JANAÚBA (por Oliveira Júnior*) – É de lascar mesmo. Os hospitais do Norte de Minas vivenciam atualmente uma das suas piores crises e a paralisação das atividades está por um triz. Engana-se quem pensa que a situação crítica seja apenas em Janaúba, onde os médicos que atendam no Hospital Regional anunciaram via rede social que estarão paralisando às suas atividades diante da falta de condições para trabalhar.
Recentemente o sistema de resgate e de saúde em Montes Claros entrou no colapso. Apesar das equipes médicas de prontidão e com as unidades móveis de atendimento, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ficou inerte por um motivo talvez simples. Não havia maca disponível nas ambulâncias do Samu. Cada veículo tem a sua própria maca que é para transportar vítimas acidentadas ou enfermas até uma unidade de saúde ou hospitalar.
O Samu em Montes Claros possui um lote de 36 macas. No entanto, dias atrás o serviço ficou sem nenhum desse imprescindível equipamento. Pasmem. Todas as macas do Samu de Montes Claros estavam ocupadas com pacientes em quartos e corredores dos hospitais dessa que é a maior e mais rica cidade do Norte de Minas. Situação desesperadora.
Se Montes Claros absorve a maior parte dos pacientes do Norte de Minas, Janaúba fica responsável em seus dois hospitais pelo atendimento a mais de 20 municípios, inclusive do estado da Bahia. Pela norma, a saúde é universal e diante disso não se posse recusar atendimento. Porém, os dois hospitais – um filantrópico e outro municipal – de Janaúba não são contemplados com recursos na medida que prestam o atendimento. Ao final do mês o saldo financeiro é negativo e assim ocorre sucessivamente até se tornar uma numerosa dívida, inclusive com o INSS, gerido pelo governo federal que, por sua vez, toma a providência em descontar imediatamente de qualquer recurso liberado pelas unidades hospitalares de Janaúba a parte que caberia à quitação junto ao INSS. E se dane os gestores dos hospitais de Janaúba em tentar fazer mágica com o pouco dinheiro ou até mesmo recorrer ao apoio da comunidade e dos fornecedores para garantir o funcionamento dos hospitais e contando com a dedicação e espírito humanitário dos seus funcionários, incluindo desde o pessoal da limpeza até os médicos.
Desde os anos 90, ou seja, há mais de 15 anos, o sistema hospitalar em Janaúba não consegue fechar as suas contas mensais. Ao final de cada mês a certeza tem sido marcante e real: dívida e mais dívida. O pronto socorro é o fiel da balança nesse quesito. No final dos anos 90 apenas o hospital da Fundajan funcionava em Janaúba e naquela época o setor do pronto socorro – onde se inicia o atendimento hospitalar – acumulava déficit de mais de R$ 25 mil por mês. Obviamente, com a instalação do Hospital Regional (que na verdade é municipal, pois apenas a Prefeitura de Janaúba é quem contribui), o atendimento no pronto socorro aumentou e também cresceu o déficit financeiro. E para a infelicidade, a cada momento o pronto socorro hospitalar em Janaúba vem sendo acionado.
Solução? Bom, acredito que há. Como é questão de senso humanitário, permanece o atendimento para salvar vidas. Quanto à conta...um momento. Ah, lembrei. Ainda é possível salvar o sistema hospitalar. A sugestão é que, no caso do sistema hospitalar de Janaúba, a comunidade esteja unida e sensibilize cada deputado estadual e deputado federal que, pelo menos, teve votação em Janaúba e nos demais municípios da região da Serra Geral de Minas a destinar parte da sua emenda parlamentar anual (o deputado federal conta com R$ 16 milhões, sendo que a metade tem que ser necessariamente na área de saúde) para socorrer o sistema hospitalar de Janaúba e também a área de saúde da região da Serra Geral de Minas e do Norte de Minas. Esperamos que essa proposta seja colocada em prática. Vamos aguardar. Enquanto isso, continuemos com o propósito em salvar vida. Amém!
*Jornalista em Janaúba
[2/9/2015, 10:05] +55 38 8815-1550: "Carta a Comunidade
Conforme assembléia geral dos médicos do Hospital Regional de Janaúba comunicamos que foi aprovada greve por tempo indeterminado como forma de demonstrar a insatisfação de toda a categoria com a atual situação da instituição que se encontra sem condições básicas para funcionamento. Há mais de cinco meses o laboratório do hospital foi desativado e o processo de contratação vem se arrastando sem perspectiva de conclusão, o que é inadmissível para o atendimento no pronto socorro, UTI e clínica médica. A falta de medicamentos tornou-se comum, sendo impossível realizar um cuidado adequado ao paciente. Os equipamentos do pronto socorro, UTI e bloco cirúrgico estão defasados e sem condições de uso. Durante os últimos meses a equipe de enfermagem foi reduzida de forma expressiva, sem novas contratações, comprometendo em muito a assistência. Além disso tudo o atraso salarial tem sido recorrente. Informamos ainda que todas essas reivindicações foram relatadas à diretoria e Secretaria Municipal de Saúde diversas vezes através de reuniões e ofícios e não houve solução. O intuito da greve é a melhoria da saúde, visto que um hospital que atende 16 municípios não pode funcionar colocando em risco a vida de seus pacientes."
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