O que pode ser dito sobre a teoria das chamadas “almas gêmeas”, ou seja, metades eternas que vivem se procurando e que somente se completam após se encontrar e viver conjuntamente, uma complementando a outra?
Não é preciso ir muito longe para constatar o absurdo de tal ideia. Há muita ilusão e sentimentalismo em torno da noção de almas gêmeas, por isso, devemos buscar a visão correta e demonstrar ao público a verdadeira natureza desse laço íntimo que une os seres espirituais.
Se existissem almas como metades eternas, nenhuma alma seria, por si e em si mesma, uma manifestação inteligente e perfeita de Deus. Essas almas seriam incompletas em sua essência e apenas poderiam se completar na dependência uma da outra. Imagine se uma delas optar em seguir um caminho equivocado, conduzindo-a ao sofrimento, e a outra resolvesse seguir uma via construtiva, baseada em uma vida de sabedoria e caridade? A alma que optou pela via elevada permaneceria incapacitada de evoluir sem a sua “metade eterna”, pois algo a faltaria; ela estaria carente de sua outra metade, e isso seria suficiente para inviabilizar seu progresso. Isso tornaria uma alma submetida a outra, e tiraria a responsabilidade por sua própria evolução e pela criação do seu destino.
Para que esse ponto fique mais claro, podemos dar um exemplo: uma alma resolve seguir uma via de caridade, e para tanto ela se empenha em realizar trabalhos humanitários em instituições filantrópicas. A outra alma, resolve se envolver com drogas e se torna viciada. Começa a roubar e cometer ilícitos para satisfazer seu vício. Essas duas almas jamais seriam compatíveis, e por esse motivo, a alma que escolheu seguir o caminho das drogas, dos furtos e de uma vida degradante jamais poderia conviver pacificamente com a alma caridosa. Por outro lado, a alma caridosa teria que aguardar que a outra alma se libertasse dos vícios para que elas pudessem ficar juntas e, assim, evoluir conjuntamente. As leis divinas não seriam injustas a ponto de tornar uma alma vinculada a outra de forma que esse laço impedisse sua evolução. A noção de almas gêmeas como “metades eternas” que precisam estar juntas e que se completam até a eternidade não se harmoniza com a ideia da responsabilidade que cada pessoa deve ter em criar o seu destino e evoluir por meio de suas próprias experiências.
Qual seria então a forma correta de se compreender a natureza das almas gêmeas?
As almas gêmeas devem ser encaradas como almas com as quais tivemos muitas e muitas vidas juntos; passamos por centenas de experiências com aquela mesma pessoa, e dentro desse contexto, um laço íntimo e universal foi sendo criado a partir da vivência conjunta. Para tanto, é necessário que vida após vida as duas almas convivam juntas, errando, caindo, sofrendo e aprendendo, uma fazendo mal a outra; uma perdoando a outra, ambas vivendo a trama dos opostos e isso vai construindo um sentimento de amor universal, que em vidas futuras se expressa como a forma mais pura de amor.
É preciso dizer que, nesse sentido, as almas gêmeas não seriam “metades eternas”, que se separaram na eternidade e daqui pra frente se buscam e se completam eternamente. As almas gêmeas percorreram a roda da vida, convivendo juntas e passando por toda sorte de experiências positivas e negativas, até que se criou uma afeição entre elas, e essa atração se manifesta em múltiplas formas em várias existências.
Por outro lado, as almas gêmeas possuem uma natural afinidade de pensamentos, sentimentos e modos de ser. Elas possuem muita sintonia, uma vibração bem próxima, que se harmoniza muito bem uma com a outra. Por esse motivo, elas se atraem com naturalidade e automaticamente, e o fazem para viver experiências e aperfeiçoar-se em conjunto. Como uma possui uma bagagem espiritual de experiências muito semelhante a outra, elas passam a ser muito importantes na evolução de ambas, e isso gera uma abertura maior para o seu desenvolvimento espiritual.
Assim, podemos dizer que são almas que estão ligadas umas as outras por um vínculo kármico, de causa e efeito, seja positivo ou negativo, que viveram dezenas ou mesmo centenas de existências corpóreas uma ao lado do outra (não necessariamente a vida inteira, mas ao menos uma pequena parcela da vida). Esses são seres que se amam com amor puro e incondicional e optam em estar juntos. Podemos chama-los de parceiros evolutivos, almas afins ou espíritos simpáticos, como muitos os chamam.
Do ponto de vista das leis naturais, uma alma afim pode separar-se da outra caso uma deseje evoluir e a outra não. A evolução de uma alma não deve, em hipótese alguma, ficar presa e esperando a outra. Até por que, se fosse assim, uma não poderia ajudar a outra, já que ficaria irremediavelmente vinculada e nada poderia aprender ao distanciar-se da alma que se recusa a avançar. Por outro lado, algumas almas afins podem separar-se quando o débito kármico que elas possuem uma com a outra for cumprido.
Autor: Hugo Lapa
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