segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Contra a corrupção, três horas de bicicleta e de Fortaleza - Centenas de ciclistas percorreram Fortaleza, na 4ª pedalada anual contra a corrupção. Repórter do O POVO acompanhou o trajeto, refletindo sobre o tema e percebendo uma nova relação entre a cidade e as bicicletas

FOTO EVILÁZIO BEZERRA

Com quantas pedaladas se constrói uma sociedade mais honesta? Feita assim de repente, a pergunta leva a uma série de divagações, todas muito pouco conclusivas. Tentando encontrar esta e outras respostas, me escalei para acompanhar a 4ª Pedalada anual Contra a Corrupção – que teve início às 7h de ontem e percorreu mais de 23km em protesto contra o “descalabro”.

Como não podia deixar de ser, a missão começou cedo. Pelas 6h30min, diversos ciclistas já se aglomeravam na sede da Coelce, ponto de partida do percurso, no José Bonifácio. A preparação foi organizada, rápida e fácil: com cinco minutos, já tinha em mãos a camiseta oficial do evento e a bicicleta que guiaria pelo trajeto. Tudo grátis e aberto ao público.

Após me alongar e deixar meu “não” contra a corrupção no mural do evento, iniciei peregrinação ao Lago Jacarey – sim, foi um percurso longo. Em todo o caminho, o locutor do carro de som nos lembrava que a corrupção tem mil faces. “Se você suborna um agente de trânsito para não receber multa, isso é corrupção”. “É isso aí!”, endossava mentalmente.

“Se você fura a fila ou deixar alguém furar, isso é corrupção também”. “Vixe”, pensei envergonhado, lembrando dos amigos e paqueras que “cortei caminho” em longas filas. “A pequena corrupção é base que sustenta a grande corrupção”, me punia, altivo, o locutor. Constrangido, fitei o chão e pensei no perrengue que teriam passado pessoas cujos espaços rifei indiretamente.

A ação acabou focada na conscientização de cada um – sem gritos de “fora Dilma” ou disparates raivosos contra partido A ou partido B. Bacana. Mesmo não sendo dos mais ativos fisicamente – meus domingos tem mais a ver com galeto de padaria e cerveja gelada –, fiquei um pouco incomodado apenas com a marcha lenta no início do evento. Mas é isso, a corrupção não será eliminada de uma vez só.

No longo percurso, onde cada ladeira era quimera comparável a uma maleta de propina, fui percebendo uma tendência. Mais do que preocupados com deputados ou novo escândalo na Petrobras, ciclistas se reconheciam de pedaladas pregressas, conversavam e riam entre si. Novos laços de amizade e com a cidade sobre duas rodas deixam claro que, ao menos nisso, Fortaleza tem mudado bastante. Para melhor.(Carlos Mazza - carlosmazza@opovo.com.br)

SOBRE DUAS RODAS

23 km contra a corrupção
1) Grupo percorreu boa parte da extensão da avenida Antônio Sales, ocupando a faixa da esquerda 2) Saindo da Coelce por volta das 7h, o percurso se encerrou por volta das 10h30min, também na sede empresa 3) Pausa para descansar e beber água ocorreu no Lago Jacarey, próximo ao bairro Cidade dos Funcionários.

Bastidores

O evento ocorreu em alusão ao Dia Internacional de Combate à Corrupção, que ocorreu no último dia 9 de dezembro.

O ato foi organizado pela Coelce e pela Endesa Fortaleza, contando com o apoio institucional da Controladoria Geral da União (CGU) e do Ministério Público do Estado do Ceará e apoio técnico da Sport & Bike.

Ao final do trajeto, foram sorteadas ainda três bicicletas novas entre os participantes. Incentivo certo para a participação de novos eventos do tipo. 

A equipe organizadora demonstrou competência e familiaridade com esse tipo de evento. Todo o percurso transcorreu sem quaisquer problemas, com apoio técnico e mobilização da Autarquia Municipal de Trânsito para “segurar” o fluxo de veículos nas vias que estavam no trajeto feito pelos ciclistas.

Entre participantes do evento, muitos se reconheciam de outros passeios de bicicleta. Algumas pessoas comentavam que este tipo de evento já se consolidou como rotina para o fim de semana fortalezense.

Bastante cansado após o fim do percurso, finalmente entendi o que a presidente Dilma quis dizer com o combate à corrupção não sobrar “pedra sobre pedra”. Muitos de meus companheiros, no entanto, se diziam com pique para outra maratona.

Além de protestar contra a corrupção e mobilizar a sociedade, o evento ajudará a Lar Amigo de Jesus com latas de leite em pó, doadas pelos participantes do passeio ciclístico.

A instituição beneficiada, que existe desde 1987 em Fortaleza, abriga crianças e adolescentes com câncer do Ceará e vindas de outros estados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário