sábado, 24 de janeiro de 2015

Vendedor Fernando César Faria que desapareceu em Guarapari foi morto por grupo de extermínio, diz polícia


23/01/2015 - 07h17 - Atualizado em 23/01/2015 - 07h23
Autor: Glacieri Carrareto | gcarraretto@redegazeta.com.br


Fernando César foi atraído a Guarapari pelo grupo, que usou um encontro com uma menina como isca


Foto: Arquivo Pessoal
O vendedor Fernando César Faria desapareceu no ano passado
Integrantes de um grupo de extermínio foram presos, nesta quinta-feira (22), acusados de matar um vendedor durante uma emboscada, em Guarapari. Uma proposta de sexo com uma adolescente foi a isca para os criminosos atraírem a vítima para a morte. 

A vítima, o vendedor Fernando César Faria, 45 anos, desapareceu no dia 23 de setembro, após sair de casa, em Vila Velha, para um suposto encontro com uma garota de 12 anos, em um sítio em Guarapari, local onde foi visto pela última vez com vida. A família denunciou o sumiço à polícia. Já nas primeiras apurações, a polícia descobriu que se tratava de um assassinato.

Em depoimento na delegacia, três dos quatro presos afirmaram ser ex-integrantes da Scuderie Detetive Le Cocq, um grupo de extermínio criado durante as décadas de 60 e 70 no Rio de Janeiro, com núcleos em outros estados, inclusive no Espírito Santo.
 
Foto: Marcos Fernandez
Antônio, Naumir e Edmilson são acusados de participar de grupo de extermínio igual à antiga Scuderie Le Cocq


“Durante as investigações, nós descobrimos que os suspeitos faziam parte de uma associação com conduta semelhante à Le Cocq. Três presos nesta operação fazem parte de um grupo de extermínio, ganham dinheiro para matar”, destacou José Lopes, delegado-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que realizou a operação para cumprir quatro mandados de prisão e oito mandados de busca e apreensão.

Prisões
 
Foto: Reprodução
Ricardo Nascimento Trindade está foragido
Estão na cadeia o ex-policial militar Edmilson Miranda, 57, o ex-servidor público municipal de Boa Esperança, Naumir Augusto, 54, e o eletricista Antônio Hélio Almeida Lana, o Coty, 44, e uma mulher que também foi usada na trama da morte do vendedor. As prisões aconteceram simultaneamente em três locais no Espírito Santo e um no interior de Minas Gerais. 
Antônio Hélio é apontado pela polícia como mandante do crime. Ele foi preso dentro de casa, na cidade mineira Resplendor.

A Polícia Civil ainda procura por Ricardo Nascimento Trindade, que possui mandado de prisão em aberto por envolvimento no crime.
 
A Scuderie 

A Scuderie Le Cocq foi fundada no Rio de Janeiro, na década de 60, com o objetivo de vingar a morte do detetive Milton Le Cocq. No Estado foi formada por, pelo menos, 800 associados, entre policiais, advogados, juízes e políticos. O grupo é acusado de assassinar pessoas e estaria envolvido em dezenas de crimes, como tráfico de drogas, jogo do bicho, roubo de carros e sonegação de impostos. 

Associados guardariam segredos "até a morte"

Segundo José Lopes, os presos e Ricardo, que está foragido, são membros da Associação dos Proprietários de Veículos Motorizados do Espírito Santo (Aprovem-ES). Durante a operação, policiais cumpriram mandado de busca na sede da associação, localizada no quarto andar de um prédio na Rua General Osório, no Centro, em Vitória. 

Foram recolhidas fichas de cerca de 200 filiados, atas de reuniões e cópias de estatutos. Entre os objetos que chamaram a atenção da polícia, estavam fichas de inscrições, timbrados com o símbolo da supostamente extinta Le Cocq, conhecida também como Esquadrão da Morte.

Entre os papéis recolhidos também está a cópia do juramento dos membros da Aprovem, que reforça em uma das linhas “guardar todos os segredos que me forem confiados, até a morte”.

“Os membros da Aprovem possuem um pacto de silêncio entre eles, se tratam como irmandade e até se chamam de caveira, características semelhantes à Le Cocq. O fato do corpo da vítima não ter sido encontrado é outro fato que se assemelha ao modos operandi desse grupo”, destacou Lopes. A Polícia Civil ainda vai apurar se Aprovem é a reativação da Scuderie Le Cocq.

