Tramoia nos vestibulares
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- Publicado em Segunda, 08 Dezembro 2014 10:22
Operação com agentes infiltrados flagra pela terceira vez em um ano quadrilha especializada neste tipo de crime no estado, com ramificações em outros estados
Pela terceira vez em um ano a polícia desbarata uma quadrilha especializada em fraudar vestibulares de medicina em Minas e outros estados, em um golpe que garante uma vida de luxo e ostentação para muitos de seus organizadores. Após informações sobre o vazamento das repostas da prova na Universidade de Uberaba (Uniube), no Triângulo Mineiro, investigadores se passaram por fiscais no Câmpus Aeroporto e conseguiram flagrar sete candidatos que receberam em celulares o gabarito do exame. Quatro homens e três mulheres, com idades entre 19 e 30 anos, todos de famílias de classe média alta, foram detidos no sábado e confessaram ter negociado as respostas pelo valor individual de R$ 50 mil, pagando 20%, ou R$ 10 mil, em sinal para os golpistas. A polícia já sabe que por trás do esquema, que apenas nos casos flagrados renderia R$ 350 mil, está uma quadrilha de São Paulo, que alicia candidatos nas portas de cursinhos, atuando em pelo menos três estados – Minas, São Paulo e Paraná – e no Distrito Federal.
A Polícia Civil informa já ter identificado quem é o “piloto” que foi recrutado para fazer o exame e repassar as questões, mas a identidade dele é mantida em sigilo, para não atrapalhar as investigações. O falso candidato que forneceu as respostas da prova é um estudante do curso de medicina, que foi aprovado no vestibular com notas altas, o que teria despertado o interesse da quadrilha. Os investigadores chegaram ao nome do universitário por meio do número do celular dele, que ficou registrado nos aparelhos apreendidos com sete candidatos detidos. Resta agora identificar os responsáveis pela fraude, que cobram entre R$ 50 mil e R$ 200 mil para fornecer gabaritos de cursos de medicina.
No esquema descoberto na Universidade de Uberaba, o delegado Luiz Tortamano, da 3ª Delegacia da Polícia Civil da cidade, disse ter recebido informações, na quinta-feira, não apenas sobre o esquema de vazamento do gabarito, mas também sobre as pessoas que teriam pagado pelas respostas e as salas em que prestariam o exame. Tortamano e a delegada Amanda Milliê da Silva Alves mobilizaram uma equipe com cerca de 20 investigadores e montaram o planejamento para abordagem dos suspeitos. No sábado, os policiais procuraram a coordenadora da Comissão Permanente de Processos Seletivos (Copese) da Uniube, a professora Marilene Ribeiro, que contribuiu com a operação fornecendo coletes e crachás para que os policiais se disfarçassem de fiscais e atuassem nas salas em que as provas eram aplicadas.
“Na denúncia, foi informado que o gabarito seria enviado via SMS, às 18h de sábado, para celulares dos candidatos. Exatamente no horário, os sete suspeitos que estavam sendo monitorados pediram para ir ao banheiro”, contou Tortamano. Segundo ele, os suspeitos haviam escondido os aparelhos e foram surpreendidos enquanto faziam a consulta. “Houve muita choradeira, mas a maioria confessou ter negociado o gabarito para conseguir passar no processo seletivo”, disse o delegado.
Detidos
Os candidatos foram encaminhados à delegacia e autuados em flagrante por fraude em certame de interesse público. Segundo o delegado Luiz Tortamano, todos foram ouvidos e liberados após o pagamento de fiança, estipulada individualmente em R$ 5 mil. Os quatro homens, dois deles irmãos, e as três mulheres são dos municípios de Tabatinga (SP), Aparecida do Taboado (MS), Itápolis (SP), Conceição das Pedras (MG), Umuarama (PR) e Sud Mennucci (SP).
A professora Marilene Ribeiro explicou que a Uniube toma uma série de cuidados para evitar fraudes, entre eles a instalação de detectores de metais, para tentar impedir a entrada de celulares. “A gente se cerca de todos os cuidados, pois sabemos que essas fraudes vêm ocorrendo em todo o Brasil e não é de agora, principalmente nos vestibulares de medicina, que são bem concorridos”, afirmou Marilene. Para o processo seletivo do curso de medicina da Uniube, foram inscritos 2 mil candidatos. Os vestibulandos concorreram a 50 cadeiras, com média de 45 inscritos por vaga.
