Por Fernando Brito
Duas coisas parecem evidentes, com o recrudescimento das prisões da Operação Lava-Jato.
A primeira, é que – como se disse ontem – foi necessário dar manivela ao fole de uma investigação que, agora, deveria estar concentrada em tudo o que se apurou e nas responsabilidades de quem esteve envolvido.
A segunda é que o “inchaço” do PT, provocado pela chegada ao poder de Lula – como toda enchente, aliás – trouxe para ele uma maré de detritos neoliberais como os cidadãos presos hoje.
Para não parecer escrito sob encomenda depois dos fatos, traço a imagem de Delcídio Amaral – inimigo da Petrobras desde sempre, quando se filiou ao PSDB para ocupar um cargo de direção na empresa – e ajudado por escritos alheios, já de algum tempo.
“(…) “Uma coisa o Delcídio tem de entender: O PT deu tudo o que ele tem na política, que é o mandato de senador”, comentou o deputado federal Vander Loubet. O PT foi buscá-lo para os seus quadros depois de ele encontrar as portas fechadas no PFL, no PMDB e PSDB. E quando tentou sair do PT para concorrer ao Governo do Estado nas eleições de 2006 pelo PSDB, Delcídio foi vetado pela senadora Marisa Serrano, a maior estrela do partido em Mato Grosso do Sul. Rejeitado pelos grandes partidos, o único que escancarou as portas para a sua entrada foi o PT. Delcídio, na época imaginava estar filiado ao PSDB e depois descobriu que a sua ficha não tinha sido encaminhada à Justiça Eleitoral.
Na dura disputa eleitoral com grandes lideranças políticas do Estado, Delcídio saiu da lanterninha com apoio da militância do PT e de amigos para conquistar o Senado, derrotando surpreendentemente o mito da política estadual, ex-governador Pedro Pedrossian. “Hoje, Delcídio despreza a militância e jogou todos os amigos para fora”, comentou um petista, que preferiu o anonimato para não atrapalhar o esforço de mais uma tentativa de reaproximação do senador com o ex-governador José Orcírio dos Santos. (Correio do Estado, MS, 25/1/2011)
Sobre André Esteves, não é preciso ir tão longe. A coluna de Monica Bergamo de 2 de abril de 2014 mostra a quem ele apoiava e promovia: Aécio Neves.
A história rocambolesca de negociação de dinheiro e fuga que teriam mantido com o ex-diretor Nestor Cerveró mostra o espetáculo de intrigas, chantagens e baixeza em que acusados e acusadores estão metidos na Lava-Jato.
Delcídio, sobretudo, foi uma figura que o PT absorveu e integrou e, agora, paga por ele.
É um dos preços da política, o que vem com a maré montante e o que se vai com a vazante. Neste caso, diretamente pelo ralo.
O Dr. Sérgio Moro, sem querer, vai ajudando a tirar do PT a “tucanidade” que se entranhou nele.
Delcídio dizia poder influenciar Gilmar
Luis Nassif
1. As operações não fazem parte da Lava Jato. Surgiram em função da tentativa de Delcídio do Amaral e André Esteves, do Pactual, em subornar Nestor Cerveró. O filho de Cerveró denunciou a tentativa ao Procurador Geral da República que encaminhou a denúncia à Polícia Federal, que conseguiu autorização do STF para monitorar o telefone de Delcídio.
2. Curiosamente, nas fases iniciais não se encontraram maiores evidências de participação de Delcídio – apesar de suas notórias ligações com esquemas na Petrobras – e Esteves.
3. Nas gravações, Delcídio garante a Cerveró poder influenciar o Ministro Gilmar Mendes, do STF, através do peemedebistas Renan Calheiros e Michel Temer. Em qualquer tema mais político, surge a figura indefectível de Gilmar.
4. Por seu lado, Esteves garantiu uma mesada de R$ 50 mil à família de Cerveró e apoio na sua fuga, através do Paraguai.
5. Esteves tem pendências no CARF. Na época conseguiu calar a mídia. Será curioso acompanhar a cobertura da sua prisão pelos jornalões.
GENRO SOBRE PRISÃO: OU É A SOLIDEZ OU É O FIM DO ESTADO DE DIREITO
Líder petista e ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro defendeu nesta manhã que as provas que embasaram a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), em pleno exercício do mandato, sejam divulgadas para dar "tranquilidade a toda a sociedade e aos partidos que está fortalecido o Estado de Direito"; "Prisão de Senador em pleno exercício das suas funções delegadas: ou é a solidez ou é o fim do Estado de Direito. Vamos ver com que provas", escreveu, em sua conta no Twitter
25 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 09:23
A prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), em pleno exercício do mandato, foi uma "decisão muito grave, que não deve ser tratada com precipitação ou comparada a qualquer medida anterior, que tenha sido feita contra o PT", avaliou nesta manhã o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro.
Influente liderança petista, Genro defendeu que as provas que embasaram a prisão de Delcídio – acusado pela Polícia Federal de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato ao dificultar a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró – sejam divulgadas.
"Prisão de Senador em pleno exercício das suas funções delegadas: ou é a solidez ou é o fim do Estado de Direito. Vamos ver com que provas. Entendo que o Supremo para preservar a sua autoridade e neutralidade formal tem obrigação de divulgar as provas que embasaram a prisão", escreveu Tarso Genro, em sua conta no Twitter.
"A divulgação das provas dará tranquilidade a toda a sociedade e aos partidos que está fortalecido o Estado de Direito. Ou não?", perguntou o petista.
Genro sugeriu ainda à direção do PT, "que antes de falar, veja as provas para definir-se. Ninguém tomaria decisão como essa sem um mínimo de elementos. É decisão muito grave, que não deve ser tratada com precipitação ou comparada a qualquer medida anterior, que tenha sido feita contra o PT".
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