terça-feira, 10 de setembro de 2013

POSSESSÃO ESPIRITUAL

Possessão espiritual é um fenômeno que consiste no en­volvimento, influência, invasão, controle e até subjugação de uma entidade espiritual (espírito ou alma desencarnada) perante uma pessoa. A possessão espiritual é registrada historicamente e existe desde a aurora dos tempos. Não é fenômeno moderno e tampouco pertence a alguma denominação religiosa, mágica ou mística. Sua fenomenologia é universal, sendo encontrada sob os mais diferentes nomes e formas, desde as mais primitivas religiões tribais à mediuni­dade praticava modernamente em centros espíritas e espiritualistas. A possessão espiritual existe desde o aparecimento do ser humano na Terra.

“Sua psiquê ou corpo foram invadidas e estão sendo con­troladas por uma entidade ou energia malévola com características pessoais” (Psicologia do Futuro, Stanislav Grof). Em Psiquiatria, esse processo é chamado de Transtorno Dissociativo de Identi­dade ou Transtorno de Personalidade Múltipla. Muitas culturas ade­rem ao transe possessivo como parte integrante de seus ritos e valores. Por este motivo, os psiquiatras, antropólogos e pesquisado­res em geral procuram ter muita cautela com as classificações e rotulações psicopatológicas. É consenso de que, quando a posses­são é aceita culturalmente, o diagnóstico deve evitar a categorização de “patológica”.

Dessa forma, faz-se uma distinção entre o fenômeno de possessão patológico e o não patológico dentro da Psiquiatria. Assim, nem todo estado de possessão pode ser considerado um transtorno, vide o caso das invocações de espíritos em várias culturas, épocas e geografias diferentes, que fazem parte da cadeia simbólica intersub­jetiva da população.

O mecanismo da possessão pode abranger dois tipos dife­rentes de processos psíquicos:

A Possessão de uma presença (personalidade intrusa ou espírito desen­carnado)

A possessão de uma personalidade de vida passada. A primeira corresponde a uma entidade à parte, uma energia intrusa que vem externamente ao psiquismo do indivíduo. A segunda corresponde a um processo interno de obsessão, sendo o que Tendam (1988) chamou de “pseudo-obses­são”.

Apesar de admitirmos que existem não apenas espíritos obsessores, mas também a possessão de personalidades de vidas passadas, estaremos abordando nesta oportunidade apenas a res­peito dos espíritos possessores. Isso por que o termo “possessão” não seria adequado para caracterizar o controle de uma personali­dade de vida passada. Neste caso, a palavra mais apropriada seria “manifestação” ou “expressão” da personalidade, tendo em vista que se trata de um processo interno e não externo.

Dentro da TVP, a autora que mais mergulhou no estudo das possessões foi Edith Fiore. Em sua incrível obra “Possessão Espiri­tual”, Fiore conta suas pesquisas com regressão terapêutica e o tratamento de casos de possessão como causa dos bloqueios, sinto­mas, emoções e transtornos diversos apresentados na clínica de regressão terapêutica.

Como esse campo de estudo é extremamente vasto e com­plexo, optamos por resumir os pontos principais em tópicos para a melhor apreciação dos leitores:

Porcentagem: Fiore conta que 70% dos seus pacientes so­friam de possessão e essa era a causa do problema. Se­gundo Ignácio Ferreira (1955), médico espírita brasileiro, mais de 50% das obsessões não são intencionais. O espí­rito muitas vezes deseja proteger a pessoa, ou ajuda-la a cumprir alguma tarefa. Mesmo sem notar, a possessão ocorre e prejudica a vítima.

Quantidade: Fiore coloca uma média de cinqüenta entida­des ou mais que estavam envolvendo seus pacientes sem que eles se dessem conta. [apesar deste número, é possí­vel que essas entidades não estivessem realizando a ob­sessão todas ao mesmo tempo, mas que cada uma esti­vesse ligada ao atendido por laços com origem em múlti­plas existências corpóreas].

Despersonalização: É constante a impressão do desapare­cimento ou encobrimento da personalidade usual dando espaço às possessões. “Quando há de fato muitas entidades presentes em uma pessoa, ela praticamente pode se despersonalizar e passar a levar uma vida condu­zida pela corrente das influenciações mentais” (livro: Re­gressão e Espiritualidade).

