sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ex-presidente de oscip investigada na Operação Esopo em BH é preso - Deivson Vidal foi detido por fraude envolvendo helicóptero apreendido. Ele é um dos investigados no caso de desvio de recursos públicos.


Deivson é um dos investigados no caso de desvio
de recursos. (Foto: Reprodução/Polícia Federal)

O ex-presidente da Oscip Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), Deivson Oliveira Vidal, foi preso na manhã desta quinta-feira (11), em sua casa em Nova Lima, pela Polícia Federal(PF), por suspeita de fraude. A informação foi confirmada pelo advogado dele, Sérgio Leonardo. Vidal é um dos envolvidos na investigação que culminou na Operação Esopo.

A operação PF foi realizada em 9 de setembro do ano passado. Mais de 20 pessoas foram detidas no país, sendo 15 em Minas Gerais. Em cinco anos, o prejuízo aos cofres públicos ultrapassou R$ 400 milhões, de acordo com as investigações. Segundo a Polícia Federal, o esquema crimonoso funcionava com a participação de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e de empresas, pessoas físicas, agentes públicos, prefeituras, governos estaduais e ministérios do governo federal.
Na prisão desta quinta-feira (11), Deivson é suspeito de uma fraude, envolvendo um helicóptero que foi apreendido após a Operação Esopo e estava sob responsabilidade da Justiça. Segundo a Polícia Federal, além de Deivson Vidal, um médico e dois advogados são suspeitos de envolvimento no esquema que possibilitou o uso da aeronave. De acordo com a PF, ainda há a suspeita que Deivson pretendia deixar o país.

Operação Escape
A fraude envolvendo o helicóptero começou a ser investigada há cerca de dois meses e culminou na deflagração da Operação Escape na manhã desta quinta-feira (11). De acordo com o chefe da Delegacia de Combate de Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos, Mário Veloso, a Polícia Federal recebeu uma informação de que a aeronave não estava no hangar na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para onde foi levado depois de ser apreendido no ano passado.

Segundo a PF, Deivson Vidal havia comprado o helicóptero de um médico, morador da Zona Sul de Belo Horizonte, pelo valor de R$ 405 mil, mas havia pago apenas parte das cinco parcelas. Veloso afirmou que, agindo de má fé, o primeiro proprietário da aeronave entrou com uma ação na Justiça estadual.  “O médico entrou com a ação na 16ª Vara Civil da Justiça, não informando para o juiz que esse helicóptero, pesava sobre ele um ônus de sequestro determinado pela Justiça Federal”, explicou.

De posse da decisão da Justiça, o médico conseguiu reaver o helicóptero, que era registrado em nome da empresa Newpar Participações Ltda., também pertencente a Deivson Vidal, conforme a polícia. As investigações apontam que, depois disso, a aeronave foi negociada mais três vezes. Atualmente, de acordo com o delegado, a polícia busca o paradeiro deste helicóptero, que estaria no estado de Mato Grosso, sendo utilizado para passeios, a cada meia hora, ao custo de R$ 50. "Há uma documentação da empresa responsável pela fabricação que a aeronavegabilidade dessa aeronave está comprometida, ou seja, ela não tem condições mecânicas de voar, causando para qualquer pessoa que esteja voando dentro dela", acrescentou.

Galões de combustível foram encontrados na casa de médico suspeito de fraude (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
Galões de combustível foram encontrados na casa
de médico suspeito de fraude
(Foto: Divulgação/Polícia Federal)
Na manhã desta quinta-feira, a PF esteve na casa de Vidal, em um condomínio de luxo de Nova Lima, na Região Metropolitana, e na casa do médico, em um bairro nobre da capital, onde foram encontrados galões de combustível. Por causa do armazenamento irregular, que configura crime ambiental, o homem, contra o qual havia um mandado de condução coercitiva, foi preso em flagrante. Conforme Veloso, ele prestou depoimento, mas foi liberado depois de pagar fiança de R$ 100 mil.

Já o ex-presidente do IMDC foi preso preventivamente. Segundo as investigações, ele pretendia fugir para os Estados Unidos, onde moram alguns parentes. Na casa de Vidal, a polícia apreendeu cerca de R$ 12 mil em dinheiro, o passaporte e documentação que seria usada para tentar conseguir o Green Card, que garantiria a permanência em território americano.

Veloso informou que Vidal já havia obtido visto de turismo e de trabalho nos Estados Unidos. Diante dos indícios, conforme o delegado, o ex-presidente da Oscip alegou que pretendia passear. Segundo ele, um dos motivos para a fuga do país seria o fato de o investigado, que costumava esbanjar sua riqueza, estar em dificuldades financeiras.

Contra Deivson Vidal, a PF já instaurou 11 inquéritos, de acordo com o delegado. Pelos crimes apurados na Operação Escape, ele vai responder por fraude processual, estelionato, alienação fraudulenta, perigo para a vida de outrem e atentado contra a segurança de transporte aéreo. Somadas, as penas podem chegar a 19 anos. O médico também foi indiciado por esses crimes.

Outras pessoas também foram investigadas pela Operação Escape – dois advogados do médico e um dos empresários que compraram o helicóptero. Um dos defensores foi levado para a Polícia Federal para prestar depoimento e foi liberado; a outra advogada não foi encontrada. Eles devem responder por fraude processual. Segundo Veloso, o empresário é tratado, por ora, como vítima.

De acordo com o advogado Sérgio Leonardo, Vidal é inocente, e não usou a aeronave, que foi apreendida no ano passado. Segundo o defensor, o antigo dono do helicóptero pediu à Justiça reintegração de posse depois da apreensão, uma vez que Vidal não concluiu o pagamento da aeronave. O advogado ainda disse à reportagem do G1 que a prisão de seu cliente foi arbitrária e injusta. Vidal já prestou depoimento à Polícia Federal e seria encaminhado à Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ainda nesta quinta-feira (11). A defesa do médico não foi localizada.
Deivson chegou a ficar preso por 19 dias, em setembro do ano passado e foi libertado por umhabeas corpus. Outras cinco pessoas relacionadas à oscip também foram presas à época, e soltas alguns dias depois. O instituto perdeu todos os contratos que possuia após as denúncias de 2013 e foi fechado. O advogado de Vidal disse que ele está trabalhando na iniciativa privada, mas não revelou detalhes.

De acordo com Mário Veloso, o principal inquérito da Operação Esopo deve ser encaminhado à Justiça nos próximos 30 dias. Ainda segundo ele, as atividades mantidas por Deivson Vidal durante o período de um ano entre as operações estão sendo investigadas, mas as informações são sigilosas.

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