A receita do golpe
Como funcionava o novo esquema estourado pela polícia para venda de gabaritos para faculdades de medicina
A quadrilha
- Especializada em fraudar vestibulares de medicina, a quadrilha procura cursinhos para o público de classe média alta, oferecendo aos alunos uma vaga em universidades
- O valor cobrado pelo gabarito das provas varia entre R$ 50 mil e R$ 200 mil, de acordo com a instituição, privada ou pública
- O interessado tem que pagar um sinal de 20% da quantia negociada. O restante é pago após aprovação
- A prova é feita por um piloto, normalmente um estudante de medicina, aprovado com nota alta no vestibular. Recrutado pelos golpistas, recebe entre R$ 50 mil e R$ 100 mil
- O valor cobrado pelo gabarito das provas varia entre R$ 50 mil e R$ 200 mil, de acordo com a instituição, privada ou pública
- O interessado tem que pagar um sinal de 20% da quantia negociada. O restante é pago após aprovação
- A prova é feita por um piloto, normalmente um estudante de medicina, aprovado com nota alta no vestibular. Recrutado pelos golpistas, recebe entre R$ 50 mil e R$ 100 mil
A fraude
- O piloto se inscreve para o processo seletivo na mesma universidade dos candidatos que pagaram pelo gabarito
- O integrante do esquema faz a prova e deixa a sala de aula uma hora antes do prazo final
- De fora do câmpus, as respostas são enviadas via SMS (mensagem de texto) para celulares de candidatos, previamente escondidos nos banheiros de locais de prova
- Faltando pouco para o fim do exame, os candidatos que contrataram o golpe pedem para ir ao banheiro e seguem para o box onde deixaram os celulares, para consultar o gabarito
- Os candidatos retornam para a sala de aula e terminam a prova
- Com aprovação, eles quitam o restante do valor negociado com a quadrilha
- O integrante do esquema faz a prova e deixa a sala de aula uma hora antes do prazo final
- De fora do câmpus, as respostas são enviadas via SMS (mensagem de texto) para celulares de candidatos, previamente escondidos nos banheiros de locais de prova
- Faltando pouco para o fim do exame, os candidatos que contrataram o golpe pedem para ir ao banheiro e seguem para o box onde deixaram os celulares, para consultar o gabarito
- Os candidatos retornam para a sala de aula e terminam a prova
- Com aprovação, eles quitam o restante do valor negociado com a quadrilha
Prontuário
Confira o histórico de fraudes contra processos seletivos identificadas em Minas em um ano
Dezembro de 2013
21 pessoas são presas sob acusação de distribuir respostas por celulares em vestibulares de faculdades de medicina do Vale do Rio Doce e também no Rio de Janeiro. As investigações foram comandadas pela Polícia Civil de Caratinga. Hoje, 20 réus respondem ao processo na Justiça em liberdade.
Outubro de 2014
Durante o trabalho da Polícia Civil foram descobertos indícios de fraude no Enem de 2013. O caso foi repassado à Polícia Federal, que confirmou a fraude e indiciou 17 pessoas pelo crime, sendo três membros da quadrilha e 14 estudantes que fizeram as provas. O inquérito está em fase final de conclusão.
Novembro de 2014
Polícia Civil e Ministério Público derrubam outra quadrilha, cujos integrantes ostentavam vida de luxo graças aos golpes. O esquema sofisticado usava até celulares disfarçados sob a forma de cartões magnéticos. O grupo foi flagrado durante vestibular da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte. Além de oferecer gabaritos de faculdades paulistas e mineiras, o grupo é acusado de nova fraude no Enem, dessa vez com suspeita de envio de respostas para cinco estados.
Trinta e três pessoas foram levadas à delegacia, sendo 11 presas como integrantes da quadrilha, incluindo um policial civil. Outro membro do grupo foi preso posteriormente, em Montes Claros. Vinte e dois estudantes também foram levados à delegacia, 18 dos quais flagrados com pontos eletrônicos.
Estado de Minas
Será que tem dedo de Ruy?
Não custa lembrar que em 1997, Montes Claros foi manchete nos jornais e teve o vestibular da Unimontes ameaçado, por causa do atual prefeito Ruy Muniz, que era o mentor da fraude e diretor do cursinho indyu, “Eu acho que essa atitude não é de um educador”, desabafou na época o saudoso prof. Antônio Jorge, que presidia a comissão de vestibular da Universidade Estadual de Montes Claros, referindo-se ao proprietário do curso Indyu, Ruy Muniz, de cuja biografia consta prisão, processo e condenação de desviar dinheiro do Banco do Brasil.
Na ocasião Ruy Muniz utilizou também a emissora de televisão Geraes, para divulgar o gabarito das provas.
Na ocasião Ruy Muniz utilizou também a emissora de televisão Geraes, para divulgar o gabarito das provas.
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