Espíritos presos à Terra: Fiore chamou esses espíritos de “presos à Terra”, por estarem no nível da crosta terrestre e terem fácil acesso aos encarnados. Eles permanecem no nível da Terra pelos mais variados motivos, desde desejo por “sexo ou pasta de amendoim”. “Com freqüência, incitam as pessoas vivas para que satisfaçam esses desejos” afirma Tendam (Cura Profunda).

Níveis de Possessão: Os graus de possessão e controle do encarnado variam de uma “leve influência” a estados de domínio quase completo, travando uma verdadeira luta pelo controle da pessoa, com “diálogos mentais, insultos e até ordens”, diz Fiore.

Transição inadequada: Os espíritos possessores eram, du­rante a vida, pessoas de várias ocupações diferentes, mas após a morte não haviam realizado a transição ade­quadamente e, pela ausência de um corpo físico, acaba­vam se fundindo com os encarnados, residindo no corpo de outros indivíduos por períodos curtos ou mais prolongados, adiando sua ida ao plano espiritual e atrasando sua evolu­ção.

Possessões Demoníacas: Fiore destaca que nunca tratou possessão por demônios, (seres devotados unicamente ao mal por natureza) mas apenas espíritos, ou indivíduos sem um corpo físico.

Pouco adiantamento espiritual: Quando as entidades en­contram-se no plano astral inferior, próximas ao plano da Terra e envolvem encarnados, para a satisfação de seus vícios e desejos, elas não fazem praticamente nenhum pro­gresso espiritual, ficando estacionadas em sua evolução. Fiore declara ainda que os espíritos presos à Terra ficam como que “congelados” ou fixados nos parâmetros da úl­tima vida. Eles tendem a repetir de forma estereotipada seus comportamentos de quando estavam encarnados. Tendam (1989) dá o exemplo de uma menina que não per­cebe que desencarnou num bombardeio e continua cha­mando pela sua mãe.

Ceticismo e Fanatismo religioso: Muitas pessoas céticas, que conservam fortes e arraigadas convicções pessoais da inexistência da vida após a morte, são muitas vezes inca­pazes de perceber seus entes queridos e guias espirituais quando vêm auxilia-los. Outros encontram-se num estado mental de extrema confusão, e por isso, não conseguiam perceber sua própria condição de ausência do corpo físico. Outros ainda, religiosos fervorosos, que acreditam em pe­nas eternas ou na beatitude do céu ao lado de Jesus, recu­sam-se a crer que morreram, caso contrário, deveriam estar ou no céu ou no inferno. Essas almas podem ir a certos lo­cais e iniciar processos obsessivos.

Espíritos presos a locais específicos: Podem ocorrer pos­sessões em casos de espíritos presos a locais específi­cos, como casas e propriedades que possuíam quando en­carnados. É comum acontecer de espíritos iniciarem um processo possessivo em pessoas que compram a sua an­tiga residência, onde a entidade morou durante a vida in­teira ou boa parte da vida. Geralmente os espíritos tratam os atuais proprietários como invasores (pois não sabem que morreram e continuam tratando a casa como se lhes pertencesse) e fazem de tudo para gerarem discórdia, confusão, bloqueios e sofrimento.

Possessão na infância: Algumas possessões podem se ini­ciar na infância e durar longos períodos de vida, ou mesmo a vida inteira de um encarnado. “Muitas crianças são obsedadas por entidades e manifestam raiva exces­siva, atitudes agressivas, choro compulsivo, dificuldades de relacionamento em decorrência de certa influência mistu­rada a tendências de outras vidas”. (Livro: Regressão e Es­piritualidade).

Possessão pela Aura: Segundo Fiore, nossa aura, ou campo de energias sutis do ser humano, deve vibrar em altas freqüências para não estar vulnerável a ação de espí­ritos presos à Terra. “A aura está para a dimensão emocio­nal, mental e espiritual de uma pessoa como o sistema de imunização está para o corpo físico” diz Fiore.

Possessão por medo de deixarem de existir: Alguns espí­ritos mantêm as possessões por medo de se perderem ou de deixarem de existir caso a possessão seja interrom­pida. O processo obsessivo acaba sendo um referencial para o espírito, uma base ou uma segurança. Os espíritos sentem a aura benéfica do encarnado e se atraem por afi­nidades de ideias e vibração. A energia do encarnado lhe proporciona segurança, conforto, energia e proteção.

