quinta-feira, 17 de abril de 2014

'Mulheres dizem não a Bruno no Mocão', diz cartaz de campanha Iniciativa está sendo promovida pelo Levante Popular da Juventude. Presidente Montes Claros FC diz que não vai rescindir contrato.

Cartazes espalhados pelo Centro de Montes Claros (Foto: Michelly Oda / G1)


O Movimento Levante Popular da Juventude realiza em Montes Claros (MG) uma campanha contra a vinda do goleiro Bruno para a cidade. Nas ruas do Centro é possível ver diversos cartazes com os dizeres “levante-se contra o machismo” e “as mulheres dizem não a Bruno no Mocão”.
O goleiro tem um contrato assinado com o time local, o Montes Claros Futebol Clube, que atualmente disputa o Módulo II do Campeonato Mineiro. Nesta terça-feira (15), os advogados que defendem Bruno, preso em Contagem, entregaram à Secretaria de Estado de Defesa Social um reforço do pedido de transferência do detento para a cidade do Norte de Minas Gerais, para que o jogador pudesse atuar pelo time.
O juiz da Vara de Execuções Penais de Montes Claros, Francisco Lacerda Figueiredo, disse que recebeu o pedido de troca de um detento pelo goleiro Bruno, mas já respondeu que não concorda com a permuta.

Marta Gravi, uma das organizadoras do movimento, encara a vinda do atleta como uma agressão às mulheres da região.

“A vinda do goleiro contribui para a naturalização da violência contra a mulher, que na nossa sociedade é vista como algo naturalmente aceito. A presença dele também contribui para que as agressões se perpetuem e continuem a ser vivenciadas no dia a dia”, diz.

O Levante Popular da Juventude está presente em todo o Brasil e foi fundado em 2011, mesmo ano em que passou a existir em Montes Claros. O movimento tem um setor que lida diretamente com a violência contra a mulher.

“Antes do caso da Eliza Samúdio, o Bruno estava no auge, ele se tornou uma referência como goleiro. As pessoas de Montes Claros enxergam a oportunidade de ter uma atleta desse porte em um time local e acabam aceitando, mas esquecem do crime que ele cometeu”, diz outra organizadora da campanha, Mariana Dupin.
A União Popular de Mulheres (UPM), outra entidade feminista que lida com casos de agressão, também apoia o movimento.
“A morte de Elzia Samúdio poderia ser apenas mais, mas não foi pelos contornos de brutalidade com os quais ela foi morta. O agressor não pode desfrutar de nenhum benefício. Não tiro o mérito da profissão dele, mas as pessoas não podem olhar somente por esse lado”, diz Mariza Cantídio.
Mariza conta que a UPM tem o papel de ajudar as mulheres a procurarem por ajuda especializada. Por mês são atendidos 30 casos de agressões física, verbal e psicológica contra mulheres.
A opinião das mulheres nas ruas
O G1 ouviu algumas mulheres nas ruas de Montes Claros, a diarista Alessandra Ferreira se posiciona contra a vinda de Bruno para a cidade. “O que ele fez foi uma covardia, fico com a sensação de insegurança, pelo fato de ser mulher e de ele ter matado uma mulher.”

A estudante Nívea Aparecida da Silva acredita ser errado que o goleiro tenha privilégios. "Se fosse uma pessoa comum, sem fama e dinheiro, continuaria preso, sem a possibilidade de transferência e sem o direito de sair trabalhar.”
Tatiane Santos também não concorda com a transferência do goleiro. “Me sinto incomodada com a possibilidade dele mudar para cá e também tenho um sentimento muito ruim pelo o que ele fez.”
Ville Mocellin (Foto: Cida Santana/globoesporte.com)
Ville Mocellin, presidente do Montes Claros FC diz
que não rescindirá contrato com goleiro Bruno
(Foto: Cida Santana / G1)
Montes Claros FC não rescindirá contrato
O presidente do Montes Claros Futebol Clube, Ville Mocellin, chegou a afirmar que pretendia rescindir o contrato com o goleiro Bruno, mas no fim da manhã desta quarta-feira (16) elereafirmou o compromisso do clube em manter o contrato com o atleta.

Ville disse que “quer dar um oportunidade ao jogador, mas as pessoas não conseguem entender essa intenção". Ele também afirmou tem sofrido pressão por parte de torcedores e moradores da cidade.
O presidente do time norte-mineiro afirmou que vai conversar com o advogado do goleiro Bruno ainda nesta quarta-feira (16).

O que diz a Lei
O juiz aposentado Cantídio Dias de Freitas esclarece que a permuta entre detentos de diferentes unidades prisionais pode ocorrer desde que exista um entendimento em comum entre os juízes que podem autorizar a mudança de local.

O magistrado também esclarece que é preciso avaliar também a situação do presidiário, levando-se em consideração, por exemplo, a proximidade dele com a família e a vontade de que a  transferência ocorra.
Condenação tira goleiro Bruno do Boa Esporte. (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
Bruno foi condenado a 22 anos de prisão.
(Foto: Renata Caldeira / TJMG)
O caso
Eliza desapareceu em 2010 e seu corpo nunca foi achado. Ela tinha 25 anos e era mãe do filho recém-nascido do goleiro Bruno, de quem foi amante. Na época, o jogador era titular do Flamengo e não reconhecia a paternidade.

Em março de 2013, Bruno foi considerado culpado pelo homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado da jovem. A ex-mulher do atleta, Dayanne Rodrigues, foi julgada na mesma ocasião, mas foi inocentada pelo conselho de sentença. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, já haviam sido condenados em novembro de 2012.
O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi condenado a 22 anos de prisão. O último júri do caso foi realizado em agosto e condendenou Elenilson da Silva e Wemerson Marques – o Coxinha – por sequestro e cárcere privado do filho da ex-amante do goleiro. Elenilson foi condenado a 3 anos em regime aberto e Wemerson a dois anos e meio também em regime aberto.

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