dias sem água nas torneiras, para conseguir fazer comida, dar banho no neto, tomar água, lavar vasilhas e as roupas, Maria Elza capta água com o auxilio de baldes na casa da filha.

“Desde que não começou a chover, começou acontecer isso. Não choveu mais, e eu nunca tinha passado por uma situação dessas. Antigamente era melhor. Passo a noite toda acordada para ver se sai água da mangueira”, pontua.

Casada com um francisco-saense, Sheila Aparecida Vinieri, 32 anos, mudou-se de Jundiaí (SP) para Francisco Sá junto com o filho de dois meses, Jeferson Miguel, enquanto o marido trabalha em São Paulo. Preocupada com a falta de água, Sheila comenta que sente medo pelo filho.

“É uma situação muito precária. Precisamos da água para fazer tudo. Fica difícil para dar banho, beber, lavar roupa. Não tem como fazer nada”, diz a dona de casa que, devido à falta de água, acumula a roupa do filho para lavar.

A barragem de São Domingos, responsável por abastecer a população da cidade, opera com apenas 8% de sua capacidade e está abaixo do volume morto. Conforme o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Ronaldo Ramon, o reservatório vai esgotar se não chover até março.

“Estamos realizando um trabalho de conscientização na população de como utilizar a água da melhor forma; o que tem surtido efeito. E também o racionamento, porque não temos água. Hoje, água é uma poupança que precisa ser guardada”, comenta o diretor.

Produção
Com pastos secos e safras 100% prejudicadas, produtores rurais de Francisco Sá padecem com o período de estiagem prolongada. Construída com a finalidade de irrigar as plantações locais, a barragem de Canabrava, que está com 32% de sua capacidade, nos últimos dias têm sido utilizada para abastecer caminhões-pipa.

Marco de madeira mostra o nível crítico que a barragem São Domingos atingiu devido ao período de seca prolongada.  (Foto: Alexandre Fonseca/ G1)
Marco de madeira mostra o nível crítico que a
barragem São Domingos atingiu devido ao
período de seca prolongada.
(Foto: Alexandre Fonseca/ G1)
“As forragens e as gramíneas morreram por falta de água. Até o presente momento, os produtores rurais têm se apegado à fé para chover. Devido à falta de produção, alguns produtos aumentaram o preço, como a carne e os grãos. 100% dos grãos são de outra cidade”, relata o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Francisco Sá, José Renato Dias.

Há 20 anos trabalhando como produtor rural, Joel Barros dos Santos, conta que nunca tinha visto um período de estiagem para destruir todas as safras da região. Além de perder 64 cabeças de gado, de um rebanho de 150, Joel também perdeu 15 hectares de plantação de milho, o que resultaria em 200 sacos do grão.

“Em janeiro, era para ser tempo de chuva, não de seca. Não tenho condição de comprar ração, e nem de semente de algodão ou milho. É uma perda grande. Nunca tinha visto um janeiro assim, secando tudo. Está tudo acabando”, diz.


Produtor rural ao lado de uma vaca que está fraca devido a falta de alimentos.  (Foto: Geraldo Humberto/ Inter TV)Produtor rural ao lado de uma vaca que está fraca devido a falta de alimentos. (Foto: Geraldo Humberto/ Inter TV)

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