Possessão no inconsciente: Entidades presas a Terra po­dem se ligar com os encarnados e mesclar-se aos seus conteúdos inconscientes, reforçando certos aspectos que desejamos ocultar de nós mesmos. Esse processo obses­sivo pode alimentar nossas tendências negativas, tocando certos núcleos traumáticos que passam a se generalizar e invadir nossa personalidade e comportamento. Muitos espí­ritos podem fazer isso intencionalmente; outros apenas se ligam por afinidade e invadem nossa aura. É comum que um espírito ative certo núcleo inconsciente, ou complexo, passe a misturar-se com ele e usar isso como forma de controle do encarnado. A despossessão não é suficiente nesse caso, deve-se recorrer ao tratamento desses núcleos inconscientes para escapar das obsessões. Como diz Ten­dam “Maus espíritos podem nos induzir a praticar más ações, mas somente podem fazer isso estimulando e apro­veitando um mau karma já presente” (Tendam, 1993). A TVP é um excelente meio para o tratamento dos núcleos inconscientes ativados por espíritos obsessores e na transmutação do mau karma.

Possessão por similaridade de ação: Algumas vezes atraímos espíritos cuja obra de vidas passadas foi semelhante a nossa. Por uma questão de sintonia, eles são atraídos para nossa aura e vice-versa. Por exemplo, se cometemos vários assassinatos numa vida passada, podemos atrair entidades de assassinos; se fomos pervertidos sexuais, podemos atrair entidades viciadas em sexo; se fomos suicidas, podemos atrair espíritos de suicidas, e assim por diante. Aqui verificamos a realidade pura e simples da lei da sintonia, onde semelhante atrai semelhante. Essa lei abrange muitos outros aspectos da vida universal.

Sintomas da Possessão

Sintomas físicos: doenças, dores, mal estar, náusea, dor na nuca, enjôo, arrepios, tontura, cansaço excessivo, es­tafa.

Problemas mentais: problemas de memória, desatenção, dissociação, falta de clareza, embotamento, parada do pensamento, confusão mental, ideias suicidas, despersona­lização, pesadelos recorrentes, alucinações auditivas e vi­suais.

Descontrole emocional: ansiedade, angústia, medo, irrita­ção, depressão, tristeza, choro sem causa aparente, impulsividade.

Inclinação às drogas: abuso de álcool, maconha, tabaco, drogas injetáveis, remédios.

Problemas com peso: Pelo estímulo à compulsão pela co­mida ou à perda de apetite, como obesidade, anorexia, bu­limia.

Problemas de relacionamento: timidez, fobia social, intro­versão, dificuldade de comunicação.

Problemas sexuais: falta ou excesso de desejo sexual.

Fechamento dos caminhos: tudo parece dar errado, oportu­nidades não aparecem, dificuldade de expressar nosso potencial.

Motivo da prisão no plano da Terra:

ü Não cumpriram seu roteiro kármico (proposta encarnatória).

ü Suicidaram-se e deixaram assuntos inacabados.

ü Possuíam extremo apego a Terra e aos desejos materiais.

ü Viciaram-se em álcool, fumo, comida, sexo, lazer, prazeres diversos.

ü Tinham medo de morrer e após o desencarne continuaram negando a morte.

ü Dificuldade de aceitarem que passaram pela transição e não têm mais corpo físico.

ü Morte súbita (os espíritos não tiveram tempo de perceber que morreram).

ü Ódio e vingança a algum desafeto.

ü Apego a entes queridos ou a pessoas próximas.

ü Ceticismo fortemente arraigado.

ü Morte após deficiências mentais ou transtornos psíquicos graves.

ü Associações, contratos, acordos, compromissos e/ou votos, com fraternidades negras (um mago permanece preso a uma egrégora que atua negativamente no plano físico e se mantém a ela associado após a morte).

Aspectos práticos da despossessão:

Nenhum perigo: Fiore argumenta que não há qualquer pe­rigo decorrente de uma despossessão. O máximo que pode ocorrer é o espírito ligado a Terra não deixar o encarnado e manter o mesmo mecanismo possessivo anterior, o que já acontecia. Ou seja, ou o espírito interrompe o processo ob­sessivo ou nada se modifica, não resultando daí, portanto, nenhum dano.

Não maltratar o espírito: As entidades desencarnadas es­tão enfermas, em estado confusional, doentes, sofrendo, sem energia e sem rumo, mesmo que neguem tudo isso. Dessa forma, eles podem também ser considerados como pacientes dentro da TVP. Assim, não se deve pensar em “chuta-los para fora”, “arrancá-los” do cliente, ou fazer nossa autoridade de terapeuta se sobrepor. A diferença entre o terapeuta e o exorcista é que o segundo tenta a todo custo expulsar o “ser maligno” de uma pessoa, en­quanto o primeiro reconhece no espírito uma subjetividade, um histórico de causa e efeito que o levou à situação de possessão. O terapeuta procura analisar os motivos de o espírito buscar a possessão e tratar a raiz do problema, e não simplesmente “retirar” o espírito da aura do cliente, até por que podem existir laços kármicos unindo a ambos. Qualquer ação negativa realizada pelo terapeuta contra o espírito implicará instantaneamente na geração de karma negativo.

