Recentemente, a União Postal Universal divulgou um relatório com uma análise da situação do desenvolvimento postal em todo o mundo no ano de 2020. O relatório se mostra de extrema importância, devido ao papel desempenhado pelo setor postal, principalmente na promoção do desenvolvimento socioeconômico dos países que serviram de base para o estudo. A análise do relatório é baseada no Índice Integrado de Desenvolvimento Postal (2IPD), que se faz através de uma ampla gama de dados de serviços postais de um total de 170 países. A Suíça lidera a lista, seguida pela Áustria, Alemanha, Holanda e Japão. Todos os países com economias bastante sólidas, avançadas. O serviço postal brasileiro aparece com destaque no relatório e é o primeiro colocado entre os países da América Latina.
O relatório discute o considerável impacto da covid-19 no setor postal através das lentes do 2IPD. A análise revela que a confiabilidade da cadeia de abastecimento postal internacional foi restabelecida, após consideráveis interrupções logo no início da pandemia, em março de 2020. Mesmo assim, houve consequências, como uma rede postal menos conectada e abrangente do que antes do surgimento da covid-19.
Nos países mais avançados, os problemas da rede postal parecem resistir melhor ao choque econômico, mas entre os países em desenvolvimento, a batalha pela relevância do setor está ganhando velocidade.
O relatório confirma que o setor postal desempenha um papel importante na promoção do desenvolvimento socioeconômico. Com um serviço postal acessível, eficiente e universal, os serviços reduzem substancialmente os custos de transação entre os agentes econômicos, o que lhes garante acesso a uma vasta comunicação e infraestrutura de rede. O desenvolvimento postal pode ser definido na capacidade de desempenho postal de um país, envolvendo uma gama de fatores que possam vir a possibilitar o desenvolvimento socioeconômico de cada região. Sendo assim, as redes postais podem ser consideradas como de extrema importância se oferecerem um serviço confiável, com boa conectividade, além de um alto nível de demanda entre os cidadãos e as operações que são resistentes a choques externos.
O estudo foi construído levando em consideração quatro pilares:
– Confiabilidade, que reflete o desempenho em termos de velocidade e previsibilidade de entrega em todos os principais segmentos do correio físico (correio, encomenda postal e expresso);
– Conexão, que sintetiza a conectividade global, avaliando a amplitude e a profundidade da rede internacional dos operadores postais. Esses, por sinal, são medidos pelo número de parceiros, redes e os volumes de trocas, respectivamente, em todas os principais segmentos dos serviços postais físicos;
– Relevância, que mede a intensidade de demanda por todo o portfólio de serviços postais em relação aos melhores desempenhos em cada categoria da atividade postal, levando também em consideração elementos como o número de transações e o número de estações de correios;
– Resiliência, que indica o nível de diversificação dos fluxos de receita, bem como a capacidade de inovar e entregar serviços postais inclusivos.
O objetivo do pilar de confiabilidade é medir a eficiência operacional dos serviços postais, mostrando o grau em que são realizados de maneira oportuna e previsível. O pilar de alcance captura o nível de internacionalização dessas operações, demonstrando se os serviços postais no país em questão têm um alto nível de intercâmbios entre suas fronteiras.
Comparando o desenvolvimento postal em torno do globo O relatório distribuiu em quatro grupos:
– Campeões postais: pontuação acima de 60 mostra que o desenvolvimento postal de um país é entre os 20% melhores do mundo – um desempenho que pode ser considerado de muito bom a excelente. Este grupo de países pode ser denotado como tendo um desempenho bem equilibrado em todos os pilares do desenvolvimento postal.
– Bons desempenhos: uma pontuação entre 35 e 60 mostra um nível intermediário superior de atuação. Esses países são consistentes performers e pertencem aos 50% melhores.
– Potenciais desempenhos: pontuação entre 15 e 35 mostra um desempenho que é mais baixo do que a mediana, com países geralmente executando apenas parcialmente bem, embora com algum potencial de desenvolvimento. A maioria dos países neste grupo exibe fraquezas flagrantes em uma ou mais áreas de desenvolvimento postal.
– Operadores menos desenvolvidos: uma pontuação abaixo de 15 mostra que a correspondência de um país tem um o desenvolvimento é muito baixo. Esses países enfrentam grandes desafios em vários dos principais pilares do desenvolvimento postal.
Correios brasileiros em destaque no ranking No ranking geral, os Correios do Brasil aparecem entre as 50 melhores empresas de serviço postal do mundo. Já entre as empresas de serviço postal da América Latina, os Correios brasileiros estão em primeiro lugar. O estudo aponta, ainda, que os Correios do Brasil têm uma demanda bastante superior que a de outros países da América Latina, além de terem uma carteira diversificada de serviços como diferencial.
América Latina é uma das regiões com a situação mais desafiadora em termos de desenvolvimento postal. Embora a média das pontuações permaneça estável, os níveis alcançados apontam a necessidade de uma convergência mais forte para que seja alcançada uma média global. Se comparado com seu nível de desenvolvimento econômico, a região tem o pior desempenho relativo em todo o mundo, conforme mostrado no relatório.
Operadores postais nesta área geográfica estão, portanto, enfrentando desafios significativos, como pode-se observar pela média regional muito baixa: confiabilidade (23,45), alcance (21,14) e relevância (3,93).
O Brasil recuperou o primeiro lugar regional (45º lugar globalmente, um aumento de oito lugares), principalmente graças a melhorias na confiabilidade. Em contraste, muitos países da América Latina ainda estão ocupando os últimos lugares do ranking regional e global.
Os resultados trazidos pelo relatório da UPU indicam, portanto, que o correio brasileiro tem avançado positivamente, em contraste com outros indicadores socioeconômicos que seguiram caminho inverso e pioraram em 2020. Esse fato enseja reflexão da sociedade e do Congresso Nacional neste momento em que o governo federal tenta pautar a privatização dos Correios.
Se tudo no Brasil tivesse evoluído como ocorreu com o serviço postal, o país estaria muito melhor. Talvez seja o caso de os brasileiros passarem a ver o caso dos Correios como um exemplo de sucesso e não o contrário, como advogam alguns.
O Relatório da União Postal Universal está disponível, para ser baixado livremente, em:
https://www.upu.int/en/Publications/2IPD/Postal-Development-Report-2020.
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