sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Moradores temem riscos que barragem de Riacho dos Machados pode trazer em caso de rompimento

Em caso de rompimento rejeito seguiria sentido à Barragem do Bico da Pedra — Foto: Google/Reprodução
Em caso de rompimento rejeito seguiria sentido à Barragem do Bico da Pedra — Foto: Google/Reprodução


Barragem de rejeitos do local, no Norte de Minas, acumula cerca de 65% da capacidade total; barragem é classificada como de baixo risco, mas com dano potencial alto.

Moradores no Norte de Minas Gerais estão preocupados com os possíveis riscos que a barragem da mineradora instalada na cidade de Riacho dos Machados e em Porteirinha pode trazer, caso ocorra um rompimento como os registrados em Mariana, em 2015, em Brumadinho no dia 25 deste mês.

A operação de mineração na cidade teve início no ano de 2013. A Mineração Riacho dos Machados Ltda, controlada por um grupo canadense, emprega 352 pessoas de forma direta e 438 terceirizados. No local é extraído ouro e, somente em 2018, foram beneficiadas 1.942.535 toneladas.

Dados da própria mineradora apontam que a barragem da empresa tem extensão de 75,8 hectares e capacidade de armazenamento de 9.646.166 m³, entre de água e rejeitos. Atualmente, estão armazenados 6.260.256 m³, cerca de 65% de sua capacidade.

Preocupação
A casa da aposentada Jesuíta Rodrigues Alves, que mora com o marido, filhos e netos, fica a cerca de dois quilômetros da barragem de contenção dos resíduos da extração do ouro. Ela, que mora no local há 80 anos, não esconde o medo de um desastre acontecer. "Tenho muito medo. De acordo com o que o povo vai falando a gente vai preocupando. Bate aquela dúvida. Se ela chegar a desabar, dizem que é dois minutos para tampar tudo. Então, uma pessoa igual a mim não sai do lugar".

Casa de Jesuíta Rodrigues fica a dois quilômetros da barragem — Foto: Juliana Peixoto/G1
Casa de Jesuíta Rodrigues fica a dois quilômetros da barragem — Foto: Juliana Peixoto/G1

Além da casa de Jesuíta Rodrigues, pelo menos 21 edificações, além da fauna e flora, de mata seca, estão na rota dos rejeitos. Em 2015, após a tragédia em Mariana, uma comissão foi montada para acompanhar os trabalhos desenvolvidos pela empresa. "Esta comissão tinha gente do Ministério Público, da empresa e dos sindicatos rurais. Sempre teve reuniões onde apresentavam os dados e os riscos que poderiam ocorrer", explica Custódio Camilo do Carmo, que faz parte do Conselho Municipal de Defesa e Conservação do Meio Ambiente de Montes Claros (Codema).

Construção
A barragem de rejeitos tem estrutura no formato a jusante - método no qual a barragem cresce sobre ela mesma, na direção da corrente dos resíduos, o que melhora a estabilidade da estrutura. Segundo a mineradora, a barragem de rejeitos, assim como a de água, é impermeabilizada.

Já a barragem que se rompeu no Córrego do Feijão, em Brumadinho, foi construída à montante - é o método mais barato e a barragem cresce por meio de degraus feitos com o próprio rejeito sobre o dique inicial. Este método de construção é bastante comum nas barragens de todo o país.

A gente sabe que o risco existe. Eles mesmos não garantem 100%. Dizem que não tem problema, que a barragem é segura, mas logo falam que pelos aspectos naturais tudo pode acontecer. Então não sabemos ao certo.

— Custódio do Carmo



Segundo dados Agência Nacional das Águas (ANA), devido à forma em que foi construída, a barragem de Riacho dos Machados é considerada de baixo risco. Porém, a ANA destaca que a barragem é de dano potencial alto. Isto significa que, caso a barragem se rompa, poderá causar mortes, destruição ambiental e material.

"Se acontecer algo assim o estrago é muito grande. Este resíduo desceria sentido aos rios e chegaria à Barragem do Rio Gorutuba, que é responsável pelo abastecimento de água de Janaúba e parte de Nova Porteirinha. Ainda, atingiria muitas famílias. Estamos fazendo levantamento para ver as consequências reais que poderia trazer", diz Custódio Camilo.


Cerca de 800 pessoas trabalham na mineração em Riacho dos Machados — Foto: Juliana Peixoto/G1
Cerca de 800 pessoas trabalham na mineração em Riacho dos Machados — Foto: Juliana Peixoto/G1

Da barragem até a cidade de Riacho dos Machados são cerca de 10 km, em linha reta; até Porteirinha, são 37 km. A Defesa Civil em Riacho dos Machados afirma que foram feitos dois treinamentos de evacuação da área com a população local. Segundo a Mineração Riacho dos Machados Ltda, as simulações envolveram o sistema de comunicação com sirenes, carros de som, sistema de rádio e de telefones cadastrados, evacuação da área, ponto de encontro e retirada de pessoal para área segura.


País tem quase 200 barragens de mineração com alto potencial de dano

Como funcionam as barragens de mineração — Foto: Karina Almeida e Alexandre Mauro/G1


https://g1.globo.com/mg/grande-minas/noticia/2019/01/31/moradores-temem-riscos-que-barragem-de-riacho-dos-machados-pode-trazer-em-caso-de-rompimento.ghtml



Por Juliana Peixoto e Valdivan Veloso, G1 Grande Minas

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