Assistência religiosa de guias espirituais: Com entida­des aprisionadas à dogmas religiosos, pode-se invocar guias espirituais que se passam por líderes religiosos do credo do espírito.

Assistência para espíritos viciados: No caso de espíritos viciados em drogas, álcool etc, o terapeuta pode invocar espíritos de luz ou entes queridos que irão oferecer a droga ao espírito, para que deixe o encarnado. Após ser atraído, os espíritos de luz farão um tratamento com o espírito onde a droga lhe será dada em doses cada vez menores até o vício ser superado por completo. De qualquer forma, é in­dispensável que o possesso se abstenha integralmente do uso das drogas, para que não atraia outras entidades liga­das ao vício.

Identificar a causa da possessão: Bons terapeutas não se preocupam apenas em expulsar o espírito, mas em en­tender o motivo, o início e a permanência das ações obses­sivas. O terapeuta pode percorrer o histórico encarnatório do espírito e verificar em que momento e sob quais cir­cunstâncias ele se tornou um espírito preso a Terra. É pos­sível que exista alguma espécie de vínculo kármico entre obsessor e obsedado numa vida passada. O espírito pode cobrar do encarnado algum prejuízo que o atendido tenha lhe proporcionado numa vida passada.

Conscientização da morte: Muitos espíritos passaram pela transição e não sabem que morreram. Isso ocorre por diversos motivos. Sabendo disso, o terapeuta pode mostrar ao espírito o momento de seu desencarne. É possível fazer a alma reviver os instantes finais de sua existência e o mo­mento em que perdeu seu corpo físico. Isso pode ajudar na conscientização do espírito e ajuda-lo a reconhecer que morreu e precisa deixar o plano da Terra. Essa conscienti­zação da morte pode ser realizada pelo discurso objetivo ou através de técnicas que mostrem diretamente a realidade incorpórea da entidade. Para tanto, o terapeuta deve ser treinado em cursos de formação para a boa aplicação desse tipo de técnica.

Mostrando o local de tratamento no astral supe­rior: Como os espíritos têm receios e incertezas sobre seu futuro após a possessão, é possível minimizar esta ansie­dade através da técnica da visão direta do local de trata­mento que eles serão enviados no plano espiritual. Após a visão da harmonia desse lugar, das energias elevadas e benéficas, tal como a presença de entes queridos desen­carnados, o espírito sente-se mais tranqüilo e, em boa parte das vezes, aceita ser conduzido e tratado.

Conduzir à Luz: Na tradição budista tibetana se fala da “Clara Luz do Bardo”, uma luminescência divina que acolhe os espíritos e os faz sentir seu estado cósmico natural, sua fonte essencial de vida. O terapeuta pode orientar o espírito a unir-se com essa “Luz Clara”. Os espíritos que após a morte não se transformam em entidades presas a Terra se­guiram essa luz, que lhes serve como um farol indicando o rumo certo a tomar. Muitos mestres ou guias espirituais já conduzem os espíritos a essa luz infinita, mas o terapeuta também pode invoca-la na despossessão após todo o pro­cesso de conscientização do espírito.

Cuidados gerais:

Alguns procedimentos de despossessão ou desobsessão canalizam e concentram forças e energias diversas, atraem outras entidades e podem provocar alguns efeitos negativos no terapeuta, caso este não esteja devidamente preparado e não saiba o que está fazendo. Alguns terapeutas arrogantes podem se acreditar intocáveis e não dar o devido valor a certas coisas, como a sua terapia indivi­dual, a proteção pessoal originária de algum grupo, a realização de trabalhos de caridade desinteressada e o estudo relacionado a temá­ticas espirituais superiores, como a leitura das palavras dos sábios da humanidade e seu próprio desenvolvimento interior. Porém, estes elementos são fundamentais para que o terapeuta não se perca em seu trabalho ou até mesmo acabe adoecendo com o tempo devido à continuidade de procedimentos como a despossessão. Independente de o terapeuta ser médium ou sensitivo, as influências espirituais sobre ele podem ser sentidas de várias formas.

Autor: Hugo Lapa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário