terça-feira, 2 de junho de 2020

Capitão Enéas MG. Técnica de enfermagem morre após atender paciente com Covid-19 'Morreu fazendo o que amava'




Técnica de enfermagem morreu aos 55 anos — Foto: Arquivo pessoal

Maria Elza Oliveira Andrade trabalhava há mais de 35 anos na Santa Casa de Capitão Enéas e morreu nessa segunda-feira (1). Colegas relataram que a técnica amava a profissão e não quis se afastar mesmo sendo hipertensa.

Uma técnica de enfermagem do interior de Minas morreu, aos 55 anos, por Covid-19. Maria Elza Oliveira Andrade estava internada desde o dia 22 de maio em um hospital de Montes Claros e faleceu no início da noite dessa segunda-feira (1).

Ela trabalhava há mais de 35 anos na Santa Casa do município de Capitão Enéas e apresentou sintomas da doença após atender uma paciente que testou positivo. A Prefeitura decretou luto oficial nesta terça-feira (2).

Bila, como era popularmente conhecida na cidade com pouco mais de 14 mil habitantes, amava a profissão e estava sempre pronta para servir o próximo, conforme relato dos colegas.


“Ela era caridosa, brincalhona e muito alegre. Uma profissional exemplar que morreu fazendo o que amava. Todos gostavam dela no hospital, foi uma grande perda para o município”, disse o ex-diretor da unidade, Gilson Farias dos Santos, que trabalhou durante três anos com a técnica.
“Estou aqui para servir, fiz um juramento e vou cumprir”. Essas foram as palavras ditas pela técnica de enfermagem ao ser orientada para se afastar nesse período da pandemia porque era hipertensa e estava no grupo de risco.

“Falei várias vezes que a doença era perigosa, mas Bila queria continuar cuidando dos pacientes. Ela deixou um vazio enorme no hospital, era nosso ponto de referência aqui. Uma pessoa amável e carinhosa com todos”, contou Joilma Veloso e Silva, funcionária do setor administrativo há 30 anos.


Amigos fizeram uma carreata na entrada da cidade para se despedirem da técnica de enfermagem — Foto: Arquivo pessoal

O corpo da profissional foi enterrado de Capitão Enéas na manhã desta terça-feira (2). Moradores se reuniram na entrada da cidade para acompanhar o cortejo até o cemitério e prestar a última homenagem. Ela era casada e tinha três filhos adultos.

Último plantão
A enfermeira Mara Fagundes sempre fazia os plantões com Bila e relata que a última vez que as duas trabalharam juntas, a profissional estava com dor no corpo e febre.

“Nós nem imaginávamos que fosse coronavírus, falei várias vezes para ela ir embora, mas se recusou e cumpriu todo o plantão. Nesse dia, ela estava muito calada e quase não conversou. Essa foi a última vez que nos encontramos”.



Na foto, Bila aparece com a enfermeira Mara e outros colegas de trabalho — Foto: Arquivo pessoal

O plantão foi no início do mês de maio e a profissional foi internada na UTI em Montes Claros no dia 22. A enfermeira conta que antes de apresentar os sintomas, as duas atenderam uma paciente com suspeita da doença, que posteriormente, testou positivo.

“A paciente estava com sintomas gripais, febre e falta de ar. Primeiro, ela passou por mim na triagem, depois foi atendida pelo médico e medicada por Bila. Nós seguimos o protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde e usávamos máscaras”. Ela também apresentou febre e falta de ar, e colheu material para exame. O resultado ainda não foi divulgado e a enfermeira permanece em isolamento domiciliar.

Mara se formou em enfermagem em 2012 e o primeiro emprego foi na Santa Casa, onde foi recebida por Bila há cerca de quatro anos. Ela se emocionou e não conteve as lágrimas ao falar da colega, que se tornou uma 'mãezona'.

“Ela era a funcionária mais antiga e me ensinou tudo, era a mãezona de todo mundo. Foi muito importante na minha carreira e todos que passaram pelo hospital. Bila amava a profissão e cuidava do hospital como se fosse da casa dela”.



Por Marina Pereira, G1 Grande Minas




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