MEIA VOLTA, MANOEL!
NO 26 FEVEREIRO 2016.
Asfalto sobre paralelepípedos ameaça descaracterizar sítio tombado pelo patrimônio histórico em Januária
O Ministério Público em Januária voltou a sugerir ao prefeito do município, o petista Manoel Jorge de Castro, que suspenda as obras de capeamento com asfalto de algumas das centenárias ruas no centro da cidade, pavimentadas com os tradicionais paralelepípedos. É o segundo revés que o prefeito enfrenta na tentativa de terminar o mandato com entrega de alguma visibilidade para a população do centro da cidade. O Ministério Público voltou a agir após provocação (no bom sentido do termo) do vereador Pedro Osório (Rede Sustentabilidade), que cobra do prefeito
Desta vez, em ofício encaminhado ao gabinete do prefeito, o promotor Lucas Marques Trindade recomendou a manutenção das atuais condições do entorno dos prédios da Prefeitura Municipal e da Casa da Memória do Vale do São Francisco, que ficam lado a lado, e foram tombados pelo patrimônio histórico estadual.
O mel de coruja que Manoel Jorge promete realizar em algumas ruas de Januária é parte do esforço da administração para convencer a população que o petista merece ser reeleito para um novo mandato. Barato e de fácil execução, o capeamento asfáltico de ruas com alto fluxo de moradores passa a impressão ao distinto público de que a gestão anda a todo vapor – o que, no caso de Januária, está longe de ser verdadeiro, como sabe qualquer pessoa com algum grau de isenção em relação ao petismo.
No final do ano passado, o MP já havia recomendado ao prefeito que fosse mais devagar com o andor do capeamento, que a propaganda petista diz ser obra festejada pelo eleitor januarense. A pavimentação sobre pedra começa pela Avenida Marechal Deodoro, circunda o perímetro de acesso ao Paço Municipal e à Casa da Memória de Januária, ali na Praça Artur Bernardes, para depois seguir pela Avenida Padre Henrique até a altura do Mercado Municipal.
Asfalto não para
Manoel Jorge já mandou avisar que não pretende parar com o capeamento. No máximo, admite pular o entorno do Paço Municipal e da Casa da Memória – as duas manchas negras do betume ficariam a alguma distância prudencial da Praça Artur Bernardes. Segundo o chefe de gabinete e porta-voz do prefeito, Ilson Almeida Oliveira, o ex-vereador Ilsão do Pará, o município negocia com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) uma saída para o impasse.
A polêmica obra de Manoel Jorge acompanha o que seu colega Ramon Campos (PDT) fez em Itacarambi. O prefeito Ramon pegou empréstimo de R$ 3,5 milhões para praticamente fazer desaparecer o calçamento com pedras na cidade vizinha. Esse tipo de intervenção, contudo, é questionada por moradores das duas cidades. Entre outros motivos, porque promete aumentar o calor brutal do semiárido mineiro, especialmente no barranco do Rio São Francisco.
O vereador Pedro Osório também questiona a falta do projeto executivo que antecede a realização de toda obra pública, além da ausência de previsão em documentos de planejamento urbano (casos dos Estatuto das Cidades, Plano Diretor, Plano Plurianual e por aí vai). Esse projeto poderia indicar, por exemplo, a solução para a drenagem das vias que serão impermeabilizadas com a massa de asfalto.
A suspeita é que o mesmo solo arenoso que provoca alterações no piso de pedra venha a interferir na qualidade do asfalto. Até aqui, a Prefeitura de Januária prevê gastar R$ 430 mil de recursos públicos com o capeamento dos dois logradouros. A administração, ao que tudo parece indicar, não providenciou sequer o desejável estudo de impacto ambiental (EIA) para tocar a intervenção no centro antigo da cidade. Mesmo interpelado novamente pelo Ministério Público, o prefeito Manoel Jorge tem pressa. Por enquanto, o asfalto segue adiante.
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