Perfil falso em site para enganar vítima 

Foto: Marcos Fernandez
Breno Andrade e José Lopes coordenaram a operação
A morte de Fernando César foi um crime planejado em detalhes. Seduzido por uma proposta de sexo com uma adolescente, o vendedor foi atraído pelo grupo de assassinos para um sítio na zona rural de Guarapari. 

“Os suspeitos criaram um perfil falso, em um site de relacionamento, de uma adolescente e passaram a trocar mensagens com Fernando”, contou o delegado José Lopes.

O perfil era mantido por Ricardo Nascimento, que está sendo procurado. “Quando era necessário uma mulher falar ao telefone ou mensagem de voz, ele colocava uma garota de programa contratada para se passar pela suposta garota”, lembrou o delegado Breno Andrade, que participou da operação.

Depois de dois meses de conversa online, a suposta adolescente marcou um encontro íntimo em um sítio, onde residia Naumir Augusto, no interior de Guarapari.

“Os suspeitos contrataram um outra garota de programa para que ela fingisse ser amiga da falsa adolescente. Ela o levou até o sítio”, detalhou Andrade.

O delegado contou que cada garota de programa recebeu R$ 300 para participar do esquema, mas elas também teriam sido enganadas pelo grupo de extermínio.

“Os criminosos contaram às mulheres que eram policias e que Fernando seria um estuprador, por isso as convenceram a participar do esquema para prendê-lo e entregá-lo à delegacia”, completou Breno Andrade.

Dívida ou vingança causaram o crime 

Foto: Marcos Fernandez
Uma pistola foi apreendida com os presos na operação
Os falsos policiais – que a polícia aponta como sendo Edmilson e Naumir – renderam o vendedor na frente das duas garotas de programa e deram voz de prisão. “Eles disseram que o levariam para o DPJ de Guarapari. Mas ele nunca mais foi visto”, pontuou o delegado Breno Andrade. 

O celular de Fernando foi encontrado dias depois do crime em um trem, em Minas Gerais. Já o carro que ele usou para chegar ao sítio, um Kia Cerato de cor prata, foi localizado a poucos metros do sítio, abandonado.

Ricardo transportou as duas mulheres para Vila Velha e uma delas foi presa durante a operação.

Ontem, os policiais também realizaram buscas pelo corpo de Fernando. Uma retroescavadeira abriu cinco buracos no terreno do sítio onde o vendedor caiu na emboscada, mas nenhum vestígio do corpo foi encontrado. “Precisamos dar essa resposta para a família”, afirmou o delegado José Lopes, que pretende continuar as buscas. 

Sobre o que teria motivado o crime, o delegado explicou que ainda há várias possibilidades para o crime. “Ele era uma pessoa de vida sexual ativa e pode ter se envolvido com uma pessoa comprometida, por isso quiseram vingança. Outra possibilidade que verificamos é o fato dele praticar agiotagem e alguém que devia a ele ter encomendado a morte ao grupo de extermínio”, destacou Lopes.

Fernando não possuía passagens pela polícia aqui no Brasil. No entanto, ele foi deportado dos Estados Unidos, há cerca de um ano, após ter sido preso pelo crime de agiotagem na América do Norte.

Família prefere não falar sobre as investigações 

Após as informações da investigação mostrarem que o vendedor Fernando César Faria teria inimigos e problemas de relacionamentos amorosos – fatos que podem ter motivado o assassinato praticado pelo grupo de extermínio – a família da vítima preferiu não se pronunciar, antes de ter conhecimento total da todo o inquérito. 

Ao ser procurado pela reportagem, um tio do vendedor, que não quis ser identificado, disse que ficou sabendo da prisão dos acusados após assistir a uma reportagem na televisão e que não comentaria nada antes de conversar com o delegado que está à frente do caso.

“Amanhã eu vou até a delegacia conversar com ele e assim que obtiver mais informações eu posso falar alguma coisa”, comentou o tio.

Para a família, agora resta esperar que o corpo de Fernando seja encontrado.







Fonte: Notícia Agora

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